No intervalo de um ano, o trânsito na BR–356 no já caótico trecho que dá acesso ao Anel Rodoviário e à saída para o Rio de Janeiro corre o risco de ganhar contornos ainda piores. Isso será consequência da inauguração de dois grandes empreendimentos comerciais, que, até o segundo semestre de 2020, deverão abrir suas portas à margem da rodovia, na altura do bairro Olhos D’Água, na região Oeste da capital.
Projetados para ocupar edifícios onde antes funcionavam dois dos cinco motéis que margeiam a estrada, os centros de compras terão, juntos, 2.000 vagas de estacionamento e esperam atrair mais de 50 mil pessoas por mês. Mas, até agora, a única medida prevista para mitigar os impactos no trânsito local é a abertura de uma via marginal à rodovia, com 700 m de extensão.
Sem outra obra viária prevista para compensar o fluxo maior com as lojas, os clientes que saírem de Nova Lima, na região metropolitana, terão de fazer o retorno no trevo do BH Shopping, acesso que já trava em horários de pico com o atual fluxo de veículos.
O primeiro empreendimento a ser inaugurado é também o que deve atrair o maior número de veículos: são 1.600 vagas. Com área de 14 mil metros quadrados e quatro andares, o Mercado de Origem, obra da Fundação Doimo, será destinado à comercialização de produtos agropecuários tradicionais e de agricultura familiar. Embora a previsão seja de que o espaço comece a funcionar em outubro deste ano, a Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) informou que ainda não recebeu nenhum estudo de impacto no trânsito da região.
Por meio da assessoria de imprensa, a Fundação Doimo defendeu que não vai afetar o trânsito do entorno: “Fechamos uma parceria para o visitante estacionar no Outlet BH (no outro lado da rodovia) e acessar o Mercado de Origem pela passarela já existente”.
O outro centro de compras vai se chamar Armazém 356, e a obra, que foi autorizada em março pela Prefeitura de Belo Horizonte, está em fase de terraplenagem. O projeto da EPO, construtora responsável, prevê a construção de uma marginal de acesso ao empreendimento e ao Olhos D’Água. O Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DEER-MG) confirmou que aprovou a abertura da via com base em estudos de tráfego da construtora.
Em nota, o órgão informou que passam 39.500 veículos por dia na BR–356.
Estudioso defende mais obras para região
A construção de uma via marginal à BR–356 pode ser uma boa solução para minimizar os reflexos de uma obra de grande impacto no trânsito da rodovia, avalia Silvestre de Andrade Puty Filho, consultor de transporte e trânsito. Ele salienta, porém, que a região precisa de mais intervenções para que todos os problemas de tráfego na saída para o Rio e para o Anel Rodoviário sejam solucionados.
O especialista defende que não se podem culpar empreendimentos privados por problemas crônicos da cidade. “Temos problemas ali, independentemente desses espaços , e o poder público não atua para resolver”, critica.
Temor
Motorista de aplicativo, Nelson Dias Fernandes, 63, teme os efeitos de novos empreendimentos em uma região onde o trânsito, segundo ele, “já é um tumulto”: “Aquele lugar é terrível. Com a chegada de outros centros comerciais, vai ser doído transitar por ali se não fizerem uma obra grande na estrada”.
Ocupação do solo
Exigência
Construtoras devem seguir a legislação para se adequarem ao que exige o município, segundo a advogada Izabella Nonaka, especialista em direito urbanístico. Em BH, a Lei 7.166/1996 estabelece as normas para a ocupação do solo urbano.
Opinião
Para ela, “o bem-estar comunitário deve ser protegido para que os interesses de uma empresa não privem os cidadãos de seus direitos”.
Estrada
Pesquisa. A aprovação da via marginal para acesso ao Armazém 356 foi concedida com base em estudo de tráfego que projeta mudanças no trânsito pelos próximos dez anos, informou o DEER-MG.