A construção de uma estrutura de contenção, capaz de segurar todos os rejeitos das barragens de Forquilhas, em Ouro Preto, caso se rompam, só deve ficar pronta no primeiro semestre de 2020. Já o processo de descomissionamento das estruturas só deve ser concluído em três anos.
A informação foi passada pelo gerente de gestão integrada do projeto de descaracterização das barragens da Vale, Eduardo Drumond, durante visita de vereadores da CPI das Barragens da Câmara Municipal de Belo Horizonte à Mina de Fábrica, da Vale, em Ouro Preto, nessa terça-feira (28).
Segundo o projeto da Vale, estão em andamento as sondagens para construir essa estrutura de contenção, que ficaria a 11 km de Forquilhas e seria capaz de segurar toda a mancha de rejeitos liberada. Em tese, a obra deve impedir que a lama chegue à Estação de Tratamento da Copasa em Bela Fama, garantindo a segurança hídrica de BH e dos demais municípios que podem vir a ser atingidos pelos rejeitos caso essas barragens se rompam.
A vereadora Bella Gonçalves (Psol), que é membro da CPI, questionou a Vale sobre quando se deu o início do plano de descomissionamento, uma vez que os projetos ainda estão em fase de estruturação, e sobre quando a empresa se deu conta do risco de rompimento de tantas barragens.
Segundo Drumond, a decisão de descomissionamento das barragens a montante de alto risco foi tomada logo após o rompimento de Brumadinho, pois até então as estruturas tinham suas estabilidades garantidas por auditorias. "Depois desse evento, o grau de aceitação do risco diminuiu e a auditoria negou declarar a segurança das barragens", afirmou o representante da mineradora.
Riscos de rompimento
De acordo com a geotécnica de barragem de rejeitos da Vale, Adriana Gomes Ribeiro, no Complexo Paraopeba há um total de 17 barragens, sendo 11 de sedimentos para contenção de pilhas de estéril e seis de rejeitos. Dessas seis, todas estão com suas atividades paralisadas e quatro, Forquilhas 1, 2, 3 e Grupo, estão em processo de descaracterização.
Segundo ela, para a realização desse descomissionamento, está sendo desenvolvido um projeto pensando-se no pior cenário, isto é, no rompimento de Forquilha 1 (alerta nível 3) e de Forquilha 2 (alerta nível 2), que se encontram uma ao lado da outra, e o consequente rompimento de Forquilha 4, num efeito-cascata, já que ela está localizada a jusante e bem próxima das barragens Forquilhas 1 e 2.
Questionados pela comissão sobre a abrangência desse eventual rompimento, o supervisor de Controle Operacional da Mina Fábrica, Diogo Prata, explica que a mancha de inundação chegaria a Belo Horizonte em 11 horas, pegando o Rio das Velhas.
"Ela seguiria pelo córrego Mata Porcos até o rio Itabirito e chegaria à Bacia do Rio das Velhas, atingindo os municípios de Itabirito, Rio Acima, Nova Lima, Raposos, Sabará, Belo Horizonte e Santa Luzia, nessa sequência".
Essas três barragens (Forquilhas 1, 2 e 4), juntas, somam um volume de aproximadamente 38,2 milhões de m³ de rejeitos. Já no caso de rompimento de Forquilhas 3 (alerta nível 3), que possui um volume atual de cerca de 19,5 milhões de m³ de rejeitos, a mancha atingiria os municípios de Itabirito, Rio Acima, Nova Lima, Raposos e Sabará.
O presidente da CPI, vereador Edmar Branco (Avante), ressaltou o foco dos trabalhos da comissão: a garantia da segurança hídrica de Belo Horizonte e da Região Metropolitana. “Sabemos que, se romper Forquilhas, (o rejeito) vai chegar ao Rio das Velhas, e atingir dois bairros de BH: Maria Tereza, na Região Norte, e Beija Flor, Região Nordeste. Estamos muito preocupados com isso", alertou.
Descaracterização das barragens
De acordo com o gerente de gestão integrada do projeto de descaracterização das barragens, Eduardo Drumond, o desafio da Vale é aumentar o fator de segurança das barragens até o fim de 2019 – como parte do processo de descaracterização, previsto para ser concluído em 2022 – e posteriormente retirar os rejeitos.
Para isso, ele explica que, primeiro, é preciso diminuir a presença de água no terreno, através de desvio de drenagem com canais periféricos contornando a barragem, ou com poços de rebaixamento, e bombeamento da água.
Em seguida, deverá ser realizado novo aterro da estrutura, reforçando o já existente. Ainda está em estudo o material utilizado para isso, mas há a possibilidade de uso do próprio minério que não foi beneficiado. Só a partir desse reforço é que poderá ser feita a remoção dos rejeitos. Também está sendo estudado o melhor local para deposição desse material. Por fim, a área será revegetada.
Esse plano de ação já foi protocolizado junto aos órgãos de controle: Agência Nacional de Mineração (ANM), Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e Ministério Público.
Monitoramento
Com relação ao controle do nível de água das barragens, o representante da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), Alder Souza, pediu esclarecimentos sobre como é feita a medição pela empresa da vazão dentro das estruturas.
Atualmente, de acordo com técnicos da Vale, o monitoramento é realizado por drones e auxiliado por piezômetros automatizados (equipamento para medir pressões estáticas ou a compressibilidade dos líquidos), já que, nas áreas que tiveram seu risco aumentado, a presença de funcionários foi impedida pelo Ministério do Trabalho e não é utilizado pela empresa tecnologia mecanizada para medição da quantidade de vazão de litros de água por segundo.
Os vereadores também pediram informações sobre processos de licenciamento para ampliação e construção de novas barragens, mas, segundo os representantes da Vale, a resposta teria que ser dada posteriormente já que não havia ninguém da área responsável acompanhando a visita. O licenciamento mais recente obtido pela empresa foi da barragem Forquilhas 5, que ainda não foi colocada em operação.