Cultura

Festivais de inverno em Minas Gerais sofrem com a crise econômica

Eventos tradicionais em Minas têm seus orçamentos reduzidos e se veem obrigados a trabalhar com até menos da metade dos investimentos dos últimos anos

Por Bruno Mateus e Rafael Rocha
Publicado em 30 de junho de 2019 | 03:00
 
 
 
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A crise econômica que faz parte do dia a dia dos brasileiros e ainda não dá sinais de redução tem seus impactos em diversos setores produtivos da sociedade, e a área cultural não escapa dessa realidade. 

Tradicionais no calendário de eventos em Minas Gerais há pelo menos cinco décadas, os festivais de inverno viram seus orçamentos minguarem nos últimos anos. Seja devido aos cortes do governo, com a não renovação de vários contratos da Petrobras para o setor cultural, seja com a diminuição de investimentos por parte da iniciativa privada, as programações têm de se reinventar nesse cenário adverso de muito trabalho e pouco dinheiro.

Pioneiro no Brasil, o Festival de Inverno da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) nasceu em 1967, em meio à repressão da ditadura militar. Após cinco décadas e diversos shows, oficinas, espetáculos, palestras e atividades artísticas, o evento, a despeito de sua importância, vai trabalhar neste ano com redução de 50% no orçamento em relação a 2018. O diretor de Ação Cultural da UFMG e coordenador do Festival de Inverno, Fernando Mencarelli, lamenta que essa seja a realidade.

Ele afirma que os festivais de inverno vão ao encontro da missão da universidade de formar pensamento crítico, fortalecer as atividades de extensão e reforçar a importância da memória, da arte e da cultura. “O grande x da questão é encontrar uma maneira de potencializar nossa ação em um cenário de desmonte da cultura”, avalia.

Se nas décadas passadas esses eventos contavam com figuras renomadas da música brasileira como principais atrações, e os investimentos eram mais recheados, agora a maioria deles reforça as atividades voltadas ao ambiente acadêmico e às comunidades.

Um dos mais importantes festivais de inverno de Minas teve de se reinventar para trabalhar sob a perspectiva dos cofres cada vez mais vazios. Como conta a pró-reitora adjunta de Extensão da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e uma das coordenadoras desta edição, Gabriela de Lima Gomes, a maior dificuldade é ter que trabalhar com uma redução de 75% na verba em relação ao ano passado.

A gestora diz que a equipe de 11 funcionários da Ufop tem se desdobrado para tocar os trabalhos do evento, que acontece, além de Ouro Preto, em Mariana e em João Monlevade. “Não recebemos repasse federal. Contamos com algum pequeno patrocínio e verba das prefeituras”, pontua.

Entraves

Quando a discussão bate à porta dos municípios do interior, mesmo aqueles com alto potencial turístico, os entraves são ainda maiores. Em 2016, o Inverno Cultural da Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ), que teve sua primeira edição em 1988, deixou de ser realizado por falta de recursos. Nos últimos três anos, a situação se normalizou, mas a carência de patrocínios ainda é realidade, e, em 2019, o orçamento de R$ 600 mil saiu da própria instituição.

Para se ter uma ideia do desfalque, o orçamento do Inverno Cultural já chegou a R$ 2 milhões no tempo em que a UFSJ não bancava o evento em sua totalidade. Uma solução seria recorrer à Lei Estadual de Incentivo à Cultura, mas o pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da universidade e coordenador do Inverno Cultural, Ivan Vasconcelos Figueiredo, explica que a aprovação do projeto via lei não é o problema – a barreira está na captação dos recursos: “Infelizmente, os festivais do interior não conquistam as grandes empresas, que não veem nesses eventos atratividade e visibilidade para suas marcas”, avalia. 

Sobre a participação do poder público nessa equação, a secretária de Estado adjunta de Cultura, Solanda Steckelberg, avalia que a captação de recursos no setor passa por uma crise como um todo no Brasil. “Não é um sofrimento específico dos festivais, é um desafio do ponto de vista econômico a ser vencido”, ressalta.

Porém, a criação de mecanismos por parte dos governos para democratizar e descentralizar os recursos é um dos pontos cruciais para a conta fechar: “Tudo está praticamente concentrado na capital”, pondera Figueiredo.

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