Duas testemunhas ouvidas pela CPI de Brumadinho ao longo da tarde dessa segunda-feira (24), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), confirmam que explosões eram costumeiras no complexo minerário que abrigava as minas Córrego do Feijão e Jangada. Uma das detonações teria acontecido em 25 de janeiro, dia exato em que a barragem B1 se rompeu. Apesar disso, há divergência quanto o horário em que a explosão teria ocorrido.
O desastre completa cinco meses nesta terça-feira (25) e, desde então, bombeiros vasculham toda a área comprometida atrás dos corpos engolidos pela lama. São 246 óbitos confirmados e outras 24 pessoas permanecem desaparecidas, de acordo com boletim divulgado pela Defesa Civil Estadual há vinte dias.
O mecânico de mineração da empresa Sotreq, Eiichi Pampulini Osawa, e o aplicador de explosivos da Vale, Edmar de Rezende, foram os dois ouvidos pela comissão parlamentar. Ainda que os dois apresentem certas divergências em seus depoimentos, há pontos comuns.
Os dois concordaram que ninguém soube de qualquer recomendação da alemã Tüv Süd para evitar detonações ou movimentação de máquinas pesadas nas áreas próximas à barragem rompida. Ambos comentaram que as detonações na mina de Jangada eram quase diárias e, no Córrego do Feijão, aconteciam praticamente uma vez por semana.
Os funcionários foram pessoalmente atingidos pela tragédia. À CPI, Osawa contou que seu cunhado é um dos 24 desaparecidos desde o dia em que a lama desceu. "Estou sob tratamento psicológico e psiquiátrico no SUS de Brumadinho", contou.
Rezende confirmou ter perdido três primos no rompimento, sem falar em amigos que mantinha na empresa. "Eu mesmo poderia estar no restaurante (que foi destruído pela onda de rejeitos), por poucos minutos", comentou à comissão.
Divergências sobre horário da explosão no dia 25
Apesar de depoimentos semelhantes apresentados ao longo da CPI, um ponto fundamental gerou certa polêmica: o horário da explosão provocada em 25 de janeiro, próximo ao horário do rompimento da barragem, ocorrido às 12h28.
O mecânico da Sotreq informou aos presentes que a detonação teria ocorrido a cerca de um quilômetro da barragem B1, entre 12h20 e 12h40, sem saber precisar em que momento exato ocorreu. Ele confirmou que estava no local da detonação e a presenciou diretamente.
Edmar, por sua vez, relatou que a explosão teria acontecido exatamente às 13h33, pouco mais de uma hora após o rompimento da barragem. Responsável pelos explosivos, ele disse ter decidido executar a detonação pois não seria possível retirar os artefatos instalados.
Ainda segundo ele, seu chefe imediato teria morrido durante a tragédia e um vídeo em seu celular, exibido durante a reunião, confirma o horário da detonação por ele apontado. O mesmo é válido para um relatório de campo por ele produzido na mesma ocasião. Ele garante que a distância entre o local da explosão e a barragem rompida pode ser estimada em quatro quilômetros.
Diante dos depoimentos, responsáveis pela comissão parlamentar solicitaram o envio de um ofício à Vale solicitando que a mineradora apresente a lista de detonações realizadas nas minas Córrego do Feijão e Jangada, entre dezembro de 2018 e janeiro deste ano, além do registro das cargas utilizadas.
Outro lado
Em nota enviada à reportagem, a Vale informou que não houve uso de explosivos nas duas minas antes do rompimento da barragem B1. "Após a ruptura, por medida de segurança, foram realizadas duas detonações que já estavam programadas para ocorrer, em distância e com cargas seguras".
Ainda segundo a Vale, a atividade foi mantida para "eliminar qualquer risco vinculado à presença de furos carregados de explosivos no complexo do Córrego do Feijão".