Polícia Civil

Padrasto suspeito de tentar assassinar criança de 2 anos em Betim é preso

Mãe da menina, de 23 anos, também é investigada por omissão de socorro e por negligência com relação às lesões sofridas pela filha caçula

Publicado em 01 de maio de 2021 | 14:45

 
 
Criança de 2 anos foi encontrada pela babá no quarto da residência em que mora com a mãe a irmã de 5 anos, nos braços do companheiro da mãe dela, desacordada, com uma enorme lesão na cabeça, e um sangramento na boca Criança de 2 anos foi encontrada pela babá no quarto da residência em que mora com a mãe a irmã de 5 anos, nos braços do companheiro da mãe dela, desacordada, com uma enorme lesão na cabeça, e um sangramento na boca Foto: LISLEY ALVARENGA
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A Polícia Civil de Minas Gerais, por meio da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher em Betim, prendeu preventivamente, na tarde da última sexta-feira (30), um rapaz de 23 anos, conhecido como Alemão, principal suspeito de tentar assassinar a própria enteada, uma menina de 2 anos e 2 meses, em Betim, na região metropolitana.

O crime aconteceu na noite do dia 26, em Betim. A criança foi encontrada pela babá, uma jovem de 20 anos, no colo do padrasto, inconsciente, com lesões na cabeça e nas costas, além de um sangramento na boca. A menina, que teve traumatismo craniano e uma fratura na costela, foi hospitalizada, teve uma parada cardíaca, chegou a ficar em coma, mas, felizmente, já apresenta melhoras no seu quadro de saúde.

De acordo com a delegada Ariadne Cardoso, responsável pelo caso, depois de supostamente tentar matar a enteada, o suspeito foi até a unidade de saúde onde ela foi atendida, mas fugiu em seguida. Antes de ser detido, na sexta (30), o advogado dele procurou saber se havia um mandado de prisão expedido em desfavor dele. Contudo, no momento em que se apresentou, a Justiça já havia determinado que ele fosse detido. O padrasto possui duas passagens por tráfico de drogas, já havia sido indiciado pelo mesmo crime, e estava, inclusive, em liberdade provisória, sem direito a fiança.

Na delegacia, ele negou o crime, afirmou que encontrou a menina inconsciente, que tentou reanimá-la, e alegou ainda que ela teria sido agredia por outra pessoa. O suspeito foi encaminhado para Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp) do bairro Gameleira, na região Oeste de Belo Horizonte, onde permanece preso.

“Após os levantamentos iniciais do inquérito policial, o suspeito não foi localizado pela equipe da Delegacia de Mulheres e, como não estava mais em situação de flagrante delito, foi imediatamente representada a prisão preventiva dele, que foi decretada na quinta (29). O suspeito continua sendo o principal responsável, segundo as investigações, pelas agressões físicas praticadas contra a criança. Embora ainda existam diligências que serão feitas para a finalização do inquérito policial”, ponderou a delegada.

Já a mãe da menina, de 23 anos, também é investigada por omissão de socorro e por negligência com relação às lesões sofridas pela filha caçula. Ela tem outra menina, de 5 anos, e, pelos depoimentos colhidos até então, a criança já vinha apresentando anteriormente sinais de agressões, como falhas no cabelo, arranhões, lesões no pescoço, na face e nas costas.

A delegada informou também que, embora a mãe tenha sido orientada, segundo contaram testemunhas, sobre as agressões, ela não levou a menina ao hospital. “A mãe declarou que não tinha certeza se era o companheiro, porque, segundo ela e outras pessoas ouvidas, a irmã de 5 da criança agredida teria o costume de brincar de uma forma mais agressiva com a irmã e poderia ser responsável pelos machucados”, explicou Ariadne.

Apesar de o inquérito ainda não ter sido concluído, a delegada informou que, caso seja comprovado que o padrasto é o autor, ele será indiciado por tentativa de feminicídio, uma vez que o crime ocorreu em um ambiente doméstico e contra uma menina. Esse tipo de crime prevê pena de até 30 anos, contudo, como se trata de uma tentativa de homicídio, pode haver redução da punição. “Outras questões precisam ser consideradas para avaliar isso, como ele confessar o crime espontaneamente, o que gera um atenuante, por exemplo”, esclareceu Ariadne.

A delegada adiantou ainda que o avô paterno da menina de 2 anos, que mora em Goiânia, contratou um advogado e informou que tem interesse em conquistar a guarda da neta.

O crime

Depois de escutar um estrondo na parede e um choro alto, a babá da criança, de 20 anos, contou que correu para quarto em que ela estava e encontrou a criança nos braços do companheiro da mãe dela, desacordada, com uma enorme lesão na cabeça, e um sangramento na boca. A babá disse que começou, então, a gritar por socorro, e a menina foi levada para uma unidade de emergência com a ajuda de vizinhos.

Juntamente com o suspeito, a criança, a madrinha e dois vizinhos foram para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Petrolândia, em Contagem, por ser a unidade de saúde mais próxima da casa. No local, a criança precisou ser reanimada e intubada. O médico que atendeu a menina constatou a presença de lesões no rosto e na orelha. Segundo o profissional, elas teriam sido causadas por violência e não por queda acidental.

Uma amiga da mãe da menor, de 32 anos, que pediu para não ter o nome revelado, contou que há cerca de 15 dias começou a perceber que a criança constantemente vinha apresentando hematomas pelo corpo e que, inclusive, interpelou a garota sobre uma das lesões. A mulher afirmou que alertou à mãe sobre as suspeitas e que a amiga havia prometido que tomaria providências, caso fosse confirmado que o companheiro era o autor das agressões. 

"Há algum tempo ela tem aparecido com lesões leves pelo corpo. Mas, como a irmã dela, de 5 anos, é hiperativa e agressiva, até então, nós achávamos que era ela que batia na minha afilhada. Mas de uns 20 dias para cá, observei que ela andava mais acuada, tremia quando via o Felipe. Há 15 dias, vi um roxo no olho dela e questionei a minha amiga. Ela disse que a menina tinha batido o rosto. Mas, quando perguntei para minha afilhada quem tinha feito isso, ela contou que foi o Felipe. Depois, quando a mãe chegou, a menina mudou a versão e disse que tinha sido a irmã", contou a madrinha da menina.

Relação do casal

Tanto a babá e quanto a madrinha da menina de 2 anos afirmaram que o relacionamento do casal era tranquilo, contudo, eles não tinham uma relação estável. De acordo com as testemunhas, apesar de estarem juntos há três anos, ou seja, desde quando a mãe veio de Goiânia para morar em Betim com as filhas, eles sempre terminavam e voltavam.

As duas afirmaram ainda que o suspeito não era agressivo com a mãe, mas foram enfáticas em dizer que ele parecia ter ciúmes da menina de dois anos, uma criança descrita por elas como muito meiga, tranquila e querida por todos. "Ela era um amor de criança, muito boa de se relacionar. Espero que a justiça seja feita. O que ele fez não se faz com ninguém, muito menos com uma criança indefesa", desabafou a babá. 

As testemunhas não souberam dar detalhes sobre o perfil do suspeito, mas disseram que ele era uma pessoa mais calada, suspostamente trabalharia como pintor, e era usuário de drogas. "Ele gostava de fumar o dele, mas nunca atrapalhou ninguém, nunca foi agressivo. Já a minha amiga era uma boa mãe. Arrumou esse emprego de cuidadora para dar uma vida digna para as filhas", defendeu a amiga da mãe da menina. 

Como denunciar

Em Minas Gerais, o atendimento aos crimes de lesão corporal, maus-tratos, estupro, estupro de vulnerável e os crimes relacionados à produção, divulgação, venda ou transmissão de cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo crianças e adolescentes, entre 0 e 17 anos de idade, é realizado de forma presencial para atender situações de flagrante ou registrar ocorrências; via agendamentos com horário marcado, pelo Disque 100, 181 ou 190.

Em BH, é possível agendar atendimento pelo telefone da Delegacia Especializada no número (31) 3228-9000. Os endereços e telefones de todas as unidades da Polícia Civil estão disponíveis no site www.pc.mg.gov.br.