Investigações

Um mês após morte em Vila Barraginha, PMs são alvos de mais cinco denúncias

De 16 de julho até esta segunda-feira (15), outros casos de possíveis abusos policiais foram denunciados

Por Tatiana Lagôa e Rayllan Oliveira
Publicado em 15 de agosto de 2022 | 17:54
 
 
 
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Um mês após o assassinato de Marcos Vinicius Vieira Couto, conhecido como Marquinhos, de 29 anos, por um policial em serviço na Vila Barraginha, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, ainda não há uma definição se o militar envolvido é culpado ou inocente. Desde aquele dia 16 de julho até esta segunda-feira, 15 de agosto, ocorreram pelo menos cinco novos casos de denúncias de possíveis ações de uso de desproporcional da força por policiais militares em Minas Gerais. 

O último caso aconteceu nesse fim de semana, quando policiais espancaram um homem em praça pública na cidade de Paineiras, na região Central do Estado. O policial, que já é investigado por outras denúncias de possíveis abusos de autoridade, foi transferido para outra cidade nesta segunda-feira. A corporação não informou a localidade onde ele vai atuar por questão de segurança.  

No Brasil, foram 6.145 mortes em decorrência de intervenções policiais, sendo 30 delas em Minas Gerais, em 2021. O Estado foi o que apresentou o menor índice de letalidade policial no ano passado, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.  

A reportagem solicitou dados de denúncias de possíveis abusos policiais à Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp). A assessoria de imprensa do órgão explicou que esse levantamento é feito pelas próprias polícias Militar e Civil e aconselhou o contato com as instituições. Procuradas, a PM e a PC não informaram os casos em apuração.  

O advogado e membro da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, em Minas Gerais, Willian Santos, acredita que falta ao Estado disponibilizar mais recursos tecnológicos para as Forças de Segurança de forma a permitir que a atuação dos policiais seja pautada pelos serviços de inteligência de forma preventiva e, em último caso, de combate.  

“O sujeito começa a se sentir poderoso, então ele é uma polícia ofensiva", disse Santos em relação a atuação dos militares no combate. Para ele, os profissionais precisam de um novo processo de formação, que integra questões da atualidade como o racismo, além de cursos de reciclagem.  "A pessoa que representa o Estado não deve colocar terror na sociedade", pontua em relação a necessidade dos cursos. 

Veja alguns casos de abordagens policiais com suspeita de uso excessivo de violência em um mês 

16 de julho: Marcos Vinicius Vieira Couto, conhecido como Marquinhos, de 29 anos, foi assassinado à queima roupa por um Policial Militar, em Vila Barraginha, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. O boletim de ocorrência informa que o homem estaria se envolvendo em brigas no local e que o rapaz não teria obedecido às advertências verbais e tentado desarmar o militar. O policial chegou a ser preso, mas aguarda julgamento em liberdade.  

06 de agosto: A filha de Marco Pedroza ficou ferida ao ser atingida por uma bomba de efeito moral em partida entre Cruzeiro e Tombense, no Mineirão, em Belo Horizonte. A criança é cardiopata e tem síndrome de Down. A Minas Arena informou que teve conhecimento do fato e fez contato com a família para prestar assistência. A PM não se pronunciou.  

7 de agosto: O motofretista André Martins, 21, foi agredido enquanto fazia uma entrega de comida, no bairro Funcionários em Contagem, na região metropolitana. Segundo a versão da vítima, os agentes de segurança ainda teriam comido o lanche que ele iria entregar. Os policiais alegam no boletim de ocorrência que duas pessoas em “atitude suspeita” e fazendo “manobras perigosas” correram quando viram a viatura. Por essa razão, o policial o teria imobilizado.  

07 de agosto:  Flávia Nathania Faria, de 26 anos, foi espancada por policiais militares por ouvir som alto, em Planura, no Triângulo Mineiro. Ela teve derramamento de sangue dos vasos sanguíneos na região do olho esquerdo, além do acúmulo de sangue seco na narina. Ela foi agredida com chutes e socos por um policial, sendo que um dos golpes teria sido em direção a sua região genital, segundo a vítima. Os policiais relatam que receberam diversas denúncias de som alto no imóvel onde Flávia, o marido e um casal de amigos se encontravam. Os militares contam que foram recebidos de forma hostil por Flávia. Segundo os relatos, ela teria xingado os militares, além de morder a mão de um dos policiais. 

13 de agosto: O fazendeiro Marcos Mendonça Gonçalves, de 23 anos, foi agredido por policiais militares, com socos no rosto, até desmaiar em Paineiras, na região Central de Minas Gerais. Os militares alegam que o jovem estaria soltando bombas na praça da cidade. Testemunhas negam que ele estivesse envolvido no fato. Imagens mostram que a namorada dele, de 18 anos, também foi agredida durante a abordagem. O policial foi transferido para outra região.  

14 de agosto: Uma abordagem policial revoltou moradores do bairro Vila Esperança II, em Juiz de Fora, na região da Zona da Mata, em Minas Gerais. Populares denunciam uso excessivo da força durante uma ação na tarde de domingo. Seis pessoas foram presas e uma precisou ser encaminhada para atendimento médico no Hospital de Pronto Socorro Dr. Mozart Teixeira (HPS). Imagens mostram militares atirando com armas de bala de borracha na direção de civis. De acordo com a Polícia Militar, a confusão teve início durante uma abordagem onde os policiais foram hostilizados depois que cobraram de um dos envolvidos o documento atrasado do veículo de um dos homens abordados. 

 

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