Patrimônio cultural de Minas

Votação do tombamento da Serra do Curral deve ser concluído em seis meses

Mais que um cartão-postal, complexo que atravessa BH, Nova Lima e Sabará é considerado um marco para a ocupação da região e abriga grande biodiversidade

Por Lucas Morais
Publicado em 03 de janeiro de 2022 | 03:00
 
 
 
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No alto do horizonte, um paredão rochoso que marcou a história secular de toda uma região. Muito mais que um cartão-postal, a Serra do Curral, entre a capital mineira, Nova Lima e Sabará, é palco da biodiversidade. Mesmo assim, segue sendo ameaçada até hoje pela mineração e a expansão urbana. Desde o ano passado, o complexo é alvo de estudos para ser tombado como patrimônio cultural de Minas Gerais e, conforme a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo, a expectativa é que a votação seja concluída em até seis meses.

Atualmente, apenas pequenos trechos da serra tiveram o tombamento aprovado no âmbito municipal e federal. Já o novo estudo, coordenado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), abrange uma extensa área entre os três municípios para além da crista e pode proteger pontos sensíveis para a mineração. Em dezembro, o secretário de Cultura, Leônidas Oliveira, chegou a ser questionado sobre a demora do processo na Assembleia: o tombamento foi solicitado em maio, porém foram necessárias pesquisas complementares.

De acordo com a pasta, o dossiê final será apresentado ao Conselho Estadual do Patrimônio Cultural, que vai conduzir a votação. Professor e pesquisador sobre a história de Belo Horizonte, Alessandro Borsagli disse que o tombamento da serra é crucial para evitar ainda mais degradação ambiental. "Considero a região uma pérola ecossistêmica em meio a esse grande adensamento urbano que temos não só em Belo Horizonte, mas também em Nova Lima. E temos que pensar a serra não só como um paredão, mas em todo o complexo de 93 km de extensão da qual ela faz parte, o que envolve também serras como Mutuca, Rola Moça, Três Irmãos", enfatizou.

O ambientalista pontuou ainda que a Serra do Curral abriga várias nascentes de água que contribuem para o abastecimento de toda a região metropolitana, além de abrigar inclusive espécies da flora que só são encontradas na área. "Sempre foi considerada um marco geográfico na paisagem urbana. Além disso, temos espécies como canelas de ema, bromélias e orquídeas de várias variedades. É um refúgio da vida silvestre em meio à intensa urbanização", enfatizou.

Leia também: Abundância de córregos e nascentes atraiu primeiras ocupações na Serra do Curral

Serra já perdeu 1,5 km do perfil

No século passado, a mineração provocou grandes impactos por toda a Serra do Curral. É o que contou Alessandro Borsagli, que já escreveu dois livros com informações históricas da região. "A principal degradação foi a alteração do perfil da serra promovido a partir de 1973, que mudou cerca de 1,5 km do perfil. Antes, também começava na Praça Milton Campos e não se restringia, na capital, apenas ao paredão", enfatizou. Além disso, o adensamento urbano pressionou ainda mais a área, com loteamentos nas localidades que não eram interessantes às mineradoras.

"A serra foi sendo atacada de várias maneiras, pela mineração, urbanização e as perdas que vêm sofrendo sucessivamente com a questão da expansão do tecido urbano em áreas que não deveriam ser habitadas, como a região da Lagoa Seca", enfatizou. E novas tentativas de exploração da serra não estão muito distantes: depois de quase 15 anos praticamente erradicadas, a mineração voltou a preocupar órgãos ambientais e especialistas após mudanças no volume de córregos do Parque Estadual da Baleia, na região Leste, em 2018. 

Após estudos, foi descoberto que uma empresa usou a licença municipal para recuperar uma área de 66 hectares como pano de fundo para retirar minério de ferro. O caso inclusive chegou a ser tema de uma CPI na Câmara Municipal. "Infelizmente, dependemos do poder público para evitar essas ações, que na maioria das vezes acaba submisso às grandes corporações que têm interesse econômico em explorar a serra. Ela é o filé mignon do minério, e querem entrar de qualquer maneira. Nessa época, a área explorada no Taquaril virou um buraco que inclusive secou cursos d'água", disse Borsagli.

 

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