O Italiano e Cozinha de Fogo

Sócio de restaurantes em BH questiona lockdown: 'precisamos de um plano de ação'

Nota emitida pelos restaurantes critica anúncio de fechamento do comércio feito dois dias após pronunciamento municipal sobre manter cidade aberta: ‘subitamente voltou atrás e sem uma justificativa plausível’

Por Lara Alves
Publicado em 07 de março de 2021 | 16:11
 
 
 
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Um dia após o início da aplicação de medidas de restrição para funcionamento do comércio em Belo Horizonte em função do crescimento dos números ligados à pandemia de coronavírus, o proprietário à frente dos restaurantes O Italiano, no bairro Olhos D’Água, na região Oeste da capital mineira, e Cozinha de Fogo Wäls, no Belvedere, na regional Centro-Sul, Vinícius Veloso, posicionou-se contrário ao anúncio, dito inesperado, da proibição do comércio não-essencial em BH.

Em nota emitida neste domingo (7), Veloso classificou como arbitrária a decisão da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) que, à tarde de sexta-feira (5), determinou pelo fechamento da cidade, e criticou o fato do pronunciamento ter sido feito dois dias após o anúncio de que cidade se manteria aberta em um primeiro momento. Ele relatou que as unidades gastronômicas prepararam estoques para Páscoa e St. Patricks Day, o que, segundo ele, acumulou-se à carga de prejuízos dos espaços nos últimos meses.

“Após o pronunciamento no dia 3 de março, refizemos os estoques dos nossos restaurantes, preparamos com carinho uma surpresa para as mulheres pelo seu dia, decoramos as casas para Páscoa e para comemoração do St. Patricks Day, e agora vemos nosso investimento ir embora, já não bastasse o tempo e prejuízo acumulados ao longo desse extenso período de abre/fecha da cidade”, declararam os restaurantes por meio de nota.

Além de criticar a recém tomada de decisão pela PBH, o proprietário ponderou sobre a ausência de um plano de ação do órgão municipal e cobrou que a gestão adote “uma direção efetiva urgente” na condução da pandemia de coronavírus e de suas consequências. “Vamos também cobrar com rigor uma respostas assertiva das autoridades competentes. Esse jogo de empurra tem que parar, precisamos de um plano de ação factível, e não de decisões instantâneas oriundas de um governo que não sabe para onde vai” – leia abaixo a nota na íntegra.

Por e-mail, a reportagem de O TEMPO solicitou um posicionamento da Prefeitura de Belo Horizonte sobre a nota emitida pelos restaurantes O Italiano e Cozinha de Fogo Wäls. Em resposta, o município lamentou os impactos econômicos em função da pandemia, e declarou que a prioridade é garantir assistência à saúde esclarecendo que o fechamento do comércio foi orientado por dados recentes sobre a presença de três novas variantes do coronavírus.

“Como informado durante a coletiva na sexta-feira (5), o fechamento das atividades econômicas foi decorrente dos dados que apontam a presença de três novas cepas (P1, P2 e 117) do coronavírus em dois terços dos infectados da capital – o que significa contaminação mais rápida e com sintomas mais graves”.

A PBH declarou também que o objetivo é reduzir a circulação de pessoas nas ruas, decisão também motivada pelo crescimento de sete pontos percentuais no índice de ocupação dos leitos de UTI e a infecção de oito crianças com idades entre dois meses e seis anos. “Todas as medidas implementadas pela prefeitura estão baseadas em critérios científicos e priorizam a vida. O resultado é que Belo Horizonte tem conseguido registrar a menor taxa de mortalidade entre as cidades com mais de 1 milhão de habitantes no Brasil”, afirmou – leia abaixo a nota na íntegra.

Fechamento do comércio

À tarde de sexta-feira (5), o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), convocou uma coletiva às pressas para revelar a suspensão completa de atividades não essenciais na capital mineira – medida que começou a valer às 14h desse sábado (6). Ele declarou que os indicadores atuais da pandemia de Covid-19 na cidade são “assustadores”.

De acordo com ele, há um grande alerta sobre a presença de variantes do coronavírus em BH, e indicou que a ocupação de leitos de UTI por pacientes infectados com o vírus ultrapassou 80%, atingindo nível vermelho de alerta. Em relação ao anúncio feito dois dias antes, na quarta-feira (3), Kalil citou ter sido “tomado por um otimismo enganoso e perigoso” após receber os números referentes aos índices – ocupação de leitos de UTI, enfermaria e transmissão por infectado (RT) – no meio da semana.

Leia na íntegra nota emitida pelos restaurantes O Italiano e Cozinha de Fogo Wäls: 

"A notícia do fechamento repentino do comércio mais uma vez nos pegou de surpresa. 
Infelizmente após a prefeitura de Belo Horizonte anunciar na quarta-feira que não havia a intenção desse ato, subitamente voltou atrás e sem uma justificativa plausível que já não pudesse existir na quarta, tomou essa decisão arbitrária.

Após o pronunciamento do Sr. Prefeito no dia 03 de março, refizemos os estoques dos nossos restaurantes, preparamos com carinho uma surpresa para as mulheres pelo seu dia, decoramos as casas para Páscoa e para comemoração do St. Patricks Day e agora vemos nosso investimento ir embora, já não bastasse o tempo e prejuízo acumulados ao longo desse extenso período de abre/fecha da cidade.

Temos mais de 100 famílias de funcionários que dependem diretamente do funcionamento dos nossos restaurantes, sem contar a cadeia produtiva de fornecedores e por aí vai. Não estamos falando apenas do prejuízo, estamos falando da falta de expectativa, de planejamento, hoje o governo diz uma coisa e amanhã volta atrás.

Estamos exatamente agora no mês de Março completando UM ANO de pandemia, e até o momento a prefeitura não apresentou um plano de ação para a cidade, e a população segue desorientada, jogada de um lado para o outro sem uma direção para seguir.

Registramos nossa indignação com essa postura da prefeitura de Belo Horizonte. 

Somos a favor da vida, da prevenção, estamos desde o início fazendo o nosso melhor, e continuaremos assim, mas o governo precisa apresentar uma direção efetiva urgente!

Vamos acreditar que em breve vai melhorar, por mais difícil que seja. 

Vamos crer que dias melhores virão, e vamos nos cuidar.

Mas vamos também cobrar com rigor uma resposta acertiva das autoridades competentes, esse jogo de empurra tem que parar, precisamos de uma PLANO DE AÇÃO factível e não de decisões instantâneas oriundas de um governo que não sabe para onde vai.

Agradecemos e continuamos contando com o apoio de todos!"

Leia na íntegra a nota da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH): 

"A Prefeitura de Belo Horizonte lamenta profundamente os impactos que vêm sendo causados pela pandemia, mas esclarece que a prioridade do Município é oferecer assistência à saúde e preservar vidas. O mundo vem lidando com algo novo e mutável e, por isso, de igual maneira, as respostas e ações do poder público devem ser ajustáveis e flexíveis, sempre orientadas pela ciência. Como informado durante a coletiva na sexta-feira (5), o fechamento das atividades econômicas foi decorrente dos  dados que apontam a presença de três novas cepas (P1, P2 e 117) do Coronavírus em dois terços dos infectados da capital – o que significa contaminação mais rápida e com sintomas mais graves.

Outros dois fatores motivaram a decisão: crescimento de sete pontos percentuais na ocupação de leitos de UTI (houve um salto de 74,4% para 81% nos dois últimos boletins epidemiológicos divulgados pela Prefeitura de Belo Horizonte) e a infecção de oito crianças com idades entre 2 meses e 6 anos – quatro delas já internadas em hospitais e quatro aguardando para internação. decorrente do aumento de casos de Covid-19 na cidade. O objetivo é diminuir o fluxo de pessoas nas ruas, em especial em momentos de lazer e sem uso de máscara. Na falta de uma ampla vacinação, medidas de isolamento social, com redução da circulação e contato de pessoas, tem se mostrado mais eficazes para conter a pandemia e preservar vidas. Não há nesse processo qualquer caráter punitivo ou de culpabilidade aos estabelecimentos.

Todas as medidas implementadas pela Prefeitura estão baseadas em critérios científicos e priorizam a vida. O resultado é que Belo Horizonte tem conseguido registrar a menor taxa de mortalidade entre as cidades com mais de 1 milhão de habitantes do Brasil."

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