Golpe

Venda de vagas para o curso de medicina na UFMG movimentou mais de R$ 1 milhão

Um dos compradores pagou R$ 250 mil por cadeira na universidade; contrato era feito com documentos falsificados incluindo assinatura e timbre da Federal

Por Aline Peres
Publicado em 14 de setembro de 2020 | 15:32
 
 
 
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Pelo menos dez pessoas tentaram entrar ilegalmente no curso de medicina da UFMG por esquema de compra de vagas oferecidas por estelionatários. De acordo com informações da Polícia Federal (PF), em um dos casos, o comprador pagou R$ 250 mil pelo ingresso na universidade sem o processo seletivo. As vagas, no entanto, não existiam e todo esquema tratava-se de um golpe desmascarado nesta segunda-feira (14) por meio da operação “Hipócrates”.

Com as investigações ainda em curso, a PF estima que o número de pessoas que tentaram entrar ilegalmente na universidade seja ainda maior e inclua compradores em todo país. Vagas em outras universidades também podem ter sido oferecidas pela organização criminosa.

Desde o primeiro semestre de 2019 até esta segunda-feira (14), quando a Polícia Federal deflagrou a operação para cumprir mandados de busca e apreensão e bloqueio judicial dos suspeitos, a quadrilha havia movimentado mais de R$ 1 milhão, apontam as investigações. Três mandados foram cumpridos nos municípios de Contagem/MG, Goiânia/GO e Rio de Janeiro/RJ. A PF trabalha com a suspeita de pelo menos 8 envolvidos no esquema criminoso. Nos locais foram apreendidos documentos, conforme a PF.

Conforme explica a PF, as investigações começaram após os compradores da vaga entrarem em contato com a UFMG. Posteriormente, a própria Federal foi quem acionou a polícia para informar das reclamações. 

“A faculdade de medicina começou a receber algumas reclamações de pessoas que queriam saber da vaga que elas teriam comprado e que teriam pago certo valor, assinado documentos e contratos", conta o delegado Adriano Gechele de Freitas, da Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários (Delefaz).

Ainda segundo as investigações, as vagas eram oferecidas em redes sociais de cursinhos pré-vestibulares e as negociações para vagas da Federal, feitas dentro da própria universidade.

“O caso que originou esse inquérito foram para vagas negociadas na UFMG no primeiro semestre de 2019. As vítimas assinavam contrato com assinatura de servidores da Federal. Eles (os suspeitos) montavam documento com timbre da UFMG e negociavam em algum local dentro da própria universidade”, explica o delegado Freitas.

Segundo a PF, até o momento as investigações não indicam participação de servidores da UFMG, nem de médicos no esquema da venda de vagas. 

Compradores serão ouvidos

O delegado explica que as pessoas que caíram do golpe serão ouvidas, mas, elas não respondem por crime. “Essas pessoas vão prestar os devidos esclarecimentos também. Elas agiram errado porque não se compra vaga em nenhuma faculdade, mas nesse caso foram vítimas de um golpe e a princípio não há crime para elas”, pondera o Freitas.

Sobre o valor que elas perderam com a falsa promessa de vagas, o Freitas explica. “Houve bloqueio judicial de conta bancária dos suspeitos e a investigação vai continuar. A Justiça vai decidir sobre esses valores. A devolução para as vítimas vai ser objeto de análise do Judiciário”, esclarece .

UFMG esclarece

A versão da PF de que as investigações tiveram origem em denúncias apresentadas pela UFMG foi confirmada pela instituição. "Partiu da Universidade a solicitação pela investigação ao ter conhecimento da existência de pessoas que estavam reivindicando o acesso a vagas por meio do suposto esquema", informou, por meio de nota.  

Ainda segundo a Federal só existe uma forma de ingresso nos cursos. "A UFMG ressalta que a única forma de entrada de estudantes em todos os seus 91 cursos de graduação se dá por meio do Sisu (Sistema de Seleção Unificada), gerido pelo Ministério da Educação", esclarece.

Se vagas existissem, compradores responderiam por crime

As pessoas que caíram no golpe das vagas no curso de medicina não respondem por crime, já que as vagas eram inexistentes. A Polícia Federal esclarece, no entanto, que caso a possibilidade de entrar na faculdade pelo meio ilícito fosse real essas pessoas poderiam ser penalizadas.   

"Não há crime,  porque as vagas nunca existiram. Se eles realmente entrassem na faculdade, teriam, em tese, praticado crimes de estelionato, falsidade documental, associação criminosa" esclarece a PF. Para esses crimes a pena varia de 3 a 6 anos de prisão.

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