Alarmante

Quase 53% da população na Grande BH tem fornecimento irregular de água

Apesar do acesso às redes da Copasa, mais de três milhões de pessoas enfrentam problemas com o abastecimento na região

Por Lucas Morais
Publicado em 20 de setembro de 2021 | 03:00
 
 
 
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Símbolo da falta de políticas de moradia social, as ocupações urbanas se multiplicaram por toda a região metropolitana de Belo Horizonte nas últimas décadas. Só na capital mineira, segundo a prefeitura, são mais de 100.000 pessoas que residem em áreas sem infraestrutura básica. Aliado aos problemas fundiários e o risco constante de despejo, a falta de acesso às redes de água e esgoto tornam o dia a dia ainda mais difícil. Advogado das brigadas populares que acompanham as comunidades, Luiz Fernando Vasconcelos disse que a situação é ainda mais difícil na região do Izidora.

"A maioria das ocupações tem esse problema dessa área tem esse problema. Sem água, não pode lavar uma roupa, a higiene fica prejudicada em plena pandemia e ainda é preciso se deslocar em grandes distâncias para pegar água em uma bica. O esgoto também é uma outra questão. Alguns locais têm soluções ecológicas, mas outras não, o que gera risco", resumiu. Conforme o advogado, são cerca de 120 ocupações que foram indicadas para regularização fundiária pela prefeitura, o que garante a implantação do saneamento. "Vira um jogo de empurra com a Copasa", acrescentou.

Em toda a Grande BH, dados do Instituto Trata Brasil mostram que quase 53% da população não tem distribuição regular de água – são mais de três milhões de pessoas nessa situação. No bairro Dumaville, em Esmeraldas, o recurso hídrico chega na maioria das vezes através dos caminhões-pipa e os moradores reclamam que os rodízios são constantes. Desde 2018, uma grande caixa d'água está instalada na praça principal, mas até hoje não recebeu nenhuma gota. "Ela é nova, mas nunca foi usada, já que não fizeram a ligação. A população está abandonada", contou o comerciante Jonas Vitor da Paixão, 39.

Morador há oito anos da região, ele conta que já chegou a ficar 15 dias sem água nas torneiras. "Pagamos por aquilo que não recebemos. Mesmo chegando o caminhão, nunca é suficiente. A limpeza fica prejudicada, os comércios também", relatou. Na mesma avenida, Dom Lucas Macieira, 64, via a louça se acumular na pia e mal conseguia limpar a casa tomada pelas cinzas dos incêndios na região. Além do problema hídrico, ele disse que a região não tem sequer coleta de esgoto. "É fossa, inclusive a nossa está cheia. Além de poluir o lençol freático, há um gasto de R$ 300 para limpar a cada três meses", frisou.

No bairro Bom Destino, em Santa Luzia, o esgoto também é um grave problema. Apesar da cobrança na taxa nas contas, a população denuncia o despejo irregular dos dejetos no manancial que atravessa a região. "É uma luta desde 2006 para despoluir a área. A Copasa já se comprometeu uma vez, mas não cumpriu e lança o esgoto de forma clandestina. Inclusive há uma estação de tratamento, que foi desativada", declarou. 

Investimentos da Copasa e Copanor tiveram queda de 66%

Nos últimos cinco anos, os investimentos da Copasa e Copanor, empresas do estado responsáveis pelo saneamento básico na maioria das cidades mineiras, tiveram uma redução de 66%. Em 2015, foram gastos R$ 799 milhões em melhorias nas redes de água e esgoto dos municípios, enquanto que no ano passado o valor ficou em R$ 481 milhões – até junho deste ano, as companhias investiram R$ 339 milhões. A justificativa, conforme as empresas, foi o impacto da pandemia na cadeia produtiva do setor diante das "dificuldades com o fornecimento de insumos e de  materiais necessários  para execução das obras".

Já o governo de Minas alegou que os serviços de saneamento são de responsabilidade dos municípios. De acordo com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, foi lançado um edital para apoiar os municípios na captação de recursos para investimentos no setor. Ainda está em elaboração o Plano Estadual de Saneamento Básico, que vai trazer as diretrizes para a realização de obras e projetos. O estado ainda atua com programas de dessalinização da água no semiárido mineiro, perfuração de poços tubulares e repasses de quase R$ 20 milhões às cidades.

Sobre a questão das ocupações urbanas, a Prefeitura de Belo Horizonte informou que liberou, desde 2018, a implantação da infraestrutura de saneamento básico nos 22 assentamentos da região da Izidora. Segundo o Executivo Municipal, foi instalado uma estrutura própria nos locais enquanto as obras definitivas não são realizadas e há "constante diálogo com lideranças e moradores das comunidades". 

Dados do Trata Brasil revelaram ainda que a população que vive em áreas sem saneamento básico possuem uma renda média de R$ 521,02, enquanto que nas regiões com redes de água e esgoto o valor chegar a R$ 2.327.29.

Em nota, a Copasa informou que a situação do abastecimento na Grande BH "se mantém adequada para o período". Segundo a empresa, há problemas pontuais em alguns regiões para manutenção corretiva. Sobre o bairro Dumaville, a companhia alegou que os caminhões pipa serão substituídos com a construção de uma adutora para interligar os sistemas da rede. Em relação ao bairro Bom Destino, a Copasa declarou que será construída uma estação de tratamento de esgoto. Por fim, afirmou ainda que elabora um projeto para abastecimento de água e esgotamento sanitário em toda a região da Izidora.

 

 

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