Pandemia de Covid-19

Não há sinais de que imunidade de rebanho irá acontecer, defende médica da UFMG

Pesquisadora da Faculdade de Medicina aponta que estudos na China constataram que apenas 20% da população se contaminou com coronavírus

Por Lara Alves
Publicado em 29 de abril de 2020 | 14:33
 
 
 
normal

Quando o pico da pandemia de coronavírus na China se tornou mais próximo, muitos cientistas calcularam que a infecção em massa da população poderia garantir um efeito conhecido como “imunidade de rebanho” – quando um grande número de pessoas passam a ser imunes a uma doença após serem contaminadas. Contudo, estudos recentes mostram que boa parte dos cidadãos chineses não entraram em contato com o vírus. Isso pode acarretar no surgimento de novas ondas da pandemia no país. Situação semelhante pode acontecer em Minas Gerais, como explica a professora Cristina Alvim, da Faculdade de Medicina da UFMG.

“Nós não sabemos o que irá acontecer daqui para frente. É uma doença nova. Tem estudos de inquéritos epidemiológicos de países que estão numa fase mais avançada da pandemia do que a que nós nos encontramos (no Brasil) mostrando que não há sinais de que a imunidade de rebanho irá acontecer. Mostrando que 20% da população se infectou na China, por exemplo. Isso não gera imunidade de rebanho, por isso que a China, sim, que já está mais avançada, considera a possibilidade desse vírus continuar circulando e surgirem outras ondas”, esclareceu na manhã dessa quarta-feira (29) em uma reunião na ALMG para discutir o projeto Minas Consciente. O documento elaborado pelo governo de Minas Gerais propõe que os municípios sejam cautelosos para reabrir o comércio e sigam protocolos de segurança determinados pelo Estado.

Estiveram com a pesquisadora, alguns deputados, entre eles o presidente da casa Agostinho Patrus, e o secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral. Quanto o aparecimento de ondas futuras do coronavírus, Alvim aposta em um reforço à infraestrutura dos serviços públicos como única maneira de garantir a saúde da população e o cuidado com a economia. Relações que, de acordo com ela, não são dicotômicas.

“Nós precisamos agir de forma coordenada, com os esforços voltados para que a gente se reestruture como uma sociedade melhor. Eu concordo com uma filósofa alemã que colocou que a maior inquietação dela nesse momento é que a gente passe por tudo isso e nada mude. Esse momento serve justamente para pensar sobre a infraestrutura dos serviços públicos, e cuidar dessas estruturas que vão dar condições para a gente de enfrentar o que vem pela frente”, comenta.

Situação em Minas Gerais

Oitenta mil pessoas aguardam testes para diagnóstico de coronavírus em Minas Gerais, são 80 óbitos em decorrência da doença e mais de 1.700 casos confirmados. Isso de acordo com balanço mais recente da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), publicado na manhã desta quarta-feira (29). O baixo número de testes feitos pode ser muito preocupante, uma vez que não dá para ter uma dimensão mais exata do comportamento da pandemia em Minas Gerais. Ainda nessa terça-feira (28), a Anvisa liberou a aplicação do teste rápido para coronavírus nas farmácias. Entretanto, o que poderia ser uma medida boa para que as pessoas conheçam o próprio diagnóstico, pode acabar tornando-se problemática.

Após considerações sobre o Minas Consciente, o deputado Carlos Pimenta pontuou que os testes rápidos deveriam ser limitados àqueles pacientes que têm receita médica. “O teste rápido não diagnostica se a pessoa está com a Covid-19 ou com algum sintoma recente, ele só diagnostica aquelas pessoas que já estão com sintomas há mais tempo. Isso vai criar uma falsa segurança para a população e vai agravar os casos no Brasil todo. Se a pessoa vai na farmácia, faz o teste, paga R$ 150 por um teste desse, é caro, e dá negativo, ela acha que está tudo bem. Abaixa a guarda, não se preocupa e se torna uma fonte contaminadora da população”, defendeu.

O secretário confirmou que a exigência de receita médica para realização dos testes rápidos de coronavírus em farmácias pode, sim, se tornar um projeto da Saúde. Aliás, quanto a testes, o Ministério da Saúde alguns para Minas Gerais, que serão usados em profissionais da saúde. “São testes de reação imunológica, ele é importante para saber quem já está imune ao coronavírus. Isso nos parece muito importante para definir a recomposição da força de trabalho. Nós estamos pensando em profissionais de saúde, esses testes tendem a ser direcionados a eles”, encerrou.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!