Artes visuais

Galeria Labyrinthus apresenta a mostra 'Os Antropófagos'

A curadoria propôs a alguns artistas que refletissem sobre os desdobramentos do marco da Semana de Arte Moderna partir de outros olhares

Por Patrícia Cassese
Publicado em 26 de outubro de 2021 | 14:05
 
 
 
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Com vistas ao centenário da Semana de Arte Moderna, que será festejado em fevereiro de 2022, a Galeria Labyrinthus propôs a alguns artistas que refletissem sobre os desdobramentos daquele marco partir de outros olhares, com reinvenções, releituras, ressignificações, reinterpretações e/ou inovações.

O resultado pode ser conferido na mostra "Os Antropófagos", que está em cartaz no espaço desde o último dia 12, seguindo até o dia 19 de novembro. De acordo com a curadora Orange Feitosa, o que ancorou a proposta foi o Manifesto Antropófago, o manifesto literário escrito por Oswald de Andrade e lido em 1928, na casa de Mário de Andrade, tendo sido, na sequência, publicado na "Revista de Antropofagia".

"O manifesto emergiu a partir das provocações de Tarsila do Amaral para Oswald de Andrade e o poeta Raul Bopp, para que eles se manifestassem sobre a obra 'Abaporu'. Oswald aceitou a provocação, problematizou a referida pintura e escreveu o Manifesto Antropófago, além de ter idealizado, com Bopp, a 'Revista de Antropofagia', lançada no mesmo ano.  Assinala-se que, estas não foram ações pós-modernistas, mas acima de tudo anti-modernistas, quando se percebeu que, a Semana de 22 não representou a ruptura artística a que se propunha", pontua Orange.

A curadora prossegue: "O Manifesto Antropófago de 1928 objetivava: Des-pensar, Des-aprender, Des-construir, Des-modernizar, Descolombizar, Descabralizar, 'Des...', isto quer dizer, combatia a colonização da imaginação dos artistas locais e os convocava a reinventar o modernismo europeu com as tintas brasileiras. É preciso esclarecer que não era uma narrativa de oposição ao eurocentrismo, mas uma fuga da visão única, da história única, da estética única. E, assim, a busca pelas variâncias, pelas margens e pelas narrativas construídas a partir do local".

A partir dessas reflexões, a curadoria da Labyrinthus perguntou aos artistas se aceitavam a provocação: 'Pronto para engolir os irmãos'”, revela ela, citando Alcântara Machado. "Por fim, pode-se também questionar: Quais seriam os avessos do Modernismo? Quem são os Outros que remam à deriva? O que não se devora porque é indigesto? Quais são os motivos para regurgitar a Ocidentalização? Quem são os inviáveis? Quem somos nós?"

Indagada se os artistas fizeram obras especialmente para a mostra ou se escolheram, de seus respectivos acervos, trabalhos que se coadunassem com a ideia da inciativa, Orange diz que 50% dos convocados criaram para a exposição, enquanto os outros 50% tinham obras no acervo que cabiam no conceito de antropofagia que se alicerça na reinvenção das influências artísticas externas e no olhar para o Brasil. "A curadoria deixou os artistas livres para escolherem as criações que considerassem dentro da proposta, porque considera um exercício interessante ver através dos olhos dos artistas".

No cômputo geral, ela diz que, das 41 obras expostas, o público visitante verá, por exemplo,  esculturas com temáticas diversas que, representam a devastação das florestas amazônicas, o trabalhador, os rituais, a cidade, a desutilidade da obra de arte e a diversidade estética nas artes. "As fotografias representam tanto o cotidiano no espaço urbano como as comunidades ribeirinhas da Amazônia; as fotocolagens problematizam o caos sofrido pelo meio ambiente, os afetos, a redução da atenção na atualidade e as palavras-imagens. As pinturas exibem desde a cosmogonia indígena, a natureza, as variações do feminino, a alforria e a resistência negras, crônicas do Brasil, a fome de cada dia, as relações entre o feminino e o masculino, as diferenças sociais, raciais, políticas e culturais, as ressignificações de obras", lista.

"Os Antropófagos"

Em cartaz na Galeria Labyrinthus

Rua Aquiles Lobo, 73, Floresta - Fone: 2537-0385

Até 19 de novembro

Visitação: Terça a sexta, das 11 às 19h30/Sábado: Das 11 às 16h.
Site: www.galerialabyrinthus.com.br

 

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