'Um herói'

Motorista vítima da chuva tinha hábitos simples e planejava se casar

Ranur Carneiro, de 28 anos, tinha planos de se casar com a namorada e estava trabalhando na construção de uma casa para os dois

Por Michelyne Kubitschek
Publicado em 07 de dezembro de 2018 | 14:11
 
 
 
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Os tijolos erguidos na casa em construção pelo motorista da van escolar, que morreu nesta quinta-feira (6) após ter o veículo atingido por uma árvore no bairro São Pedro, região Centro-Sul da capital, não vão abrigar os sonhos que Ranur Pierre da Silva Carneiro, 28, idealizou com a namorada, com quem se casaria no próximo ano.

O jovem de origem simples, perdeu os pais aos cinco anos de idade e foi criado pela avó paterna, no bairro Alpes, na região Oeste da capital. No local, mais de 30 parentes se acomodavam em 11 imóveis construídos no lote da família. "Ele queria crescer na vida. Fez bicos, trabalhou como limpador de vidros e, há dois anos, tentava a vida levando essas crianças para a aula. Agora, tudo acabou", lamentou Albânio Carneiro, 58, tio da vítima. "Todos os sonhos dele acabaram ali dentro (do IML). A história do meu sobrinho acabou. Era um menino bom, queria se casar com a namorada e estava até fazendo a casinha deles já", contou.

Em 2016, o jovem pediu conta do emprego de limpador de vidros no Tribunal de Justiça de Minas Gerais para tentar uma vaga no transporte escolar. Sem esconder a emoção, Carneiro revelou, enquanto aguardava a liberação do corpo do sobrinho no Instituto Médico Legal (IML), que motivou o jovem a conseguir a habilitação de categoria D, necessária para dirigir veículos como o que o rapaz estava no momento do acidente. "Eu dei uma moral para ele, e esse menino me pagou cada centavo que emprestei para pagar a autoescola", lembrou.

O rapaz, de hábitos simples, morava com a avó paterna. "A sorte é que ela morreu ano passado, porque se ela passasse por isso, ela iria junto. Era muito grudado na avó", contou o tio.

O último contato do parente com o motorista aconteceu minutos antes do acidente. O jovem deixou a casa da família por volta das 16h desta quinta-feira, levou a noiva a um curso, na região da Savassi e, de lá, buscou os alunos que transportava na Escola da Serra. "Pediu minha benção e saiu. A última coisa que eu disse a ele foi "Deus te abençoe". Umas 17h30, já com o temporal caindo, ele agarrou no trânsito da Nossa Senhora do Carmo e aí tudo aconteceu", disse o tio, emocionado.

Quando parentes chegaram ao local do acidente, o motorista estava sem vida, segundo Carneiro, mas, militares que atenderam à ocorrência teriam revelado ao parente que o jovem pedia aos policiais que as crianças fossem salvas. "Foi um herói. O PM disse que ele falava: "tira os meninos, tira eles". Se a van não tivesse sido atingida, iria pegar em outros carros que estavam lá e mais gente, talvez, teria tido o mesmo fim dele", reflete.

enterro, segundo parentes, será neste sábado (8), às 11h, no Cemitério da Paz, na região Noroeste da capital. O horário ainda não foi definido.

Familiares fazem apelo

Amparada por parentes, a única irmã do motorista  preferiu não falar com a imprensa. Uma prima da jovem cobrou providências da prefeitura. "Mais uma pessoa morreu. E aí? Tem que fiscalizar essa cidade direito. Quantas famílias mais vão ter que vir aqui para ver os parentes mortos?", disse em anonimato.

Aumento nas fiscalizações também foi o pedido de Washington Patino, 31, primo do motorista. "Prefeitura, olhe essas árvores da cidade. As melhorias na cidade são para todos, por favor". Depois que morre, todo mundo é bom. Mas não é o caso. Não tinha ninguém que não gostasse desse menino". 

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