O número de homossexuais mortos no Brasil aumentou 27% em 2012 em relação ao ano anterior. Um estudo realizado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) mostrou que 338 gays foram assassinados no país em 2012 contra 266 mortes em 2011.
O doutor em antropologia e fundador de GGB, Luiz Mott, acredita que esses números se devem a quatro principais questões: aumento normal da violência no país, crescimento da violência contra gays, ausência de políticas públicas direcionadas a essa minoria e a inexistência de legislação específica que criminalize a homofobia.
“Um ´LGBT` é violentamente assassinado a cada 26 horas no Brasil. Essa violência ficou fora do controle do governo federal e dos governos estaduais. É preciso que haja uma lei que equipare a homofobia ao racismo”, analisa.
Julgamento
Nesta terça-feira, um julgamento histórico será realizado no Fórum Lafayette, no Barro Preto, região Centro-Sul de Belo Horizonte. Os réus Ricardo Athayde Vasconcelos, de 58 anos, e seu filho, Diego Rodrigues, de 30, serão julgados pela morte do ator e bailarino gay Igor Leonardo Xavier, que foi morto dias antes de completar 30 anos, em março de 2002. Segundo as investigações, um dos acusados matou o bailarino porque teria "horror a homossexuais".
O julgamento dos réus Ricardo Athayde Vasconcelos, de 58 anos, e de seu filho, Diego Rodrigues, 30, acontece a partir desta terça-feira (27), no Fórum Lafayatte, na região Centro-Sul da capital mineira.
Crime
A vítima foi assassinada há 11 anos, em Montes Claros, na região Norte de Minas Gerais. As investigações mostraram que Igor se encontrou com Ricardo em um bar. Durante a conversa, o suposto assassino se disse apoiador da arte e convidou o jovem para ir até a sua casa.
Lá, ele teria ficado revoltado ao ver a vítima assediando seu filho. Por isso, ele pegou uma pistola e um revólver calibre 38 e disparou cinco vezes contra o jovem. Um dos tiros atingiu a nuca de Igor.
Após o crime, os suspeitos fugiram com a ajuda do irmão de Ricardo. O corpo foi encontrado, no dia seguinte, em uma estrada vicinal que liga Montes Claros a uma cidade vizinha.
O julgamento da dupla já foi adiado por três vezes. Entretanto, o advogado da família, Ernesto Queiroz, vai pedir a prisão preventiva dos réus, caso isso ocorra novamente.
“Eles (réus) estão mudando de endereço, tanto que, no último despacho do processo, o juiz precisou intimar os advogados deles para que fornecessem a localização dos dois. Eles estão tentando protelar o júri para que o crime prescreva”, analisa Queiroz.
Histórico
A família espera a condenação da dupla há 11 anos e não tem dúvidas de que se trata de um crime motivado por homofobia. “Ele sempre respeitou a todos e não vemos outro motivo para esse crime a não ser o preconceito”, relata a mãe do bailarino, Marlene Xavier.
A presidente da Comissão de Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Maria Berenice Dias, considera que Igor foi morto “escancaradamente por homofobia”.
Para a especialista, condenação exemplar dos réus teria caráter pedagógico. “A condenação faria com que outras vítimas denunciassem. Há uma ideia de impunidade”, destaca.
O deputado federal Jean Wyllys também não tem dúvidas de que o julgamento do caso é paradigmático. “O júri em si não vai impedir que outros gays sejam mortos, entretanto, ele vai sugerir uma reflexão”, considera o deputado.