Negociata espacial

Trump prepara tratado para conceder terrenos na Lua para mineração

Segundo uma reportagem da agência Reuters, o governo americano está preparando o arcabouço legal para permitir a extração mineral no satélite natural da Terra

Por Folhapress
Publicado em 06 de maio de 2020 | 18:06
 
 
 
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O governo de Donald Trump está interessado em terrenos na Lua - e já propõe entregar as áreas, no caso para mineração, com direito garantido a segurança contra rivais.

Parece piada, ainda mais em meio à pandemia do coronavírus, mas é real.
Segundo uma reportagem da agência Reuters, o governo americano está preparando o arcabouço legal para permitir a extração mineral no satélite natural da Terra, que será ofertado em forma de tratado a seus aliados mais próximos.

Os chamados Acordos Artemis retiram o nome do novo programa lunar americano, que prevê a volta de humanos ao satélite, algo que não acontece desde 1972, e o estabelecimento de uma base a partir de 2024.

A Casa Branca não negou o teor da reportagem, publicada na terça (5). Segundo ela, as licenças de mineração seriam ofertadas não para Rússia ou China, países com sofisticados programas espaciais e rivais geopolíticos de Washington, mas para empresas de aliados europeus, do Canadá, Japão e Emirados Árabes Unidos.

Mais: haveria a inclusão de zonas de segurança nas áreas de mineração, o que sugere uma militarização que vai contra o princípio definido no Tratado sobre o Espaço Exterior, de 1967, assinado no auge da disputa entre americanos e soviéticos sobre a primazia fora da Terra e hoje válido em 109 países.

A iniciativa em si transpira o modo Trump de negociar, sempre fugindo dos organismos multilaterais que dominam a diplomacia internacional desde o pós-Segunda Guerra.

Não que seja sua exclusividade. Seu antecessor, Barack Obama, a quem Trump impinge a pecha de globalista, fez passar uma lei em 2015 garantindo direitos de mineração lunar a quem conseguisse chegar até lá.

O motivo é um buraco no tratado de 1967, que só é explícito contra a posse territorial de corpos celestes por parte de Estados -basicamente porque empresas construindo foguetes para ir à Lua extrair minério fosse coisa de ficção científica na época.

O potencial econômico da Lua é enorme, ainda que suas condições sejam terríveis, a começar pela amplitude térmica de 173 graus negativos a 127 graus positivos. Pesquisas com sondas identificaram a presença de água subterrânea, provavelmente congelada, hélio-3 e vários metais raros em seu subsolo.

A água seria imprescindível para a manutenção de trabalhadores no local e para fazer combustível de foguetes. O hélio-3 poderia ser gaseificado e trazido para a Terra, onde é visto como um dos elementos futuros da indústria de energia.

E os metais raros, como o escândio, estão em toda sorte de aparelhos eletrônicos do mundo -e 90% de suas reservas, que vão durar talvez 20 anos, estão na China. Assim, é fácil entender o interesse americano.

Por isso o Artemis (nome da deusa grega associada à Lua, irmã gêmea de Apolo, que deu nome ao primeiro programa lunar americano) foi criado, em 2017.

É um programa coordenado pela Nasa, orçado em US$ 35 bilhões (quase R$ 200 bilhões), mas que emprega recursos da iniciativa privada. São subcontratadas, entre outras, a Blue Origin, do magnata Jeff Bezos, e a SpaceX, do bilionário Elon Musk.

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