Cerca de 3,8 mil

Uberlândia passa BH e é a cidade mineira com o maior número de casos de Covid-19

Dados municipais apontam que a cidade do Triângulo concentra 368 infectados a mais que a capital

Por Lara Alves, Natália Oliveira e Gabriel Moraes
Publicado em 16 de junho de 2020 | 16:49
 
 
 
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Uberlândia, no Triângulo Mineiro, é a cidade de Minas Gerais com o maior número de moradores diagnosticados com o coronavírus. Relatório municipal publicado na noite dessa segunda-feira (15) aponta para a existência de 3.855 moradores infectados na cidade – sendo que 85 deles testaram positivo para a doença no curto período de 24 horas contado entre domingo (14) e o dia seguinte. O número é maior que o existente em Belo Horizonte se comparados os dados das secretarias de Saúde dos dois municípios em questão, e principalmente preocupante se relacionado à população da cidade do Triângulo Mineiro.

Enquanto na capital são 3.487 moradores infectados diante de um universo de 2,5 milhões de habitantes, segundo dados estimados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em Uberlândia são cerca de 3.900 frente a população estimada de 691 mil moradores – número cerca de 3,6 vezes menor que o existente em Belo Horizonte.

Uma das explicações apontadas pela Secretaria Municipal de Saúde da cidade do Triângulo Mineiro para o elevado índice de infectados é a quantidade de testes aplicados atualmente. De acordo com o Executivo, 2.264 moradores são testados para cada cem mil habitantes. O número é, segundo o secretário Gladstone Rodrigues, 17 vezes maior que a média de testes aplicados no estado de Minas Gerais – onde são 136 para cada cem mil habitantes.

Os estabelecimentos comerciais não essenciais de Uberlândia começaram a reabrir as portas em esquema de escalonamento ainda em 27 de abril. À época permaneceram fechados alguns lugares onde tradicionalmente há maior aglomeração de pessoas, como bares, instituições de ensino, academias e casas noturnas. Os shoppings centers receberam autorização para retomar o funcionamento a partir de 2 de maio seguindo limites de ocupação máxima, monitoramento e determinações sobre a distância ideal entre clientes.

Com o crescimento na quantidade de infectados, a cidade decidiu suspender o escalonamento existente de horários para o comércio e liberar o funcionamento das 10h às 18h, entretanto surgiu uma proibição: apenas os estabelecimentos que prestam serviços essenciais poderiam abrir aos fins de semana. O aumento, aliás, acendeu um outro alerta na cidade: a taxa de ocupação dos leitos de Uberlândia atingiu a marca de 94% nessa segunda-feira. Atualmente existem apenas quatro leitos de UTI disponíveis na rede municipal.

Sem isolamento, nem leitos de UTI

O crescimento acelerado na quantidade de casos pode ser facilmente detectado se comparados os relatórios municipais de 15 de maio e 15 de junho. À primeira data, a cidade declarava a existência de 374 moradores infectados. Transcorrido um mês, o número cresceu assustadoramente dez vezes e ultrapassou a marca de 3.800 na noite dessa segunda-feira (15). O desrespeito da população às orientações para o recolhimento social é outro dos pontos usados pela Prefeitura Municipal de Uberlândia para esclarecer este aumento repentino.

Há uma semana, na terça-feira passada (9), quando havia cerca de 2.350 infectados na cidade, o prefeito Odelmo Leão (PP) declarou que o índice de isolamento social é baixíssimo, cerca de 39%. O número é 12% menor que a média estadual e está 31 pontos abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Ainda àquele dia, o secretário Gladstone Rodrigues declarou que se a taxa continuasse baixa, o número de leitos não será suficiente.

Com o crescimento no índice de infectados, a ocupação dos leitos de UTI e daqueles instalados em enfermarias tornou-se também outra aflição para o poder municipal. Atualmente, há 143 pacientes internados nas redes pública e privada de Uberlândia. Entretanto, o balanço do município não esclarece se estes todos testaram positivo para coronavírus ou também se são suspeitos para a doença.

A taxa de ocupação dos leitos de UTI próprios do município chegou a 94% na noite dessa segunda-feira (15) considerando pacientes com todas as enfermidades e não apenas os que estão em leitos separados para tratamento da Covid-19. Atualmente existem apenas quatro leitos de UTI disponíveis na rede municipal, sendo que nove haviam sido abertos apenas na sexta-feira passada (12).

“Apesar dos esforços empenhados pelo município e uma situação mais promissora em relação ao país e mesmo ao Estado, é preciso ficarmos atentos porque é urgente o achatamento da curva de contaminação. Na rede municipal, temos atualmente 29 leitos de UTI criados exclusivamente para tratar dos casos mais graves da doença. Abrimos nove leitos novos apenas na última sexta-feira (12), e ainda assim, considerando todos os leitos disponíveis na Rede Pública Municipal, nossa taxa de ocupação hoje está em 94%. O prefeito autorizou a abertura de mais dez leitos. No entanto, é essencial que a disseminação do vírus fique mais lenta para que consigamos oferecer atendimento médico adequado a todos”, disse o secretário Gladstone Rodrigues em nota no site da prefeitura nessa segunda-feira.

Comércio

Após uma primeira onda de crescimento na quantidade de infectados em Uberlândia, o município decidiu suspender o escalonamento para abertura dos estabelecimentos comerciais. A medida válida até 3 de junho dividia em seis grupos as empresas por tipo de comércio e cada um deles possuía um horário certo para abrir. O grupo A, por exemplo, composto por restaurantes em pontos de parada e padarias, deveria iniciar suas atividades entre 5h e 6h. O grupo E, entretanto, que é integrado pelos shoppings, só poderia abrir as portas a partir das 12h.

Com a suspensão dessa determinação, os estabelecimentos comerciais receberam uma ordem para abrir no horário exclusivo de 10h às 18h, sem maiores restrições. Esta medida se aplica também a bares que vendem comida e restaurantes. Entretanto, a contrapartida para a liberação de horários foi a proibição da abertura de estabelecimentos não essenciais aos sábados e domingos. Academias, casas noturnas, cinemas e instituições de ensino permanecem fechados e sem perspectiva de reabertura.

Medidas

Em contato com a reportagem de O TEMPO, o coordenador de Urgência e Emergência do município, Clauber Lourenço, além de enfatizar o ritmo de testagens da população, ele destacou o trabalho que a prefeitura tem feito para proteger as pessoas. "Uberlândia fez um pouco diferente na questão do hospital de campanha. Ao invés de um local tradicional, existia na cidade um antigo hospital que estava fechado, e conseguimos pegar ele emprestado", disse.

"Nós abrimos extra no município 84 leitos de enfermaria e 29 de UTI na rede pública exclusivos para o tratamento dos pacientes com coronavírus. Nós também começamos a adquirir os insumos antecipadamente, assim que a gente percebeu que a doença não ficaria restrita no território chinês. Felizmente nós ainda temos uma quantidade de produtos, pois nos preparamos para isso", completa.

"Temos no entorno 27 municípios, e todos eles têm sido atendidos na universidade (UFU), mas estamos tentando não sobrecarregar a instituição, centralizando neste hospital montado, que foi com recursos do município, e permitir que a universidade atenda as demais cidades", pondera.

Divergência

O relatório da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) não coincide com o do município de Uberlândia em relação à quantidade de casos e óbitos na cidade. Segundo o documento do Estado, atualizado na manhã desta terça-feira (16), Uberlândia é a segunda cidade de Minas Gerais o com maior número de moradores infectados. A pasta declara são 2.135 diagnósticos positivos para a Covid-19 na cidade, e 41 mortes causadas pela doença.

Através de nota, a Saúde esclareceu que quem notifica os casos primeiramente são os próprios municípios. “Sendo assim, a SES-MG só insere os dados em seu boletim epidemiológico quando recebe a notificação oficial do município dos casos”, declarou a secretaria. Quanto os óbitos, o órgão pontuou que são necessários em média 3 a 4 dias para que a morte seja confirmada. 

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