Mesmo que fazer o público chorar não seja a intenção do espetáculo, Bia Bedran entende perfeitamente quando vê alguém vertendo lágrimas na plateia – no caso, o público adulto. É que, apesar de ser uma investida pensada para encantar, “Canções, Histórias e Brincadeiras Musicais” acaba evocando emoções variadas nos pais que acompanham a petizada ao teatro. Recente – estreou em maio, em Niterói, onde Bia nasceu, e atualmente está em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema –, o show, que chega agora à capital mineira, apresenta, como ela frisa, uma arquitetura de roteiro nova, apesar de incluir “coisas mais antigas” (mas também algumas inéditas).
No palco, Bia conta com o auxílio luxuoso do trio musical Cabeça de Vento. “É uma formação pequena, mas que dá conta”, afiança. A meta é passar a ideia de a trupe estar em uma biblioteca, “onde se brinca, se canta e se conta”. “Em BH, vamos tentar montar o cenário o mais próximo possível daquele do Rio, mesmo que não consigamos levá-lo inteiro”, diz ela, que vai se apresentar no próximo domingo, no Teatro do Centro Cultural Minas Tênis Clube (CCMTC).
Instada a falar sobre a faixa etária a que a iniciativa se destina, Bia ressalta que seu projeto, independentemente da montagem, almeja um resultado poeticamente bonito, que permita várias leituras. “Em meio às brincadeiras, há, por exemplo, alertas sobre a poluição do planeta, do tipo: ‘como podemos sujar a água que vamos beber?’. Bem, então, sei que a criança de 7, 8 anos, que já aprendeu a ler, aproveita demais, sai correndo para procurar mais sobre o tema nos livros. Mas a que ainda não sabe (ler) acaba indo pelo lúdico, porque é um espetáculo que tem muita movimentação e que é muito colorido”, enfatiza a artista.
E por falar em movimentação, Bia Bedran conta que acaba de se submeter a uma cirurgia no ombro. Mesmo assim, não pretende ficar sentada em cena: “Bem, em alguns momentos, sim, pois é como se eu estivesse na biblioteca. Brinco como se aquele momento fosse o ato da criação”.
E, claro, o público inclui, ainda, os adultos, citados no início da matéria. “Como sempre insisti na pesquisa profunda dos quereres da infância, uma fase na qual a pureza da investigação não pode ser substituída pelo consumismo – acho que meu trabalho é como todo aquele destinado ao público infantojuvenil deveria ser, e sim, há um produto –, tenho interesse em vender música e livro. Mas, nos dias atuais, o que vemos é que a criançada quer ter e ter e ter mais e mais. E meu trabalho reinstala um momento mágico no qual o que importa não é o ter, mas o ser”, defende.
E é essa a chave que comove adultos. “Eles são tocados ao ver o filho, ainda que por um momento tão breve, ocupado com algo que não o ‘compra, compra’ ou o ‘quero, quero’. Quem era criança e me via na TV tem, hoje, sei lá, 38 anos. E agora leva o filho para me ver. E ao ouvir aquelas músicas, aquela linguagem, acaba chorando de emoção. Isso me toca muito”, conta. Bia salienta que, ao longo de sua trajetória, já compôs dezenas de canções. “Mas, hoje, com todo mundo na web, não se vende mais CDs; tem gente que nem tem mais o aparelho. Os livros, porém, estão disponíveis, e atingem essas crianças. Então, estou muito feliz”, salienta.
Serviço. Bia Bedran se apresenta pelo projeto Diversão em Cena Arcelor Mittal, no domingo, às 16h, no Teatro do Centro Cultural Minas Tênis Clube (rua da Bahia 2.244, Lourdes). R$ 20 (inteira).