Saúde mental

Moradores se queixam de mulher com transtornos mentais no Santa Tereza

Mulher teria sido atacada por ela em igreja do bairro

Por Pedro Ferreira
Publicado em 31 de outubro de 2019 | 22:37
 
 
 
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O assassinato de uma menina de 5 anos a facadas por um homem com esquizofrenia, na quarta-feira, em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, aumentou o desespero dos moradores do bairro Santa Tereza, na região Leste da capital, em relação a uma mulher com problemas mentais, e com trajetória de rua, que vem agredindo fisicamente as pessoas.

No dia anterior ao ataque em Betim, uma reportagem de TV contou o drama de uma costureira atacada pela mulher durante uma missa na Igreja de Santa Tereza e de Santa Terezinha, na praça Duque de Caxias, a poucos metros do 16º Batalhão da PM. A vítima, uma costureira de 53 anos, foi parar no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS).

“Estava no início da missa. Eu cheguei para cumprimentar as pessoas e eu nem vi a mulher. Não sei a motivação. Ela projetou o corpo dela, deu uma corridinha e me jogou como se fosse um futebol americano. Eu bati com toda força na porta. Por isso, fiquei com muita dor na coluna e precisei ser internada”, contou a vítima, que pediu para não ser identificada.

Várias outras pessoas já foram atacadas pela mulher, que, além de problemas mentais, é usuária de drogas. “Ela por não ser responsabilizada pelos atos dela e está cada dia mais agressiva. Ataca um número maior de pessoas”, denuncia a costureira.

Para a vítima, se não houver uma providência pode haver uma tragédia como a que aconteceu em Betim. “Ela é levada para o Cersan pela policia. Lá, eles dão medicamento e ela volta. Meia-hora depois, ela está no bairro de novo”, conta a costureira. Ela disse estar traumatizada e que não consegue mais sair pelas ruas do Santa Tereza.

“Estou aguardando que aconteça alguma coisa, ela ser medicada, para que a gente possa transitar com tranquilidade de novo”, comentou. “Estou com muito medo, mesmo. Não fui mais à missa depois disso e estou quietinha no meu canto”, comentou a costureira, que disse ter ficado uma semana acamada, gastando com medicamentos e sem poder trabalhar, por causa da agressão que sofreu sem merecer, segundo ela.

Uma outra moradora do bairro, que se identificou por Edna,  também está assustada. “Ela (a agressora) está causando medo à população. Acho que as autoridades têm que tomar uma medida mais séria antes que aconteça uma coisa pior”, disse.

A aposentada Wilma Costa, de 70 anos, conta que também está com medo. “Acho ela muito agressiva. Acho realmente que as autoridades têm que tomar uma atitude. A gente mora ao lado do quartel. A qualquer hora ela pode nos agredir, sim”, reagiu.

A mulher suspeita de agressão disse que não oferece risco à população. “Não ofereço risco, não. A minha vida sempre foi assim. Baixei a cabeça muitas vezes, apanhei muito na vida e desde pequena a minha história não é fácil. De uns tempos para cá, as circunstâncias me trouxeram aqui, estar na rua, mas, isso aí, realmente, é um problema social. O meu mundo é o Santa Tereza, onde eu nasci e fui criada. E o mundo está se refletindo aqui porque antes a gente andava 4h da manhã, e se eu não tinha amizade, eu abaixava a cabeça e ia para o meu lugar e voltava para casa. Hoje em dia, não. É só homens me atacando, piadas. E quando eu era pequena, eu me lembro muito bem, como era a armação de tudo. Então, me trata como eu te trato. E que tenham medo mesmo de mim porque eu sou justiceira mesma”, disse a mulher. 

A suspeita de agressão disse ter problemas de saúde, toma medicamentos e admite usar drogas. 

“Uso sim, sou usuária, mas nada justifica. Eu não ofereço risco para ninguém. Não quero colocar a culpa na droga. Eu posso estar bêbada, transloucada, posso bater a minha cabeça na parede, ter sido acusada de estupradora, posso ter os meus problemas na minha casa, mas eu não trago os problemas da minha casa para a rua. Eu seguro comigo e não quero que a rua me traga mais problemas do que eu tenho. Agora,  eu ofereço risco, sim, quando me batem”, reagiu a mulher.

O 16º Batalhão da PM do bairro Santa Tereza informou por nota que atua por iniciativa ou mediante acionamento pela comunidade. Disse que no caso de pessoas com transtornos mentais, que possam estar causando algum tipo de importunação à comunidade, a PM as encaminham ao Cersan, Centro de Referência em Saúde Mental.

Ainda de acordo com a nota, geralmente um familiar é o responsável legal pela pessoa que sofre de algum tipo de transtorno mental, “cabendo a este, portanto, a responsabilidade pelos cuidados inerentes à pessoa, inclusive responsabilidade jurídica e civil caso haja inércia no acautelamento desta pessoa com transtornos mentais”, diz a nota.

A reportagem procurou um dos filhos da mulher, de 22 anos, que pediu para não ser identificado. Ele disse que não tem vínculo com a mãe e que já tentou fazer de tudo por ela até quando ele tinha 17 anos de idade. Disse que toda a  família chegou à conclusão de que ela não quer ser ajudada.

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