Devastação

Serra da Moeda sofreu o pior incêndio dos últimos oito anos

Segundo o IEF, há indícios de crime, mas nenhum suspeito foi identificado pelas autoridades

Por Aline Peres
Publicado em 21 de setembro de 2020 | 03:00
 
 
 
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A vaca que tenta encontrar algum pasto próximo ao campo cinza devastado pelo fogo que atingiu a Serra da Moeda entre os últimos dias 11 e 15 de setembro é apenas um entre milhares de animais impactados pelo maior incêndio já registrado na região desde 2012, conforme a Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda).

A perda para a fauna local é incalculável, uma vez que, segundo a entidade, exemplares de várias espécies que habitam a área, como lobos-guará, onças-pardas, gatos-do-mato, raposas-do-campo, tamanduás-mirim, sauás (espécie de macaco), entre outras podem ter morrido em meio às chamas. 

De acordo com o Corpo de Bombeiros, o fogo só foi totalmente apagado às 17h35 da última terça-feira, 15, ou seja, 96 horas após o início das chamas. Levantamento parcial do Instituto Estadual de Florestas (IEF) indica que a área queimada é de 4.200 hectares (ha), sendo 1.000 ha no interior do Monumento Natural Estadual da Serra da Moeda e 3.200 ha na zona de amortecimento da área de preservação – em 2014, outro incêndio queimou 1.240 ha só dentro do monumento natural, instituído em setembro de 2010.

Ainda não há dados precisos sobre a dimensão do impacto à fauna local. No entanto, o relato do capitão dos bombeiros Warley de Paula Vieira Barbosa, do Batalhão de Emergências Ambientais e Respostas a Desastres (Bemad), deixa claro que os bichos foram grandes vítimas. “Colegas meus viram vários animais atingidos. Muitos mortos”, conta. 

Investigação

Segundo o Instituto Estadual de Florestas (IEF), há indícios de que o incêndio foi criminoso, mas nenhum suspeito foi identificado. A investigação vai ser conduzida pela Polícia Civil, mas o inquérito só será aberto após conclusão do Relatório de Ocorrência de Incêndio, que ainda está em elaboração.

Fora a fauna vitimada, o incêndio também ameaça as 163 nascentes que estão na Serra da Moeda e são a principal fonte de reposição dos rios das Velhas e Paraopeba, ambos afluentes do rio São Francisco e imprescindíveis à região metropolitana de Belo Horizonte, segundo o IEF. 

O prejuízo à paisagem cultural e à memória histórica presentes na região também foi grande, já que, segundo dados do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), há sítios arqueológicos na região.

Para o capitão Barbosa, os danos podem ser irreparáveis. “A gente pode perder espécies de fauna e flora que ficarão extintas”, lamenta.

O fogo que devastou a serra da Moeda começou às margens da BR–040, em Itabirito, na região Central de Minas. O biólogo Francisco Mourão Vasconcelos, 65, da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), avalia o cuidado com a vegetação nas margens da rodovia poderia ter evitado o fogo. 

“Desde 2016 insistimos com a Via 040 (concessionária responsável pela administração da estrada) em cumprir as normas de aceros e roçadas. Eles roçam uma faixa muito estreita, mas contra incêndio isso não funciona”, diz.</CW>
Resposta

Em nota, a Via 040 informou que “executa rotineiramente a limpeza e a roçada das margens da pista. Conforme determinado pelo contrato de concessão, a área roçada é de quatro metros a partir do bordo da pista e, somente em agosto, foram executados 1.453 quilômetros de roçada na BR–040”. 

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