Para entender o presente é preciso mirar o passado. Sem memória estamos condenados a repetir os equívocos de outrora. A partir dessas perspectivas, a dramaturga e atriz Cris Moreira escreveu a dramaturgia de “Hoje”, espetáculo do Coletivo Conectores que entra em cartaz nesta sexta-feira (19) e cumpre temporada até 28 de julho no Galpão Cine Horto.
A peça faz uma breve retrospectiva com ingredientes de crítica política, deboche e humor de acontecimentos cruciais do Brasil, desde o processo de colonização até os dias atuais, passando por períodos mais recentes de nossa história, como a ditadura militar, a redemocratização e os governos que se seguiram. Porém, a tentativa de entender as repetições de episódios traumáticos e a falta de memória da sociedade é feita mais do ponto de vista comportamental do que político.
“Hoje” cumpre o papel de jogar as cartas na mesa e debater, sem a pretensão de responder às questões, capítulos de nossa história, construída, como Cris lembra, baseada em várias questões violentas para determinados povos. Além dela, Andréia Quaresma e Guilherme Théo completam o trio que encena a peça, que conta com direção de Rogério Araújo.
“Queremos apontar esses diversos conflitos e fazer uma reflexão em que a gente se pergunta: ‘que hoje é esse?’”, comenta Cris. O Brasil de 2019, para a atriz, não é muito animador.
Retrocesso
“O clima de perseguição à classe artística é evidente, tanto na cultura quanto na educação”. Essa é a percepção – e a preocupação – de Cris Moreira sobre o atual momento das artes no país.
Para ela, o corte de recursos nesses dois setores por parte de diferentes esferas governamentais, a diminuição das estruturas institucionais nas respectivas áreas e a patrulha ideológica que cerceia liberdades individuais são estratégias pensadas por aqueles que querem se perpetuar no poder com o plano de manter uma sociedade subserviente e ignorante.
“Arte e educação são dois pilares que fazem as pessoas contestarem. Quem está no poder nesse momento em diversas instâncias não quer esse tipo de questionamento”, afirma a atriz.
Ao mesmo tempo em que sente uma desesperança muito grande, Cris, por outro lado, acredita na função que a arte tem de provocar a reflexão e ampliar o diálogo.
“A arte ocupa um lugar que não fala só da nossa resistência, mas também da nossa existência, do que estamos construindo como sociedade”, acredita Cris.
Programe-se
O QUÊ. “Hoje” – Coletivo Conectores</MC>
QUANDO. Desta sexta a 28 de julho (sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 19h
ONDE. Galpão Cine Horto (rua Pitangui, 3613, Horto)
QUANTO. R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada) na bilheteria do teatro ou pelo www.sympla.com.br