Surgidas das entranhas da música mineira nos anos 90 e tendo o rock como leite materno, as bandas Cartoon, Cálix e Somba lançaram discos de qualidade ao longo dos anos. E apesar de algumas diferenças entre elas, havia pontos de encontro que fizeram com que essa trinca tomasse uma decisão audaciosa: formarem, juntas, a Orquestra Mineira de Rock, que está completando duas décadas de vida com um show especial neste domingo, às 19h30, no Palácio das Artes.
Ao todo, são 13 integrantes = sendo cinco do Cálix, quatro do Somba e quatro do Cartoon –, que, nesta simbiose musical, destilam canções dos três grupos e clássicos do rock, de Beatles a Queen, com direito a vários coros e arranjos bem peculiares. Fazendo um paralelo com o mundo das HQs, é como se a Orquestra Mineira de Rock fosse uma espécie de “Liga da Justiça”, em que os integrantes e as bandas juntam seus ‘superpoderes’ que resultam em uma instituição impactante.
“É realmente raro ver algo assim como a orquestra. É uma proposta única, com aquela história de que o todo é maior que as partes. Visual e emocionalmente falando, parece ser maior que qualquer uma das bandas. A orquestra tem uma coisa a mais. É tudo que a gente queria, em termos de poder tocar e compor com estrutura e bons companheiros”, ressalta o guitarrista Guilherme Castro, do Somba.
O baixista e violonista Khadhu, do Cartoon, assina embaixo. “A orquestra se tornou um trabalho com vida própria, independentemente do fato de as três bandas serem citadas. É um grupo com 13 músicos, tem uma força diferente”, diz ele, que enfatiza ainda o fato de essa unicidade ter sido atingida em sua plenitude a partir de 2015, quando o grupo foi reativado, após um hiato de cerca de dez anos.
“Antes, na primeira fase da orquestra, no fim dos anos 90 (até 2005), havia o show de cada banda para depois todos os integrantes tocarem juntos. Agora é diferente, uma coisa só. Já deixou de ser uma ‘junção dos três grupos’”, afirma.
Nos últimos anos, um novo patamar de qualidade e criatividade também foi atingido, garante o flautista e violonista do Cálix, Renato Savassi. “E foi feito com naturalidade. A convivência entre nós hoje é mais agradável e mais interessante ainda. É tudo muito harmonioso. Há uma força tanto do lado musical, quando na questão da amizade. A orquestra se tornou algo que mexe com emoções, do público e dos músicos dela”, destaca.
Repertório. Com a garantia de casa cheia, já que todos os ingressos para o show no Palácio das Artes foram vendidos antecipadamente, a Orquestra Mineira promete um concerto com algumas surpresas, incluindo arranjos diferentes para várias músicas que compõem seu repertório. No entanto, as novidades ainda são mantidas em sigilo.
“Toda vez aparece algum membro da orquestra com uma nova ideia, um novo conceito. A gente testa essa ideia, e se for algo que dá certo a utilizamos. Os arranjos têm partido dos membros que são compositores, e a cada edição aparece alguma ideia nova”, diz Khadhu.
Os dois lados. A Orquestra Mineira de Rock convive com uma questão dúbia de haver permissão para o improviso do rock em alguns números do show e a necessidade da disciplina de uma orquestra em outros.
“Realmente há momentos em que há a cara do rock, aquela coisa mais solta, com feeling maior que a técnica, mas também tem momentos em que a precisão técnica é exigida de nós. E isso se dá após ensaiar muito. Os arranjos são muito bem escritos. E é preciso pensar, dentro deste contexto, que temos uma formação não tão comum, com bateria, guitarras, baixos e instrumentos mais ‘exóticos’, como bandolim, esraj, flauta, violoncelo, marimba de vidro...Tudo isso causa uma complexidade sonora”, diz Renato.
Futuro. O próximo passo seria a gravação de um disco-manifesto, além de levar a orquestra para outras partes do país. “A gente está estudando essas situações. Era legal fazer um álbum compilado. E também, quem sabe, compor músicas inéditas para este formato. Isso a gente ainda está estudando. Tentamos fazer isso neste ano, mas não conseguimos por meio da Lei de Incentivo à Cultura. Mas tudo está no horizonte”, afirma Castro.