Estoque nacional limitado

Redução da entrega das vacinas BCG deve durar mais seis meses

Imunizante é aplicado em bebês e crianças e previne as formas graves da tuberculose

Por Malú Damázio
Publicado em 01 de junho de 2022 | 14:35
 
 
 
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O quantitativo de doses da vacina BCG enviado aos Estados pelo governo federal deve permanecer reduzido nos próximos seis meses. Em ofício direcionado às secretarias estaduais no fim de abril, o Ministério da Saúde explicou que enfrenta dificuldades na aquisição do imunobiológico.

A disponibilidade no estoque nacional foi limitada para que não haja desabastecimento. O documento federal recomenda que os Estados “otimizem e façam uso racional” da vacina durante o período.

Em relação à situação em Minas Gerais, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) confirma a orientação da União e informa que, até o momento, “não foi constatada falta da vacina BCG no território estadual”. A pasta não detalhou, no entanto, a dimensão da redução.

Como consequência, o quantitativo de BCG enviado aos municípios também sofre alteração.

Situação em Belo Horizonte

Em Belo Horizonte, o total recebido ao mês caiu de 21 mil para 6 mil e a distribuição nos centros de saúde e hospitais teve que ser readequada. No momento, 11 postos e quatro hospitais na capital estão aplicando a vacina. Antes, 40 locais ofereciam o imunizante. 

Impactos

Caso o desabastecimento se estenda, é possível que crianças fiquem sem vacinar. No entanto, o maior problema, na visão da pediatra e diretora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Ivana Moutinho, é para as famílias de quem convive com a doença. 

“Faltando o imunobiológico vai faltar a aplicação, porque, se nascerem mais crianças do que as doses disponíveis, algumas ficarão sem vacinar e talvez nunca mais voltem para tomar o imunizante. É um risco à saúde, mas principalmente para as famílias que têm pessoas com tuberculose em casa. Nesse caso [de falta de vacina], as famílias de risco devem ter prioridade para os recém-nascidos recebam BCG”, observa.

História da vacina BCG

O imunizante foi desenvolvido pelos pesquisadores Albert Calmette e Camille Guerin a partir de uma bactéria responsável por desencadear mastite tuberculosa bovina, a Mycobacterium bovis.

A primeira aplicação foi realizada em uma criança recém-nascida de mãe que apresentava tuberculose em 1921. No Brasil, ela começou a ser utilizada em 1927, e desde então tem sido uma importante forma de proteção a contra a tuberculose.

Inicialmente a vacina era administrada de maneira oral, posteriormente foi adotada a aplicação intradérmica.

Entenda a Tuberculose

O que é tuberculose? 

A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível, causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, também conhecida como bacilo de Koch. A doença afeta prioritariamente os pulmões (forma pulmonar), embora possa acometer outros órgãos e/ou sistemas.

A forma extrapulmonar, que afeta outros órgãos que não o pulmão, ocorre mais frequentemente em pessoas vivendo com HIV, especialmente aquelas com comprometimento imunológico. 

IMPORTANTE: A forma pulmonar, além de ser mais frequente, é a principal responsável pela manutenção da cadeia de transmissão da doença. 

Apesar de ser uma enfermidade antiga, a tuberculose continua sendo um importante problema de saúde pública. No mundo, a cada ano, cerca de 10 milhões de pessoas adoecem por tuberculose. A doença é responsável por mais de um milhão de óbitos anuais.

No Brasil são notificados aproximadamente 70 mil casos novos e ocorrem cerca de 4,5 mil mortes em decorrência da tuberculose.

Como a tuberculose é transmitida? 

A transmissão da tuberculose acontece por via respiratória, pela eliminação de aerossóis produzidos pela tosse, fala ou espirro de uma pessoa com tuberculose ativa (pulmonar ou laríngea), sem tratamento; e a inalação de aerossóis por um indivíduo suscetível

Calcula-se que, durante um ano, em uma comunidade, uma pessoa com tuberculose pulmonar e/ou laríngea ativa, sem tratamento, e que esteja eliminando aerossóis com bacilos, possa infectar, em média, de 10 a 15 pessoas.

A tuberculose NÃO se transmite por objetos compartilhados. Bacilos que se depositam em roupas, lençóis, copos e talheres dificilmente se dispersam em aerossóis e, por isso, não têm papel importante na transmissão da doença.

IMPORTANTE: Com o início do tratamento, a transmissão tende a diminuir gradativamente, e em geral, após 15 dias, o risco de transmissão da doença é bastante reduzido.

O bacilo é sensível à luz solar e a circulação de ar possibilita a dispersão das partículas infectantes. Por essa razão, ambientes ventilados e com luz natural direta diminuem o risco de transmissão. A etiqueta da tosse, que consiste em cobrir a boca com o antebraço ou lenço ao tossir, também é uma medida importante a ser considerada.

Quais são os sintomas da tuberculose?

● Tosse por 3 semanas ou mais
● Febre vespertina
● Sudorese noturna
● Emagrecimento

O principal sintoma da tuberculose pulmonar é a tosse. Essa tosse pode ser seca ou produtiva (com catarro).

IMPORTANTE: Recomenda-se que toda pessoa com sintomas respiratórios, ou seja, que apresente tosse por três semanas ou mais, seja investigada para tuberculose.

Caso a pessoa apresente sintomas de tuberculose, é fundamental procurar a unidade de saúde mais próxima da residência para avaliação e realização de exames. Se o resultado for positivo para tuberculose, deve-se iniciar o tratamento o mais rápido possível e segui-lo até o final.

Como é feito o diagnóstico da tuberculose?

No Brasil, o diagnóstico da TB é realizado conforme preconizado no Manual de Recomendações Para o Controle da Tuberculose no Brasil, sendo subdividido em diagnóstico clínico, diferencial, bacteriológico, imagem, histopatológico e por outros testes diagnósticos.

As orientações e recomendações para o diagnóstico laboratorial de micobactérias estão contidas no Manual de Recomendações para o Diagnóstico Laboratorial de Tuberculose e Micobactérias não Tuberculosas de Interesse em Saúde Pública no Brasil 

O diagnóstico laboratorial da TB é fundamental tanto para a detecção de casos novos quanto para o controle de tratamento.

O principal objetivo da rede de laboratórios vinculada ao controle da TB deve ser o de detectar casos de TB, monitorar a evolução do tratamento e documentar a cura no fim do tratamento.

Para o diagnóstico laboratorial da tuberculose são utilizados os seguintes exames:

Teste rápido molecular para tuberculose (TRM-TB) ou baciloscopia

Cultura: Teste de Sensibilidade aos fármacos 

Além do diagnóstico laboratorial, a avaliação clínica é de suma importância para o diagnóstico da TB e a realização da radiografia do tórax é indicada como um método complementar para esse diagnóstico

Como é o tratamento da tuberculose?

O tratamento da tuberculose dura no mínimo seis meses, é gratuito e está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). São utilizados quatro medicamentos para o tratamento dos casos de tuberculose que utilizam o esquema básico: rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol.

A tuberculose tem cura quando o tratamento é feito de forma adequada, até o final. O papel dos profissionais de saúde em apoiar e monitorar o tratamento da tuberculose, por meio de um cuidado integral e humanizado, é muito importante. Uma das principais estratégias para promover a adesão ao tratamento é o Tratamento Diretamente Observado (TDO). O TDO consiste na observação da tomada do medicamento pela pessoa com tuberculose sob a observação de um profissional de saúde ou por outros profissionais capacitados, como profissionais da assistência social, entre outros, desde que supervisionados por profissionais de saúde.

Esse regime de tratamento deve ser realizado, idealmente, em todos os dias úteis da semana, ou excepcionalmente, três vezes na semana. O local e o horário para a realização do TDO devem ser acordados com a pessoa e com o serviço de saúde.

A pessoa com tuberculose necessita ser orientada, de forma clara, quanto às características da doença e do tratamento (duração e esquema do tratamento, recomendações sobre a utilização dos medicamentos, eventos adversos).

IMPORTANTE: logo nas primeiras semanas do tratamento, a pessoa se sente melhor e, por isso, precisa ser orientada pelo profissional de saúde a realizar o tratamento até o final, independentemente do desaparecimento dos sintomas. É importante lembrar que o tratamento irregular pode complicar a doença e resultar no desenvolvimento de tuberculose drogarresistente.

Posicionamentos

O Ministério da Saúde informou que, a partir do mês de abril de 2022, haverá diminuição do quantitativo de doses da vacina BCG a ser distribuída aos estados. Com base nisso, solicitou que os gestores estaduais otimizem e realizem o uso racional desta vacina.

Além disso, reforçou a importância da alimentação oportuna dos sistemas de informação quanto ao registro das doses de vacina administradas e das perdas vacinais.

O informe foi divulgado em 29 de abril de 2022, por meio do OFÍCIO CIRCULAR Nº 80/2022/SVS/MS, disponível aqui. Foi indicado que essa readequação deve perdurar pelos próximos sete meses.

Em relação à situação em Minas Gerais, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) informou que, até a presente data, não foi constatada falta da vacina BCG no território estadual.

Com infmorções do Ministério da Saúde

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