‘Mesa pra 1’

Hoje eu quero comer sozinho: Clientes provam que um bom prato é ótima companhia

Estabelecimentos, entretanto, não encaram com normalidade esse hábito , e opções acolhedoras em BH ainda são poucas

Por Lorena K. Martins
Publicado em 16 de maio de 2022 | 11:13
 
 
 
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"A mesa é só pra você?”, “vai chegar mais alguém?”, “posso retirar a cadeira?”, “uma garrafa de vinho e quantas taças?”. Essas são algumas das perguntas frequentemente dirigidas a quem tem o hábito de sair para comer sozinho, que, infelizmente, comprovam que muitos estabelecimentos não estão preparados para receber e disponibilizar a mesa somente para uma pessoa. Acompanhada da série de indagações ouvidas por quem chega ao restaurante sozinho, ainda há outro fator a lidar: as pessoas olham com estranheza e, às vezes, até mesmo pena de quem fazendo a refeição sem companhia – mesmo que feliz.

A verdade é que ainda há um longo caminho para que alguns estabelecimentos encarem com normalidade o fato de que quem chega sem acompanhante sabe perfeitamente que a única presença necessária para um almoço ou jantar é a de um bom prato de comida. 

Habituada a não depender de ninguém para ir a um restaurante – bem como cinema e shows –, a jornalista Jana Diniz relata algumas situações que já viveu em Belo Horizonte ao optar por jantar sozinha – e menciona o conservadorismo mineiro como uma provável causa dos olhares enviesados. “Certa vez, fui a um restaurante e pedi uma garrafa de vinho. O garçom sugeriu que, já que eu estava sozinha, era mais viável eu pedir uma taça, e não a garrafa inteira”, relembra. “Mas e se eu quiser apreciar a bebida sozinha, ficar bêbada e ir embora mais leve? Uma mulher sozinha, ainda mais bebendo, representa fraqueza para muita gente”, entende. 

Jana, que também adora tomar café da manhã nos estabelecimentos, menciona alguns lugares onde se sente à vontade e acolhida, como o Zuzunely, o Copa Cozinha e o Café Magrí, no Mercado Novo. “É um programa para ser feito bem cedo, e nem todo mundo está disposto a acordar para tomar um brunch. Vou sozinha, e isso não me incomoda; na verdade, é bem mais confortável pra mim”, pontua. 

Bruna Haddad, chef e proprietária do Zuzunely, espaço mencionado pela jornalista, explica que receber clientes desacompanhados é algo comum em seu restaurante. “Oriento aos meus funcionários a atender todo mundo da mesma forma. Cada um tem o direito de consumir o que quiser e em seu tempo”, afiança. “Aliás, eu mesma tenho esse hábito, principalmente quando viajo. Mas aqui, em BH, eu sinto que as pessoas olham meio estranho para quem está sozinha à mesa, parece que ficam com a impressão de que você levou um bolo de alguém”, relata.

Uma cena clássica do filme “Um Rapaz Solitário” mostra justamente esta situação, quando o personagem de Steve Martin, o rapaz solitário do título, se senta em um restaurante sozinho. Quando o garçom pergunta se ele está esperando alguém, o “não”, em resposta, é acompanhado por um efeito buscado exatamente para enfatizar a reação de algumas pessoas (ou seja, não é só no Brasil que isso é um problema): na cena, a música ambiente para todos os ocupantes das demais mesas cessam as conversas para fixar os olhares nele, que, não bastasse, é iluminado por um holofote. É uma brincadeira, claro, mas feita justamente para enfatizar o desconforto de quem recebe esses olhares de estranheza.

Assim como Jana, a fotógrafa e relações públicas Raíssa Fulaneti também relata sobre as impressões que geram no outro quando está sozinha, ainda mais sendo mulher, mas não se intimida por isso. “Se realmente eu quiser sair, eu vou e pronto. Minha única preocupação é pegar uma mesa menor ou sentar no balcão, quando estiver no lugar, para não ocupar um lugar de muita gente. Mas, ainda assim, percebo que aqui, em Belo Horizonte, não tem muitos espaços prontos para receber somente uma pessoa”, disse.

Oportunidades

Entretanto, endereços que possuem mesas menores e balcão foram pensados também para acolher bem quem chega sozinho, como o Cozinha Tupis, que fica no Mercado Novo. O chef e sócio-proprietário Henrique Gilberto conta que já viu pessoas que nunca se viram se conhecendo sentadas no balcão, que tem visão privilegiada da cozinha. Uma vez, se sentou um homem para almoçar sozinho e, depois de trocar ideia com a equipe, acabou conseguindo uma vaga de cozinheiro – Rodrigo Taveiro de Souza é, hoje, sub-chef do restaurante. 

Há lugares em que é possível comer sozinho sem ficar solitário, assim como existe o contrário. No Cozinha Santo Antônio, da chef Ju Duarte, é uma preocupação. “Eu tenho muito prazer em receber as pessoas que estão sozinhas, porque acaba que a gente interage bem, puxa conversa… É muito gostoso”, disse ela que, além de mesas e balcão, pensado para quem tá a fim de comer sozinho, ainda há uma mesa coletiva pensada justamente para quem deseja interagir com outras pessoas. “Quem senta lá acaba puxando conversa com outra pessoa que está do lado”, relata.

Onde ir:
Zuzunely
Cozinha Tupis 
Café Magrí
Pasta LAB
Fugu Izakaya
Cozinha Santo Antônio
Oop café

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