BR–356

Novos centros comerciais não preveem melhorias para trânsito

Empreendimentos serão abertos no lugar de dois motéis que margeavam rodovia, na região Oeste

Por Clarisse Souza
Publicado em 08 de julho de 2019 | 03:00
 
 
 
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No intervalo de um ano, o trânsito na BR–356 no já caótico trecho que dá acesso ao Anel Rodoviário e à saída para o Rio de Janeiro corre o risco de ganhar contornos ainda piores. Isso será consequência da inauguração de dois grandes empreendimentos comerciais, que, até o segundo semestre de 2020, deverão abrir suas portas à margem da rodovia, na altura do bairro Olhos D’Água, na região Oeste da capital.

Projetados para ocupar edifícios onde antes funcionavam dois dos cinco motéis que margeiam a estrada, os centros de compras terão, juntos, 2.000 vagas de estacionamento e esperam atrair mais de 50 mil pessoas por mês. Mas, até agora, a única medida prevista para mitigar os impactos no trânsito local é a abertura de uma via marginal à rodovia, com 700 m de extensão.

Sem outra obra viária prevista para compensar o fluxo maior com as lojas, os clientes que saírem de Nova Lima, na região metropolitana, terão de fazer o retorno no trevo do BH Shopping, acesso que já trava em horários de pico com o atual fluxo de veículos.

O primeiro empreendimento a ser inaugurado é também o que deve atrair o maior número de veículos: são 1.600 vagas. Com área de 14 mil metros quadrados e quatro andares, o Mercado de Origem, obra da Fundação Doimo, será destinado à comercialização de produtos agropecuários tradicionais e de agricultura familiar. Embora a previsão seja de que o espaço comece a funcionar em outubro deste ano, a Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) informou que ainda não recebeu nenhum estudo de impacto no trânsito da região.

Por meio da assessoria de imprensa, a Fundação Doimo defendeu que não vai afetar o trânsito do entorno: “Fechamos uma parceria para o visitante estacionar no Outlet BH (no outro lado da rodovia) e acessar o Mercado de Origem pela passarela já existente”.

O outro centro de compras vai se chamar Armazém 356, e a obra, que foi autorizada em março pela Prefeitura de Belo Horizonte, está em fase de terraplenagem. O projeto da EPO, construtora responsável, prevê a construção de uma marginal de acesso ao empreendimento e ao Olhos D’Água. O Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DEER-MG) confirmou que aprovou a abertura da via com base em estudos de tráfego da construtora.

Em nota, o órgão informou que passam 39.500 veículos por dia na BR–356.

Estudioso defende mais obras para região

A construção de uma via marginal à BR–356 pode ser uma boa solução para minimizar os reflexos de uma obra de grande impacto no trânsito da rodovia, avalia Silvestre de Andrade Puty Filho, consultor de transporte e trânsito. Ele salienta, porém, que a região precisa de mais intervenções para que todos os problemas de tráfego na saída para o Rio e para o Anel Rodoviário sejam solucionados.

O especialista defende que não se podem culpar empreendimentos privados por problemas crônicos da cidade. “Temos problemas ali, independentemente desses espaços , e o poder público não atua para resolver”, critica.

Temor

Motorista de aplicativo, Nelson Dias Fernandes, 63, teme os efeitos de novos empreendimentos em uma região onde o trânsito, segundo ele, “já é um tumulto”: “Aquele lugar é terrível. Com a chegada de outros centros comerciais, vai ser doído transitar por ali se não fizerem uma obra grande na estrada”.

Ocupação do solo

Exigência

Construtoras devem seguir a legislação para se adequarem ao que exige o município, segundo a advogada Izabella Nonaka, especialista em direito urbanístico. Em BH, a Lei 7.166/1996 estabelece as normas para a ocupação do solo urbano.

Opinião

Para ela, “o bem-estar comunitário deve ser protegido para que os interesses de uma empresa não privem os cidadãos de seus direitos”.

Estrada

Pesquisa. A aprovação da via marginal para acesso ao Armazém 356 foi concedida com base em estudo de tráfego que projeta mudanças no trânsito pelos próximos dez anos, informou o DEER-MG.

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