Ranking

Nova Lima e Lagoa da Prata têm mais contaminações por 100 mil habitantes

As duas cidades mineiras apresentam taxas até 507% mais elevadas que a média na região Sudeste do país

Por Lucas Morais
Publicado em 07 de abril de 2020 | 21:55
 
 
 
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De um lado, uma cidade no Centro-Oeste mineiro que conta com forte presença industrial, muitos operários e comércio efervescente. Do outro, o município da região metropolitana com mais condomínios de alto padrão e moradores de grande poder aquisitivo. E nestas singularidades, a explicação para a alta taxa de contaminação pelo coronavírus. 

Conforme levantamento realizado pelo jornal O TEMPO com base nos dados da Secretaria de Estado de Saúde, Lagoa da Prata e Nova Lima lideram as estatísticas de contaminações por 100 mil habitantes. Com 37 casos confirmados, a vizinha de Belo Horizonte tem taxa de 38,9 – a média em toda a região Sudeste é de 6,4, número 507% menor. Já no município no interior do Estado, o índice é de 21. Apenas cidades que tenham mais de 10 mil habitantes e com casos confirmados da doença foram consideradas para realizar o ranking.

Para o infectologista Dirceu Greco, uma das possíveis explicações do elevado índice em Nova Lima é justamente a renda mais alta de parte considerável da população. "É uma cidade com muitos condomínios de luxo, diversos moradores viajam para o exterior e podem ter se contaminado nesses países. Com isso, trazem a doença", explica. E uma pesquisa da UFMG apontou que os primeiros vírus que circularam no Brasil têm, em sua maioria, origem europeia.

A Prefeitura de Nova Lima tem outra explicação: alega que a atual realidade no município é consequência do "território conurbado ao da capital, onde milhares de seus cidadãos têm de se deslocar diariamente entre os municípios da Grande BH", informa em nota. Com o maior número de casos e taxa de 10,7, Belo Horizonte tem quase 270 confirmações de coronavírus. Já cidades como Contagem e Ribeirão das Neves, cujos limites das zonas urbanas também se confundem com a capital, apresentam apenas 13 e 2 confirmações, respectivamente.

Resultados rápidos

Em Lagoa da Prata, o secretário municipal de Saúde, Geraldo de Almeida, credita a alta taxa de contaminações pelo coronavírus ao convênio da prefeitura com laboratórios particulares – com a medida, os resultados dos exames saem em até 48 horas. "Enquanto outros municípios aguardam os resultados da Funed [Fundação Ezequiel Dias], que demoraram acima de 15 dias, fazemos os testes com a rede privada, que trazem uma rápida confirmação ou não do caso", justifica.

De acordo com o dirigente, a pasta já contabiliza 11 pacientes com a doença na cidade – cinco a mais do que a Secretaria de Estado de Saúde reconhece até o momento. "Eles [a secretaria] demoram a liberar os exames. Aqui divulgamos em tempo real, à medida que o médico notifica, a pessoa é liberada para realizar os testes para que a vigilância faça as recomendações necessárias", diz.

Na última semana, a cidade chegou a afrouxar o decreto que restringiu o funcionamento do comércio e serviços. De portas abertas, inclusive bares, muitas pessoas decidiram retomar suas rotinas. O resultado: aglomerações e lojas cheias, o que fez a prefeitura recuar e voltar a obrigar o fechamento dos estabelecimentos. Mas o secretário enfatiza que a medida não tem nenhuma relação com o atual número de casos. "Isso é passado. E para finalizar, desses 11 confirmados, sete estão ligados a um caso só, de uma pessoa que se contaminou e depois transmitiu a doença para parte da família. Ela teria recebido alguém que veio de outro Estado e estava assintomático", disse.

Sobre as fábricas, o secretário lembra ainda que todas seguem rigidamente as determinações e medidas para evitar a propagação do vírus, como disponibilização de álcool em gel aos funcionários, além de serem fiscalizadas rotineiramente pela pasta.

A estudante Larissa Rodrigues, de 27 anos, que cumpre o isolamento social na cidade, conta que vê muito desrespeito da população às medidas preventivas. "Os bancos estão lotados, tem muita loja que está com as portas fechadas, mas que se você bater eles te atendem. Também vejo as ruas um pouco cheias", revela.

Outras cidades

Completam o ranking as cidades de Centralina, no Triângulo Mineiro, com 9,6 infectados a cada 100 mil habitantes, Serra do Salitre, também no Centro-Oeste, que tem 8,6, e Itabira, na região Central do Estado, com outros 8,2.

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