Ao adentrarem na Escola Municipal José Silvino Diniz, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, na manhã desta terça-feira (29), funcionários do colégio se depararam com várias pichações e mensagens nazistas, fruto de um ataque sofrido pela escola durante a madrugada. O caso é mais um que se soma a outros tantos e que apontam a articulação de grupos neonazistas, de ideologias extremistas, que atuam entre os jovens que participam desses ataques.
Há quatro dias, o nazismo entrou novamente nas manchetes após ataques a duas escolas em Aracruz, no Espírito Santo. O autor, de apenas 16 anos, estava armado e matou quatro pessoas. Além do fardamento militar, ele também tinha uma suástica na roupa - símbolo do nazismo.
Neste ano, outros casos de nazismo nas escolas também chamaram a atenção, mesmo que não envolvesse violência extrema, como o caso do Espírito Santo. No dia 28 de junho, um estudante denunciou ter recebido ameaças com referências nazistas dentro de um colégio particular no bairro São Pedro, na região Centro-Sul de Belo Horizonte.
Durante uma aula, o estudante encontrou uma faca de serra com o nome dele e três desenhos de suástica debaixo da carteira onde ele assiste às aulas. As ameaças teriam começado alguns meses antes e se agravado depois que o menino teria se vestido de noiva na festa junina da escola. Após a festa, o banheiro da escola foi pintado com ilustrações nazistas e com a frase “cuidado gays”. Na ocasião, a própria escola registrou um boletim de ocorrência e abriu processo interno para apurar o caso.
Mais recentemente, no dia 23 de novembro, um banheiro da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), em Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas Gerais foi pichado com símbolo nazista, exaltação a Hitler e ofensas a judeus. A unidade de ensino disse, na ocasião, que abriria investigação interna para apurar o caso.
Nos últimos anos, o número de episódios envolvendo nazismo no Brasil cresceu 133%. Segundo um levantamento do Observatório Judaico dos Direitos Humanos no Brasil, foram 49 casos em 2021, contra 21 em 2020. Para 2022, o relatório não indica nenhuma possibilidade de recuo no avanço do nazismo.
Especificamente nas escolas, o relatório indica que muitos desses ataques não são eventos isolados, mas sim fruto do ambiente em que proliferam células e grupos neonazistas agindo livremente em plataformas públicas como Facebook e WhatsApp. Um dos exemplos é um evento ocorrido no dia 5 de abril de 2019 no Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), no Rio de Janeiro. Os autores teriam se inspirado no ataque à Escola Estadual Raul Brasil em Suzano, São Paulo, ocorrido menos de um mês antes e que provocou mortes.
Na ocasião, em abril de 2019, o INES suspendeu as aulas ao receber ameaças de um grupo de alunos que, segundo funcionários da instituição, vinham demonstrando não apenas interesse, mas admiração pelo nazismo e pela figura de Adolf Hitler. Um dos alunos chegou a afirmar que o Instituto “precisava de uma limpeza entre os professores".
Isso tudo ocorre em um contexto em que a violência já vem crescendo nas escolas. Um estudo apontou que a cada uma hora, pelo menos uma escola é alvo da violência em Minas Gerais. O levantamento, feito pelo Observatório de Segurança Pública, da Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais, mostrou que 5.621 ocorrências foram registradas nas instituições de ensino do Estado de janeiro a junho deste ano. A média é de 31 infrações por dia. São crimes como furto, roubo, arrombamento, ameaças, calúnia, difamação, estupro e outros.
Para a presidente em exercício do Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro-MG), Thaís Cláudia D'Afonseca, os números revelam um problema que afeta toda a sociedade. "A questão da violência é ampla e muitas das vezes é resultado da desigualdade que presenciamos no Brasil", disse.