Revelação

Conheça a Pequena Lo: a mineira que virou febre no TikTok

Nascida em Araxá, Lorrane Silva tornou-se uma das queridinhas da plataforma chinesa e já é sucesso em todas as redes sociais

Por Letícia Fontes
Publicado em 03 de outubro de 2020 | 03:00
 
 
 
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Os vídeos dela circulam por toda a internet, e você mesmo, provavelmente, já deve tê-la visto em sua timeline nos últimos meses – inclusive, se não viu, você está usando as redes sociais da forma errada. Nascida em Araxá, no Alto Paranaíba, a mineira Lorrane Silva, 24, ou melhor, a Pequena Lo, como é conhecida na internet, pode até ser pequena na altura – ela tem 1,30 m –, mas se tornou gigante na comédia. Seguindo a leva dos humoristas da web, Lo tem feito sucesso com bem-humorados esquetes sobre assuntos cotidianos no Instagram e no TikTok, em que reúne mais de 2 milhões de seguidores. 

Formada em psicologia, a nova humorista do pedaço aposta nas piadas sobre baladas, relacionamentos, amizades e, claro, a quarentena. Alguns vídeos da mineira têm mais de 17 milhões de visualizações na plataforma chinesa. “Acho que as pessoas estão procurando coisas pra se divertir, porque já está tudo muito difícil. Eu tento fazer vídeos que gerem identificação com o público, e nada melhor do que interpretar os memes. São situações que todos passam, inclusive eu, tudo é tirado a partir das minhas experiências. É uma festa em família, a fofoca do trabalho, eu indo para uma festa com a minha scooter (veículo de duas rodas que ela usa para se locomover). E, claro, coloco o meu jeito de vivenciar essas situações”, explica.  

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Quem é? 🤡

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Mas, afinal, quem é a mineira que com seu carisma conquistou milhares de brasileiros? “Sou rara”, resume, em tom de brincadeira, em entrevista ao jornal O TEMPO.  

Lo nasceu com os membros curtos devido a uma síndrome até hoje não identificada, mas associada à displasia óssea. “Tentam descobrir desde quando nasci. Já fizeram um estudo genético, mas até hoje o que se sabe é só que eu tenho uma síndrome rara. Brinco que eu sou rara por isso, ninguém nunca descobriu o que eu tenho”, conta a humorista, que até os 11 anos andava normalmente, mas, após a quinta cirurgia, precisou da ajuda de muletas e uma scooter para se locomover. “Para mim não faz diferença. Mesmo que eu tivesse um diagnóstico, não mudaria em nada, seria só uma descoberta. Eu tenho uma vida bem normal, inclusive, saudades de ir para a balada”, brinca.   

Mas se engana quem pensa que a mineira usa o humor para superar os desafios. Aliás, Lo detesta o discurso de superação. “Não usei humor para superar nada. O humor não é capacitista. Eu sempre fui assim. O humor faz parte de mim desde criança, sempre fui uma pessoa engraçada, que contava piadas em churrasco de família e encenava. Sempre gostei de aparecer. Minha condição física é outra coisa”, pondera a humorista. 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Sempre a mesma história 🤣

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Apesar de feliz com o sucesso nas redes sociais, Lo tem outra preocupação para além dos números: mostrar que as Pessoas com Deficiência (PcDs) podem, sim, ter espaço. “Eu faço as pessoas rirem, e isso independe da minha condição, mas eu tenho total noção da minha importância e representatividade. As pessoas que me assistem que são deficientes mudam sua visão sobre elas mesmas. Eu quero levar a mensagem de que nós somos capazes, sim, de conquistar nossos sonhos. Tem o preconceito de que nós, pessoas com deficiência, não fazemos nada por conta das nossas limitações, mas não é por que a gente tem uma limitação que a gente não é capaz”, avalia a humorista, que, mesmo antes do sucesso, já levantava essa bandeira.  

Em 2016, Lorrane entrou para um grupo de dança em Uberaba, no Triângulo Mineiro, onde mora atualmente com a mãe. A companhia, que mesclava pessoas com e sem deficiência, foi selecionada para participar da abertura das Paraolimpíadas no Rio de Janeiro. “Eu era a única muletante, foram 45 dias incríveis”, lembra. “Os problemas a gente sempre vai ter, isso serve para todos. Mas sempre pensei que, apesar das limitações, posso ser o que eu quiser. Eu tive sorte, porque meus pais sempre me apoiaram, nunca tiveram vergonha de mim ou me falaram que eu era incapaz. Nunca sofri bullying na escola, tenho muitos amigos. Isso me ajudou muito a ser quem eu sou hoje, porque a sociedade tem medo da gente, fica com receio. Acham que, porque você é deficiente, não consegue nem conversar direito”, exemplifica. 

Trajetória 

Lo começou na internet em 2015, com vídeos no Youtube, mas foi no TikTok, em março deste ano, que viu sua chance crescer. “No começo, eu falava sobre o preconceito e sobre o meu dia a dia. Eram assuntos sérios, mas sempre falava com bom humor e fazendo piada, porque, senão, não seria eu. Depois fui para o Instagram, e o TikTok é uma realidade nova para mim. Comecei a usar na quarentena para driblar o tédio mesmo. Nem imaginava que seria esse sucesso todo. Quando comecei na internet, claro que pensava nisso como uma profissão – um primo publicitário que me sugeriu a ideia, inclusive –, mas tudo tomou uma proporção que nem nos meus melhores sonhos poderia imaginar”, conta a mineira, que agradece aos algoritmos da plataforma chinesa. “É uma loucura o engajamento, os vídeos circulam muito rápido. Meu público é muito variado, são pessoas de todas as idades, de crianças a idosos”, comenta, surpresa. 

Mas, para quem acha que o sucesso veio por sorte, os cinco anos tentando ter um lugar ao sol na internet foram conquistados por meio de muito suor. E a rotina para manter o engajamento dos fãs é exaustiva. Lo grava, em média, quatro vídeos por dia. Sozinha, ela elabora e publica todo o conteúdo sem nenhuma ajuda. “Acordo às 9h, faço as publicidades pela manhã, pesquiso temas e referências e, à tarde, gravo. Às vezes, fico até 1h30 trabalhando. As pessoas acham que é só gravar, mas não é assim. Você tem de fazer o roteiro, entrar no personagem, dublar e atuar. Minha cabeça nunca para de pensar e estudar”, afirma. 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

KKKKKKKK NUM É?

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E a recompensa veio. Hoje, Lo é elogiada por grandes humoristas, como Tatá Werneck, Whindersson Nunes e Tirulipa. “São meus ídolos, pessoas que eu admiro e (em quem) me inspiro demais. Fico muito emocionada, porque, quando comecei a postar vídeos, ficava insegura, pois tudo o que foge do padrão gera certa estranheza. Antes, me enxergavam como a deficiente que usava muleta, a baixinha deficiente que era engraçada. A graça até então era a minha condição, as pessoas faziam comentários maldosos, marcavam os amigos para me zoarem. Mas hoje vejo que mudou, as pessoas me veem como a Pequena Lo, a humorista, a psicóloga e a criadora de conteúdo”, conta, emocionada. “A psicologia me ajudou muito também a entender essas críticas do começo, o problema não é comigo, mas com o outro. Mas nunca me abalei, porque acho que falta informação para as pessoas, é um pouco de ignorância também sobre o assunto”, avalia.  

A mineira come quieta e não revela a média de seu faturamento, mas as publicidades estão a todo vapor em seu perfil. Lo já foi contratada por grandes marcas, e todo dia pelo menos alguma publicidade ela faz em seu perfil.  

Depois de participar do “Criança Esperança” nesta semana,  Lorrane pretende investir na carreira de humorista. E os planos são até sair de Uberaba e ir morar em São Paulo. “Até há pouco tempo achava que iria começar a atender como psicóloga, o que não descarto ainda, tenho projetos futuros para isso, mas comecei a ver que eu sou humorista. É uma definição recente para mim. Quero fazer teatro, estudar para me aprimorar e aprender, quem sabe fazer stand-up e ter meu próprio programa de televisão, ser apresentadora. Quero também ir para São Paulo, acho que lá terei mais oportunidades. Mas, por enquanto, eu estou só em casa, porque eu sou do grupo de risco, tenho asma. Assim que puder ir a um posto de saúde tomar a minha vacina, ninguém me segura. Quero viver meu momento de fama, porque até agora só estou acenando do meu prédio mesmo. Quero ir ao shopping também”, brinca.   

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Cara de paisagem escutando a playlist...

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Nova geração de humoristas das redes sociais  

Até alguns anos atrás, para ser humorista, precisava ter a sorte de ser descoberto por algum grande canal de televisão. Mas a internet tem dado uma encurtada no processo, e, graças aos stand-ups e os vídeos que rodam por toda a internet, novos talentos estão sendo descobertos. Exemplo disso é o canal do Porta dos Fundos no YouTube, que colocou Fábio Porchat e Gregório Duvivier na televisão. O piauiense Whindersson Nunes também está aí para provar o poder das novas formas nas plataformas digitais. 

Mas, se até há alguns anos o YouTube era a porta de entrada, hoje o segredo é fazer sucesso no TikTok. No Brasil, a estimativa é que 7 milhões de brasileiros estejam na plataforma, que já serviu como palco para lançamento de astros e estrelas do universo digital. E, aproveitando que os vídeos de comédia nas redes sociais têm sido um escape para aqueles que procuram se distrair, principalmente agora, durante o período de distanciamento social por causa da Covid-19, no humor, além da Pequena Lo, a revelação do aplicativo fica por conta de nomes como Ademaravilha, Super Odair, João Pimenta, Bruna Braga, Nayra Souza e Yuri Marçal. 

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