Desde a última sexta-feira (25), os filhos de 12 e de 1 ano e 11 meses do eletricista Ícaro Douglas Alves, de 33 anos, aguardam com a bola na mão a chegada do pai para brincar de futebol. Alves era esperado com ansiedade pela família, que mora em Ipatinga, no Vale do Aço, e viajaria para a cidade no dia da tragédia para comemorar o aniversário, que é daqui a três dias. Há cinco meses, ele mora em Brumadinho, na região metropolitana, para trabalhar, e viaja a cada 15 dias para ver os filhos e a esposa na terra natal. Ele estava trabalhando na mina de Feijão quando a barragem da Vale rompeu. "Mataram a esperança", diz família.
Douglas, "Doug" ou "Dogão" como costuma ser chamado, passou a semana da tragédia mandando mensagens para a esposa com a contagem regressiva para a viagem. "Dois dias", "um dia para eu chegar", ele dizia.
Em um vídeo recebido pelo irmão dele, Washington Luciano Alves, de 36 anos, que trabalha como encarregado de mecânica, é possível ouvir amigos de Alves gritando logo após o rompimento da barragem: "Dougão, Dougão", diziam. No mesmo vídeo, os trabalhadores lamentam: "Morreu, véi. Todo mundo que tava lá morreu".
Segundo o irmão da vítima, Alves chegou a contar para a família sobre um vazamento na barragem. "Isso não foi acidente. Isso é homicídio. Meu irmão reportou que estava tendo vazamento na barragem, eles sabiam que estava tendo vazamento, e colocaram pessoal para trabalhar embaixo da barragem. Isso para mim é assassinato", disse.
Ainda segundo o irmão da vítima, amigos chegaram a mostrar em que local Alves estaria trabalhando mas, de acordo com ele, o lugar ainda não foi acessado pelas equipes de resgate por se tratar de uma área de risco. "Estão matando a esperança, mas eu tenho fé. Chamaram meu irmão três vezes e na quarta ele não respondeu. Ele pode estar desmaiado ou em coma e o socorro não foi até lá. A família está toda triste. Não tem o que falar. Toda hora corremos com a minha mãe para o hospital porque a pressão dela está alta. Lá em casa somos só eu, minha mãe, meu irmão, a esposa dele e os dois filhos. O filho dele toda hora pergunta 'tio, cadê o meu pai que não chega?'. A criança está revoltada e eu não tenho resposta para dar", lamentou.
Nesta quarta-feira (30), os familiares do eletricista tentarão apontar para os bombeiros o local onde a vítima trabalhava no momento da tragédia.