Eddard Stark (Sean Bean) não passou em branco por Westeros, apesar de sua morte prematura. Um personagem cativante e heróico como ele, certamente teria uma importância ao longo da trama. Depois e todas as injustiças cometidas contra os Starks, a começar pela tentativa de homicídio de Bran, seguida da decapitaçao do patriarca, passando pela emboscada do casamento vermelho que eliminou Catelyn (Michelle Fairley) e Robb (Richard Madden) de uma só vez, as crueldades cometidas contra Sansa (Sophie Turner) e as perseguições a Arya (Maisie Williams) e Jon Snow (Kit Harington), era de se esperar que os membros desta Casa se fortalecessem e criassem um elo com Westeros e com o público.
No fim, os sobreviventes da Casa Stark, contando aqui Jon Snow que nunca se assumiu Targaryen, terminaram a saga espalhados por pontos estratégicos dos Sete Reinos. Com Bran (Isaac Hempstead- Wright) usando a coroa em Porto Real e Sansa reinando no Norte, a parte mapeada de Westeros está em segurança. Com Arya explorando o Oeste e Jon partindo em direção às terras além da Muralha, novos territórios também estarão nas mãos dos Starks.
Seguindo a tradição de “Game of Thrones” em todas as suas temporadas, o penúltimo episódio foi bem mais interessante do que o capítulo final. Foi no domingo passado que todo o tabuleiro foi radicalmente mexido, com peças importantes indo ao chão e a rainha praticamente em xeque-mate. Ou alguém ainda acreditava que Dany (Emilia Clarke) sairia viva após dizimar inocentes em Porto Real? O desfecho da Mãe dos Dragões, porém, merecia mais drama. Foi muito fácil para Jon Snow apunhalar a amada. Até mesmo Drogon lhe deu sinal verde para o assassinato.
Talvez o maior trunfo deste último episódio tenha sido o suspense. Mesmo sem ter uma batalha na tela, o início do capítulo foi bem apreensivo apenas com os diálogos – principalmente entre Tyrion (Peter Dinklage) e Jon – e a trilha sonora. Apesar do ritmo bem corrido, deu tempo para duas piadinhas bem ao estilo da série. As duas foram usadas momentos antes da coroação de Bran. Na primeira, os personagens interrompem o discurso chato do tio. Na segunda, Samwell fala de democracia e todos riem, após uma pausa dramática. Não! Não é em Westeros que nasce a democracia. Ufa!
De lá para o fim, tudo foi construído para amarrar pontas soltas e fechar ciclos. Brienne (Gwendoline Christie) dá um fim digno para Jaime, como mulher correta e porreta que é. Quem não ama a Brienne? É ela também que folheia as páginas do livro com a história dos Sete Reinos e esclarece que o assassino de Joffrey foi mesmo Tyrion, mantendo a linha dos regicidas na família.
Tyrion, aliás ganhou neste último episódio um poder um pouco exagerado. Ele foi o personagem de maior destaque do episódio junto com Jon Snow e acabou retratado como o grande estrategista e manipulador de Westeros. Parece até que ele foi “controlado” por Bran para ser suas pernas, seus olhos, seus ouvidos e, principalmente, sua língua. Bran, o Corvo dos Três Olhos, virou Bran, the Broken, o rei, que provavelmente terá trabalho para administrar as vontades de seus conselheiros. A surpresa à mesa foi Bronn, mas era previsto que a dívida cobrada por ele não sairia barata a Tyrion.
A cena final, com Jon Snow com Tormund e os selvagens rumo ao desconhecido foi honesta. “Game of Thrones” teve um fim morno, que vazou nas redes sociais, mas que honrou a trajetória da série. O desfecho foi coerente com o que os criadores apresentaram desde o primeiro episódio, com o herói Ned Stark. Muita gente vai reclamar, sim, mas é impossível agradar a todos. O bacana é ver que o capítulo deixou gancho para muitos spin-offs. Dá para narrar as aventuras de Arya, os caminhos de Jon Snow, os desafios do reinado de Sansa – ainda queria que ela tivesse se apaixonado por Tyrion – e a prosperidade do governo de Bran, com a reconstrução de Porto Real, afinal, um rei com poderes sobrenaturais dá boas histórias. Enfim, acabou, mas não se esgotou.