Identificar impactos, dificuldades e desafios impostos pela pandemia da Covid-19 no setor da música em Belo Horizonte e região metropolitana. Esse é o objetivo de um estudo lançado no início de agosto pelo Grupo de Pesquisa em Sonoridades, Comunicação, Textualidades e Sociabilidade (Escutas), do departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais.

A pesquisa “Música em tempos de pandemia: o impacto da Covid-19 no meio artístico”, que fica disponível neste link até 30 de setembro, já reuniu respostas de cerca de 120 profissionais, entre cantores compositores, instrumentistas, técnicos de som, DJs, produtores executivos, luthiers e demais trabalhadores ligados de alguma forma ao universo musical. 

Embora o levantamento ainda não esteja concluído e não represente a totalidade do setor musical em BH e região metropolitana, que é miuto maior que o universo de respondentes, ele já mostra que uma das consequências da quarentena e do isolamento social está diretamente relacionada à queda da renda mensal das pessoas que integram e fazem girar a cadeia da música em BH. Do total de respondentes, 43,7% afirmam que, durante a pandemia, o ganho mensal com música é de até um salário mínimo (R$ 1.045); antes do período pandêmico, o número de pessoas com o mesmo rendimento chegava a 5,9%.

“A música é um setor muito afetado pela pandemia e provavelmente vai ser o último a retomar as atividades. Muitos estão se adaptando, mas outros tantos ainda não conseguiram. Já é possível ver alguns indicativos desses impactos”, comenta a coordenadora da pesquisa e professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG, Graziela Mello Vianna. O questionário inclui perguntas sobre atuação profissional no meio musical e acesso desses profissionais a iniciativas de apoio financeiro, como editais.

Para Graziela Mello Vianna, Belo Horizonte tem algumas particularidades sobre esse cenário, já que é reconhecida como “a capital dos botecos”, que traz consigo a cultura da música ao vivo nos bares. Se não já aquele tradicional banquinho e violão nesses estabelecimentos, é sinal de que muitos profissionais estão deixando de trabalhar.

“Tem um impacto muito grande. Em outros cidades ou até outros países, nem sempre o bar está tão ligado à música, e os músicos estão sem tocar. O isolamento afeta nesse sentido também, não só nos festivais, shows, mas também nesses locais tão característicos da cidade. O bar é um lugar de sociabilidade, o bar tem música. Se o há restrições para funcionar, o impacto é muito grande”, pondera a acadêmica. Vale lembrar que, pelo decreto da Prefeitura de Belo Horizonte, bares da cidade podem funcionar somente aos fins de semana, mas sem música ao vivo.

Além do ambiente acadêmico

Segundo Graziela, a ideia é que a iniciativa, por ora restrita a Belo Horizonte e região metropolitana, vá além de uma pesquisa acadêmica e, com as informações reunidas, aponte caminhos para a proposição de políticas públicas para o setor. “Queremos incitar o debate. Acreditamos que os resultados nos ajudarão a criar um documento sobre esse impacto na economia criativa. Esse diagnóstico será levado aos órgãos competentes e irá fundamentar propostas de políticas públicas para a recuperação do setor”, comenta Graziela. Os resultados da pesquisa também serão publicados na forma de trabalhos científicos, como artigos, livros, ou apresentações em eventos. 

O estudo “Música em tempos de pandemia: o impacto da Covid-19 no meio artístico” realizado pelo Escutas integra uma rede de 87 pesquisas espalhadas pelo mundo afora que estudam o impacto da Covid-19 em vários aspectos da música, reunidas no site do Instituto Max Planck, da Alemanha. No Brasil, até o momento, somente a UFMG e a Unicamp elaboraram questionários para pensar a pandemia no setor da música. O grupo é formado por profissionais da música, professores de outras instituições e pesquisadores da UFMG.