Quem mora no distrito de São Sebastião das Águas Claras, conhecido como Macacos, em Nova Lima (Grande BH), convive com o descaso desde essa segunda (10/1). São cinco dias sem abastecimento de água e com vias de acesso ao local tomadas pela água.
Fernanda Tuna mora no distrito e denuncia que os dois problemas estão relacionados à Vale. Segundo ela, a adutora da Copasa que se rompeu em Macacos aconteceu após problemas com o sump (bacia escavada no solo com a função de conter os sedimentos) da Barragem B5, da Mina Águas Claras.
“O rompimento desse sump ocasionou a ruptura da adutora que abastece Macacos com a água. A previsão que a Copasa passou (de maneira não oficial) é de um mês. O abastecimento por caminhão-pipa não está funcionando. Várias pessoas estão tirando do bolso para contratar caminhão-pipa e encher as caixas d’água”, diz Fernanda, uma das que desfalcou o caixa para garantir o abastecimento.
A Vale informou, por telefone, que não tem qualquer relação com o problema da adutora. A reportagem procurou a Prefeitura de Nova Lima e a Copasa, na noite desta sexta (14/1), e aguarda posicionamento.
Em nota, a Copasa informou que "a distribuição de água foi retomada na noite desta sexta-feira", mas uma queda de energia prejudicou o serviço neste sábado (15/1).
"O fornecimento de água será restabelecido tão logo regularizada a situação da energia, previsto pela Cemig para esta manhã (de sábado). A estimativa é que o abastecimento seja normalizado, gradativamente, na tarde deste sábado (15/01)", esclareceu.
Já a Prefeitura de Nova Lima informou "que acompanha a situação de perto e já fez contato com a concessionária responsável para que o restabelecimento do serviço ocorra o mais rápido possível".
O governo também esclarece "que o fornecimento de água para a comunidade tem sido feito por caminhões-pipa da Copasa e Vale, além de distribuição de água mineral".
Estradas
Além da falta de água, moradores de Macacos enfrentam problemas para sair do distrito. Só nesta sexta, a principal via que liga o distrito à BR-356 teve sua liberação.
“Tem muita gente insegura, porque não há laudo que comprove a segurança dessa estrada. Ela ficou debaixo de água e lama por dias”, diz Fernanda Tuna.
De acordo com a moradora, Macacos não enfrentava enchentes antes da construção do muro de contenção da Barragem B3/B4, da Mina de Mar Azul, também da Vale.
A empresa ergueu a estrutura para conter os rejeitos do barramento em caso de desastre, já que a represa está com ameaça de colapso. Tal fato motivou até mesmo a evacuação de famílias em Macacos há quase três anos.
“Eu estou mais preocupada (agora) do que quanto tocou a sirene. Porque não estou vendo, no horizonte, a responsabilização da Vale nisso tudo. Essa construção faraônica vai sempre reter água de chuva? Foi tão mal planejada assim?”, reclama a moradora do distrito.
Em nota, a Vale confessou que o problema das inundações está ligado ao muro, mas informou que “o elevado volume de chuvas (acima de 520 milímetros desde o início deste ano” contribuiu para os alagamentos.
Essa quantidade está acima da capacidade de escoamento da estrutura, segundo a Vale. Esse esvaziamento acontece por meio do vertedouro do muro e suas comportas.
“Com a melhora da situação climática e gradual liberação dos acessos nas áreas afetadas, as equipes técnicas da Vale já se mobilizam para executar uma avaliação aprofundada e identificar melhorias necessárias na estrutura”, esclareceu a empresa.
“A Vale também está apoiando a prefeitura, a Defesa Civil e a Copasa com recursos e equipamentos para assistência à população e tem trabalhado, ainda, na desobstrução dos acessos à comunidade”, completou a mineradora.