Dois mercados municipais históricos da capital mineira estão perto de serem privatizados. Um consórcio composto por cinco empresas foi o único a participar, anteontem, da licitação aberta pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) para concessão, por 25 anos, do Mercado Distrital de Santa Tereza, na região Leste, e da Feira Coberta do Padre Eustáquio (Fecope), na região Noroeste. A proposta do grupo foi validada, segundo a PBH, e só falta agora a aprovação dos documentos para que o contrato seja homologado.
A recuperação dos mercados é aguardada pela população há décadas; já a privatização é vista com temor por alguns feirantes. O Mercado Distrital de Santa Tereza, criado em 1974, está desativado há 13 anos e funciona apenas eventualmente. Já a Fecobe, que existe desde os anos de 1950, está com restrições no atendimento devido à pandemia do novo coronavírus, mas, mesmo antes, o espaço estava sendo subaproveitado, segundo moradores.
Proposta
O consórcio que se interessou em administrar os mercados é formado pelas empresas Uai Infraestrutura e Mais Investe (ambas do Grupo Uai), Fundação Doimo, Conata e Infracon. O CEO do Grupo Uai, Elias Tergilene, disse que foi oferecido o pagamento de R$ 305 mil por ano ao município durante todo o período da administração privada.
“A gente quer transformar os mercados em locais de convívio para as famílias. Queremos resgatar a origem e a identidade desses espaços, oferecer arte, cultura e entregar à população o que foi projetado há anos”, afirmou Elias Tergilene.
Além de administrar e garantir a manutenção, o vencedor da licitação ficará responsável por revitalizar os espaços, além de construir centros culturais nos dois locais. O valor das obras é estimado em R$ 13 milhões.
Feirante no Padre Eustáquio há cinco anos, o aposentado Tony Carlos Braga, 64, teme que a privatização onere os custos dele para manter o estande de artesanato. “A administradora vai ter que pagar mais de R$ 300 mil para a prefeitura, mas acho que todo mundo lá junto não consegue arrecadar nem R$ 40 mil. Tenho medo que eles aumentem o preço do nosso aluguel e a gente tenha que sair”, disse Braga.
Saiba mais
Resposta. Sobre o temor do feirante com a concessão, o Grupo Uai informou que tudo vai ser feito na base do diálogo, “a mil mãos”.
Prazo. A PBH informou que o resultado final da licitação deve ser divulgado em breve.
Novas licitações. Um novo edital que prevê a concessão do Mercado Distrital do Cruzeiro, na região Centro-Sul da capital, e da Central de Abastecimento Municipal, na região Nordeste, também vai ser publicado em breve, segundo a prefeitura.
População vai cobrar qualidade
Para moradores do Santa Tereza e do Padre Eustáquio, a expectativa é que a concessão possa fomentar o comércio de produtos e serviços de pequenos produtores e artesãos mineiros. “A gente espera que, se o consórcio for aprovado, que ele priorize a venda de alimentos de qualidade e respeite as características do espaço e do bairro, que já é tão tradicional para a cidade”, afirmou o presidente da Associação Comunitária do Bairro Santa Tereza (ACBTS), Pedro Barros.
Morador do bairro Padre Eustáquio, Pablo Catão, 37, também espera que a Fecobe volte a ser o espaço que ele frequentava na infância. “A feira estava sempre cheia de feirantes e quase não tinha lugar para estacionar aos domingos. Agora, nos últimos anos, isso não acontece mais. O espaço está desgastado”, comentou Catão.