Um ato em homenagem às vítimas do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, na região metropolitana, emocionou os cerca de 15 mil fiéis que lotaram as arquibancadas do Mineirinho, na Pampulha, nesta quinta-feira (18), para a Missa da Unidade. Realizada tradicionalmente na quinta-feira santa, a celebração prega a renovação da comunhão e o olhar em Cristo.
De acordo com o arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, o momento é de luto.
“Nós chegamos para a Missa da Unidade enlutados por causa de Brumadinho, de tragédias e desastres, da violência que cresce e do desamparo dos pobres. Mas esse luto há de se transformar pela luz da fé num novo caminho, e é por isso que estamos aqui na unidade", afirmou. "Precisamos de uma grande força para lutarmos e construirmos um mundo novo à luz da fé, nos valores do Evangelho de Jesus Cristo”, completou.
O padre Renê Lopes, pároco da Paróquia São Sebastião, de Brumadinho, ressaltou a importância da homenagem: “Marca a singularidade de cada família e de cada vítima, ao dizer que esse povo está no coração da Igreja, nas nossas orações. Está presente em cada capela e igreja da arquidiocese a lembrança das famílias e das vítimas da tragédia”.
A homenagem ocorreu ao final da celebração, com uma apresentação de dança realizada por mais 40 jovens da Paróquia Dom Bosco, na região Noroeste da capital. Primeiro, eles exibiram uma coreografia para a música "Pátria Minas", de Marcus Viana, e, depois, dançaram "Lamento", canção composta pelo bispo auxiliar dom Vicente Ferreira dedicada às vítimas de Brumadinho.
A coreografia mostra as pessoas sendo engolidas pela lama e ressurgindo em seguida, com terço nas mãos. "O que traz a força para as pessoas é a oração, a fé, por isso o terço na mão de todos. Foi a oração que tirou as pessoas da lama e vai reerguer a comunidade", disse o coordenador de teatro e dança da paróquia, Marcos Aurélio.
Segundo o bispo auxiliar dom Vicente Ferreira, o rompimento da barragem é uma "situação criminosa, e a Igreja Católica tem o papel de lutar por justiça. "(O papel) é a caridade e o consolo espiritual, mas também a exigência de justiça e a profecia de que isso não pode acontecer mais. Precisamos construir uma sociedade mais justa e solidária", pontuou.
Até esta quinta-feira, foram confirmadas 231 mortes provocadas pela tragédia, e outras 46 pessoas continuavam desaparecidas.
Missa da Unidade
A celebração contou com a presença de representantes das quase 300 paróquias da Arquidiocese de Belo Horizonte, que seguiram para o Mineirinho nas tradicionais caravanas organizadas pelas comunidades.
Na Missa da Unidade, os padres renovam os votos sacerdotais e celebram o sacramento da Eucaristia. Há, também, a bênção dos óleos utilizados pelas paróquias na celebração dos sacramentos do batismo, da crisma e da unção dos enfermos.
"Estamos num contexto da nossa sociedade brasileira, lamentavelmente, com muitas polarizações e disputas e com falta de sabedoria. A Missa da Unidade, ao proclamar a palavra, nos dá a oportunidade de fortalecer nossa comunhão e nos abrirmos ao amor de Deus. É fundamental, porque, nos abrindo ao amor de Deus, brota em nós sabedoria que não vem dos livros", disse dom Walmor.
A dificuldade de andar não impediu a pensionista Ana Luiza Amorim, de 71 anos, da paróquia de Todos os Santos, na região Norte da capital, de participar da celebração. “Já tem mais de 20 anos que eu venho. Eu me sinto bem. Tenho muito respeito pela Semana Santa, por tudo que Cristo passou”, diz.
A doméstica Renilde Moura Vieira, 37, levou a filha Maria Luiza de dois meses para assistir à missa pela primeira vez. "Eu participo da Missa da Unidade desde criança, minha mãe sempre me trouxe, e acho que a criança tem que aprender desde cedo. Essa missa é maravilhosa".