Ter uma aparência mais jovem ou o corpo remodelado não são anseios exclusivos das mulheres. Mas são elas as que mais sentem os impactos dos padrões de beleza difundidos na sociedade, sempre exigente com o público feminino. Na montagem “Lifting: Uma Comédia Cirúrgica”, que será apresentada sexta (25) e sábado (26) no Teatro Sesiminas, – dentro do festival Teatro em Movimento – , um caleidoscópio de histórias ligadas a sonhos e sacrifícios trazem à tona essas reflexões.
Com as atrizes Drica Moraes, Ângela Rebello, Lorena da Silva e Luisa Pitta no elenco, a montagem toca nesse assunto lançando mão do humor, da ironia e do formato de cenas curtas, o que traz muito dinamismo ao trabalho.
“O espetáculo é baseado em um texto dos anos 80, escrito pelo espanhol Félix Sabroso, e ele tem uma estrutura que se desenvolve em esquetes. Ou seja, as cenas não têm uma ordem rígida entre si. O autor até adverte que elas podem ser montadas de modo aleatório, o que acabou inspirando um pouco o espírito de cabaré, de teatro de revista, que há na peça”, diz Drica.
Ela conta que Ângela foi quem mostrou “Lifting” como uma possibilidade de encenação, quando ambas, junto com Lorena e Solange Badim (1964-2017), que adoeceu e morreu durante o processo, estavam a fim de voltar aos palcos. “Nós nos encontrávamos, e Ângela um dia veio com esse presente. A Solange Badim estava conosco, mas ela acabou falecendo enquanto ainda estávamos na fase de ensaios. O espetáculo não deixa de ser um tributo a ela e a toda a inspiração que ela nos deu”, reforça Drica.
O que as manteve conectadas ao projeto foi o prazer gerado a partir da leitura dos escritos do dramaturgo espanhol. “Eu vinha de muitos trabalhos de drama na TV e quando encontramos esse texto, que tem um humor ácido, nós nos divertimos muito juntas e resolvemos levar essa proposta adiante”, completa ela.
Para conseguir concretizar a ideia, elas investiram dinheiro próprio e grande parte da equipe aceitou ser remunerada a partir da arrecadação da bilheteria.
“Nós não conseguimos nenhum patrocínio, e voltamos a um modelo de produção à moda antiga, em que todos que participam da criação do espetáculo ganham igualmente. Ao contrário do que o público começou a imaginar depois da demonização da Lei Rouanet, nós provamos com essa peça que o artista trabalha para burro e rala muito pra conseguir seu dinheiro”, desabafa Drica.
Diálogos. Composto por 15 cenas, além de números musicais e de dança, o trabalho, a seu ver, é “despojado e simples”, com grande potencial de dialogar com a plateia. “Ele trava uma comunicação absolutamente direta com o público, porque tem música, canto, piada, trata do cotidiano da mulher e de questões que permeiam a vida contemporânea”, resume a atriz.
Sobre as personagens da peça, Drica observa que elas surgem em situações “bizarras” e sempre exageradas em torno do universo das cirurgias plásticas. “Mas esse não é um espetáculo que bota o dedo na cara nem critica ninguém. Nós não estamos fazendo nenhum tipo de julgamento e falamos um pouco de como as pessoas perdem a medida com relação à questão da aparência, em função de ser aceito, amado e estar inserido em uma sociedade de consumo em que a aparência é um dos fatores mais importantes, sobretudo para as mulheres”, pontua. “Nós sabemos que a opressão sobre as mulheres é sempre maior do que sobre os homens”, frisa Drica.
O diretor Cesar Augusto observa que, apesar das situações absurdas, as personagens não são estereotipadas. “Nós tentamos fugir da caricatura para trazer um olhar para os aspectos humanos e possíveis de serem reconhecidos em nossa sociedade”, conclui.
Agenda
O quê. Apresentação de “Lifting: Uma Comédia Cirúrgica”.
Quando. Sexta (25), às 21h, e sábado (26), às 20h.
Onde. Teatro Sesiminas (Rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia, 3241-7181)
Quanto. R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia);