A edição de 2018 do Festival Internacional de Teatro (FIT-BH) se encerrou na noite desse domingo (23). Após 11 dias de programação intensa, a Fundação Municipal de Cultura apresentou os número do festival, que foram bastante parecidos com edições anteriores. A começar pelo portentoso orçamento do evento de R$ 3,6 milhões, um pouco maior do que na edição anterior, de 2016: R$ 3,4 milhões.
A curadoria do festival - composta por Grace Passô, Soraya Martins e Luciana Romagnolli e os curadores assistentes Anderson Feliciano, Dani Small e Luciane Ramos - apostou no eixo temático chamado de “corpo-dialeto” para compor a programação do FIT.
Uma das escolhas marcantes do festival, em 2018, foi contemplar espetáculos vindos do Nordeste brasileiro e não apenas do eixo Rio-São Paulo. Os espetáculos nordestinos representaram dois terços da programação nacional.
“Sinto que conseguimos apresentar para a cidade uma programação teatral que se comunicou com muitos públicos, propiciou experiências estéticas significativas e suscitou diversas reflexões críticas sobre as muitas possibilidades da linguagem teatral, as potências do corpo e do coletivo, as relações entre estética e política, as formas de violência física e simbólica na nossa sociedade, os modos como contamos nossas histórias, quem está incluído e quem está excluído nesse "nós" (e por quais processos essa exclusão se faz)”, destaca Luciana Romagnolli.
Para ela, o festival conseguiu cumprir seus objetivos. “Houve algumas resistências iniciais, que são comuns diante de qualquer proposta que extrapole expectativas de um determinado grupo social sobre um evento tradicional como o FIT. E sempre haverá uma parcela de pessoas conservadoras que gostaria de manter as estruturas (e suas formas de exclusão) inabaladas. Mas houve também, desde o início, grupos que se sentiram enfim contemplados”, pontua Luciana.
“Acho que não é demais dizer que tivemos um FIT histórico, por alguns motivos: pela seleção das curadoras via edital e também porque trouxe questões sobre o teatro e estéticas contemporâneas aliadas a um pensamento político”, destaca Fabíola Moulin, presidente da Fundação Municipal de Cultura.
Números. Segundo números levantados pela Fundação Municipal de Cultura, cerca de 25 mil pessoas estiveram presentes nas atrações do FIT. O festival ocupou 37 espaços diferentes na cidade, entre teatros, espaços alternativos e rua, com 280 artistas envolvidos de 12 países participantes. Foram 30 espetáculos que fizeram 59 apresentações.
Aqui, uma diferença para os FITs anteriores: os espetáculos deste ano contaram com menos apresentações, média de duas. Como a equipe de curadoria teve pouco tempo para definir os espetáculos convidados para o festival, a produção esbarrou em dificuldades para conseguir agenda com os artistas pretendidos. Consequentemente, menos apresentações e custos elevados, por conta do convite de última hora.
A presidente da fundação lembra que houve um período de adaptação da nova gestão, a recriação da Secretaria Municipal de Cultura para enfim começarem a executar as ações previstas no calendário.
“É claro que tudo isso se reflete no tempo. Quando você tem uma gestão nova, naturalmente temos um processo. Gostaríamos de retomar o processo de escuta com a cidade para avaliar o festival, mas o importante é destacar que o resultado é positivo e o quanto o festival é importante para a cidade. A cada edição, tentamos melhorar”, garante Fabíola.
Destaques. A equipe de curadoras e a presidente da fundação, polida e politicamente, preferiram não mostrar suas preferências em relação aos espetáculos trazidos à cidade por conta do FIT. Faz sentido. Entretanto, com a cobertura in loco do festival, é possível destacar alguns espetáculos.
“Black Off”, “A Invenção do Nordeste”, “Simón, el Topo”, “Isto é um Negro?”, “Eve”, “Unwanted” estão certamente entre os que mais chamaram a atenção e sensibilizaram a plateia do FIT.
O que eles têm comum - e aqui, há um grande mérito da equipe de curadores - é o caminho por narrativas diferentes não consolidadas e hegemônicas. Também o desejo por construir narrativas em torno de temas e estratos sociais geralmente negligenciados por um teatro e uma lógica eurocentristas.
“No dia a dia do festival, presenciei a mobilização de muitos grupos sociais nas plateias e vi reações muito intensas de público, como diante de Black Off e Unwanted, entre outras tantas peças. Com tão pouco tempo de construção, ver isso se concretizar foi uma grande alegria”, reflete Luciana.
Os números do FIT-BH 2018:
Estimativa de mais de 25 mil pessoas atraídas pelo festival
37 espaços (teatros, espaços alternativos e rua)
280 artistas envolvidos
100 profissionais da cultura de BH contratados
12 países participantes
30 espetáculos
59 apresentações
49 ações paralelas (palestras, intercâmbios, residências, sessões de leitura, oficina, mostra de filme etc.)