O guru de meditação e estudioso de massagem tântrica, Tadeu Horta, ou Deva Nishok, de 61 anos, está sendo investigado pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e pela Polícia Civil por abusar sexualmente de uma ex-voluntária da comunidade terapêutica por ele fundada, que fica em Itapeva, no região Sul do Estado.
A informação é do jornal Folha de S. Paulo, que ouviu a ex-voluntária, responsável pelo inquérito estabelecido pela corporação policial, além de uma outra mulher, terapeuta, que diz ter sido assediada pelo guru.
A Polícia Civil comunicou que por se tratar de uma acusação de crime sexual, a investigação corre em segredo de justiça.
O promotor do Ministério Público responsável pela investigação comentou que o processo teve início no ano passado, após chegar à Promotoria de Justiça, na comarca de Camanducaia, a denúncia feita pela ex-frequentadora do local.
Ele explica que o relato da vítima é bastante detalhado e o suspeito teria aproveitado sua posição para comerter o abuso. "A apuração ainda se encontra em estado inicial, sobretudo por envolver uma série de testemunhas, de várias regiões do país, inclusive algumas residentes no exterior", afirmou o promotor por meio da assessoria do MPMG.
Procurado pela reportagem de O TEMPO, o advogado Valmir Moraes, que representa a Comunna Metamorfose e o guru, afirmou que a acusação não tem a mínima fundamentação e que as declarações são mentirosas. "É óbvio que o ataque tem como intenção desacreditar a filosofia do Tantra e de seu maior precursor", declarou em nota.
Entenda o caso
A ex-voluntária que acusa o homem de abuso sexual é estudante de psicologia e tem 24 anos, à Folha ela contou que trabalhou por dez dias na comunidade liderada por Nishok.
Segundo ela, o guru a convidou para uma massagem tântrica, mas não teria seguido as regras estipuladas. O homem chegou a pedir que a jovem tirasse a roupa e colocou a boca em seu genital. A ténica chamada de extrusão, ou sexo oral, só é usada em cursos entre casais, conforme explicação no site de Nishok.
A moça ainda teria pedido que ele parasse, ao que o guru teria respondido que aquilo era "uma oportunidade de aprendizado". À repórter do veículo paulista, a estudante explicou que chorou bastante e, só depois disso, o homem a liberou. Em um desabafo, ela contou que não reagiu, porque estava sozinha em uma comunidade isolada, sem sinal de celular.
Testemunhas ouvidas pela Folha contaram ainda que a jovem deixou a sala de atendimento em estado de choque. Muitas afirmaram que Nishok costuma ter um comportamento bastante agressivo. Uma outra ex-voluntária disse que chegou a receber inúmeros convites sexuais do guru ao longo de 2016.
Mulheres que tenham sido abusadas ou assediadas por Nishok podem procurar a promotoria de Camanducaia através do e-mail pj1camanducaia@mpmg.mp.br
Quem é Nishok?
Tadeu Horta é um terapeuta famoso no Brasil. Em seu site, ele explica que trabalha há 30 anos com processos energéticos de cura e se diz especializado em relacionamentos e sexualidade humana. A massagem tântrica é uma técnica usada para estimular que os indivíduos tenham experiência sexuais mais intensas.
Em sua comunidade, isolada no interior de Minas, o homem oferta aulas para formar terapeutas tântricos e cursos diversos, como um denominado "Renascimento nas Montanhas: terapias integradas de respiração". As aulas chegam a custar R$ 8.900 e o guru tem agenda lotada com turmas até o dia 22 de dezembro de 2019.
Na internet, ele se apresenta como um dos seguidores do controverso líder espiritual Osho. O indiano ganhou destaque em 2018, quando a Netflix lançou a série "Wild Wild Country", um especial documentário que pôs em xeque a fama do guru, acusado de inúmeros crimes, entre eles sonegação fiscal, ataque bioterrorista e tentativas de homicídio.
(Conheça a história de Osho, polêmico protagonista da série da Netflix)
Nota enviada pelo responsável jurídico pela comunidade afirma que Tadeu é o "maior estudioso do Tantra no Brasil" e que ele não pode ser confundido como "mestre religioso" ou "guru".
Resposta às acusações
Além de rebater todas as acusações da estudante de 24 anos e da terapeuta, o advogado Valmir Moraes explicou que Tadeu já estava à disposição da justiça para esclarecimentos. "Viemos a ter conhecimento de que uma infundada denúncia, a qual pela lei deveria estar sob segredo da justiça, veio a público (...) com o único intuito de prejudicar e difamar o Sr. Tadeu (...). Infelizmente quem perde é o Tantra", afirmou em nota.
A defesa acusou a reportagem de ser um "covarde ataque, desferido por motivos mesquinhos" e garantiu que, há 30 anos, o terapeuta se dedica "ao bem estar de milhares de pessoas no Brasil e no exterior, na incansável luta por disseminar a benéfica filosofia do amor".