Doença Social

Porteiro denuncia ter sido vítima de injúria racial em lanchonete de BH

Vítima contou que resolveu denunciar porque já foi vítima de preconceito outras vezes

Por Alice Brito
Publicado em 27 de outubro de 2021 | 15:28
 
 
 
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Mais um caso de preconceito racial em Belo Horizonte. Desta vez a vítima foi J.C. P.S, de 32 anos. Ele é porteiro de um estabelecimento comercial na rua Guaicurus, na região Central de Belo Horizonte.Todos as tardes, no intervalo do trabalho, o homem que preferiu não se identificar por medo de represálias, compra um pão de queijo e um copo de suco, em uma lanchonete próxima ao serviço dele. Porém, na tarde desta quarta-feira(27), o lanche não teve o mesmo gosto. 

Conforme o porteiro,  ao entrar no local ele foi vítima de xingamentos que faziam alusão a cor de sua pele. As ofensas gratuitas foram ditas por uma cliente que estava sentada na lanchonete consumindo bebida àlcolica.

Transtornado e sem entender o motivo das agressões verbais da desconhecida o homem chamou a polícia. A Guarda Municipal esteve no local e constatou o crime de injúria racial - quando alguém ofende outra pessoa por causa da cor da pele, raça, religião, entre outros. A mulher, de 46 anos, foi encaminhada a delegacia da Polícia Civil, do bairro Floresta, na região Leste de Belo Horizonte, para prestar depoimento.  

"Assim que eu entrei na lanchonete que todos os dias eu vou, me deparei com uma mulher loira que nunca tinha visto na região. Assim que ela me viu ela começou a me xingar de filho da puta, sem bunda, que eu ganhava só R$20, que pela minha cor não era permitida a entrada no estabelecimento. Tomei as medidas cabíveis e chamei as autoridades", lembrou o porteiro.

Câmeras de vigilância da lanchonete poderão ajudar na conclusão do caso

Ainda de acordo com a vítima, no momento da agressão verbal a lanchonete estava repleta de clientes que testemunharam o crime.  "Ela nega os xingamentos, mas tem testemunhas que ficaram chocadas com a mulher. Ela estava aparentemente bêbada, mas isso não dá liberação para ela ofender alguém.  Na lanchonete tem câmeras de vigilância que serão capazes de confirmar o que digo," pontuou a vítima. 

De acordo com o Guarda Municipal responsável pela ocorrência, Marcos Almeida, vítima, suposta agressora e uma testemunha foram ouvidos, foi constatado o crime de injúria racial, por isso, os envolvidos todos foram encaminhados para a delegacia da Polícia Civil.

"A suposta agressora estava aparentemente alterada, por ter feito uso de bebidas àlcoolicas. Ela preferiu ficar em silêncio e conversar somente com o delegado. Já a testemunha contou que de fato existiram os xingamentos preconceituosos. Porém, ela solicitou vir até à delegacia em condição  anônima por medo de sofrer represálias na região. A localidade é conhecida pelo alto índice de violência, " detalhou o Guarda Municipal. 

"Já sofri preconceito racial uma vez e fiquei calado. Desta vez resolvi denunciar porque quero um mundo livre para meus filhos"

O homem xingado disse que pensou em deixar as ofensas preconceituosas de lado. Mas ele lembrou que já foi vítima de preconceito por causa da cor de sua pele e ficou calado, e dessa vez ele resolveu denunciar por ele e  pelos seus quatro filhos de  12,11,10 e 3 anos. 

 "Já sofreu injúria racial quando era frentista de um posto de gasolina, no bairro Nossa Senhora do Carmo, em BH. Na época não fiz nada e fiquei remoendo a humilhação, e isso, não me fez bem. Hoje resolvi denunciar porque meus filhos estão crescendo e quero  um mundo livre para eles. Quero que eles vivam uma vida diferente, com oportunidades. Quero mostrar para eles que todos somos iguais," desabafou o porteiro. 

Próximos passos

Ainda conforme o Guarda Municipal responsável pela ocorrência, a partir de agora, o caso ficará  a cargo da Polícia Civil.  " A Polícia Civil vai realizar as devidas investigações e avaliação das câmeras de vigilância da lanchonete para elucidar o ocorrido", pontuou Almeida. 

A Polícia Civil foi procurada para falar sobre  andamento do caso, mas até o momento não enviou resposta. 

Crime de injúria racial tem aumento de 34% em Minas

Uma pessoa por dia cadastra em Minas, uma ocorrência de injúria racial - quando alguém sofre ofensa com base em sua cor, raça, religião, idade, deficiência, entre outros.  De janeiro a agosto deste ano, foram registradas 228 denúncias, contra 200 no mesmo período do ano passado, aumento de 34%, conforme apontou levantamento realizado pelo observatório de segurança pública.  

Já em Belo Horizonte, o quadro também é de elevação no número desse tipo de denúncia. De janeiro a agosto deste ano, foram registradas 39 ocorrências, contra 37 no mesmo período do ano passado, aumento de 5.4% 

Injúria Racial é crime

O crime de injúria racial está previsto no Código Penal -  3º parágrafo do artigo 140. ara sua caracterização é necessário que haja ofensa à dignidade de alguém, com base em elementos referentes à sua raça, cor, etnia, religião, idade ou deficiência. A pena varia entre 1 e 3 anos de reclusão, e multa. 

Polícia Civil 

A Polícia Civil informou ter autuado a suspeita, de 45 anos, por injúria qualificada. Agora, a investigação prossegue para apurar a denúncia. Assim que o inquérito for concluído, ele será remetido à Justiça.

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