Feche os olhos. Basta lembrar que as melhores e mais afetivas memórias de infância normalmente estão relacionadas à comida, principalmente aquela preparada por nossas avós. Aliás, quase todo mundo tem uma lembrança de “comidinha de vó” e a reunião da família ao redor da mesa. Não é por acaso que essa mesma “comidinha de vó” virou apelo em grandes restaurantes que apresentam em seu menu pelo menos uma opção entre um repertório de receitas que promovem lembranças e conforto aos comensais.
No Dia dos Avós, celebrado neste 26 de julho, a presença de receitas repletas de afetividade são mais do que bem-vindas para embalar a comemoração. Felipe Oliveira, do Ora, em Tiradentes; Guilherme Melo, do Nuúu Restaurante; Bruna Haddad, do Zuzunely; Ju Duarte, da Cozinha Santo Antônio; e Mariana Gontijo, d’O Roça Grande e O Tacho, compartilham suas lembranças e histórias com receitas afetivas.
Felipe Oliveira,do restaurante Ora
Bolo de cenoura com chocolate. Com certeza é uma receita que toda avó já fez, em algum momento, para o seu neto. Judithe Amélia, avó do chef Felipe Oliveira, fazia exatamente essa receita para ele, quando criança. Com o passar dos anos, o chef manteve viva a receita e ainda colocou um pouco da sua assinatura: a calda de chocolate leva um toque de uísque e ganhou ainda mais camadas de recheio. “É uma receita deliciosa, que a família inteira come. Mas a receita de mãe e de vó nunca ficam igual à nossa, né? A gente tenta fazer igual, mas não adianta”, disse Oliveira.
Bruna Haddad, do restaurante Zuzunely
Foi inspirada em suas avós, Zulmira e Nely, que a chef Bruna Haddad abriu o restaurante Zuzunely – que nada mais é do que a junção do nome das duas matriarcas. É claro que as receitas que ela serve são recriações e inspirações de suas memórias gastronômicas, como o nhoque de batata com molho de tomate e bife à milanesa. “Eu sempre ajudava a minha avó Nely a enrolar o nhoque e adorava quando criança. O bife também. Ela deixava tudo separadinho e eu ia empanando”, relembra Bruna. “Foi a primeira comida que eu aprendi a fazer, de certa forma”, relembra.
Ju Duarte, do restaurante Cozinha Santo Antônio
A empadinha de queijo canastra, receita da vovó Marocas, sempre estava presente nos almoços de fim de semana da chef Ju Duarte, da Cozinha Santo Antônio. “Durante a pandemia, quando eu tive vontade de fazer comidas para as pessoas levarem para casa, me lembrei das empadinhas que desmancham na boca. Meu coração até dispara, e a boca enche d’água”, conta a chef sobre a receita da sua avó paterna que é servida em formato de porção no restaurante.
Guilherme Melo, do restaurante Nuúu
A trajetória do chef Guilherme Melo se iniciou na infância, mais precisamente na cozinha da avó materna, Hermengarda, que tradicionalmente preparava o almoço de sábado para até 50 pessoas. “Isso foi muito decisivo para eu me tornar cozinheiro, tanto que o meu primeiro restaurante foi batizado com o nome dela. A farofa de moela com frango assado era um de seus maiores clássicos”, relembra ele. À frente da cozinha do novíssimo Nuúu, ele manteve uma de suas receitas mais afetivas, o vatapá mineiro da vó Hermengarda, feito com frango desfiado, camarões, castanha de caju, leite de coco e azeite de dendê. “As comidas da minha avó marcam toda a minha família. Tudo o que comemos vem acompanhado de uma lembrança, de um comentário com carinho e cuidado”, conta.
Mariana Gontijo, dos restaurantes O Roça Grande e O Tacho
A comida simples e caipira sempre fez parte do universo da chef Mariana Gontijo, nascida e criada em Moema (MG). Ela conta, inclusive, que as suas primeiras referências de comida foram de suas avós, Maria Angélica e Mariinha. “Essas matriarcas têm esse papel fundamental de manter a frequência do ensinamento de geração em geração”, disse a chef. Da avó Maria Angélica, já falecida, ela lembra o bolinho frito de fubá de canjica e, da avó Mariinha , que tem 92 anos, o bolo de fubá que sempre fez parte da sua infância. “Eu gosto de comer esse bolo pelas beiradas. Me lembro que, durante a pandemia, eu estava arrasada, e a minha avó mandou um pedaço desse bolo pra mim, quando meus pais vieram para BH. Foi revitalizante”, recorda.