Palestra

A arte de criar objetos dos sonhos

A arquiteta Maddalena D’Alfonso ministra palestra dentro da programação da exposição 'Beleza em Movimento'

Por Patrícia Cassese
Publicado em 01 de outubro de 2019 | 03:00
 
 
 
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Em cartaz desde o dia 3 de agosto, na Casa Fiat de Cultura, a mostra “Beleza em Movimento: Ícones do Design Italiano” ganha mais um desdobramento logo mais à noite, com a realização da palestra “Design dos Desejos”, a ser ministrada por Maddalena D’Alfonso, arquiteta que também firmou sua assinatura na curadoria da mostra. Cumpre dizer que Maddalena veio de Milão, cidade onde nasceu e reside, a BH especialmente para o evento.

Em entrevista ao Magazine, a arquiteta contou que a palestra será iniciada pelo futurismo, movimento que eclodiu na Europa no início do século XX propondo mudanças radicais em várias esferas artísticas, em consonância com a revolução industrial e tecnológica que estava então em curso. 

Vale lembrar que o futurismo é também o ponto de partida da exposição, que, aliás, fica em cartaz até o dia 3 de novembro. Tanto que a primeira sala que o visitante adentra abriga uma escultura icônica, “Formas Únicas de Continuidade no Espaço” (1913), capolavoro de Umberto Boccioni (1882-1916), além de outras obras correlatas.

“O futurismo é considerado um dos movimentos de fundação desse período do florescer do design retratado na mostra, não só por ter antecipado uma série de temáticas, mas, principalmente, por ter determinado essa visão conceitual do design como uma experiência propriamente artística”, analisa a também professora. 

Maddalena lembra que, no período que precedeu o advento da Segunda Guerra, a indústria já se atentava para uma nova estética na criação de peças, “sobretudo de utensílios e algumas de mobiliário”. “Mas é no pós-guerra, com o advento do Plano Marshall (1947), de reconstrução da Europa, que tem início, na Itália, uma enorme mudança socioeconômica, além da política, na qual a produção industrial se torna o grande motor do país. Então, podemos conectar a indústria automotiva em geral à do design, pois ambas são parte de uma mudança cultural única”, explica ela, jogando o foco sobre o que é, num espectro mais amplo, a espinha dorsal da mostra na Casa Fiat, que é a de contextualizar as criações automobilísticas pensadas pelas principais casas de design destinadas a essa indústria – Bertone, Zagato, Touring Superleggera, Pininfarina; e Giugiaro – com o espírito da época.

Na sequência, prossegue Maddalena, a palestra se dividirá em duas partes, sendo que a primeira vai examinar o design no período imediatamente após a Segunda Guerra, que se norteia por uma grande temática, a da reconstrução, detendo-se em pontos como o motivo de o design ter assumido um papel de primeiro plano. “E a segunda parte, a partir dos anos 60, com a revolução de costumes, convergindo no 68, quando a Europa registrou um grande movimento de contestação. Este influenciou os designers mais radicais, que passaram a colocar em questão o modo burguês de viver”, diz ela, citando a histórica exposição “Italy: The New Domestic Landscape”, que ocupou o MoMa, em Nova York, em 1972, tendo ampliado mundialmente o poderio do design italiano. 

Maddalena também abordará como, no pós-guerra, estando várias cidades do norte da Itália completamente destruídas, os caminhos da arquitetura e do design, de certa forma, se bifurcam. Enquanto a primeira, seguindo os protocolos habituais, passa a atuar no compromisso de reconstituição e preservação do tecido histórico (edificações e monumentos, fazendo jus ao legado de períodos como o romano, renascentista e demais, chegando inclusive ao Novecento), o segundo, por seu turno, caminha com total liberdade. 

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