“Museum of Me"

Instalação traduz DNA do Instagram em imagens e textos compartilhados

'Museum of me' está no Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte; a entrada é gratuita

Por Lorena K. Martins
Publicado em 28 de novembro de 2019 | 03:00
 
 
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Devidamente munida de um protetor de pés e com o arroba do Instagram no gatilho – rede social utilizada como base para a execução do sistema –, a reportagem do Magazine foi guiada até uma cabine escura, repleta de espelhos e multitelas de LCD. Começava, ali, no CCBB–BH, uma experiência no mínimo singular: uma verdadeira viagem para a vida virtual. No caso, a minha. De pronto, fotos – as mais curtidas e compartilhadas – postadas ao longo da minha linha do tempo “instagramável”. Mas não só. Legendas e palavras escritas por mim apareciam em destaque, assim como emojis de reações triviais e – como não? – as hashtags usadas com maior frequência. Em uma das fotos postadas, tendo como cenário um restaurante, junto à minha mãe, uma frase em inglês desponta na tela – “Um grupo de pessoas segurando copos de cerveja” – como uma espécie de “tradução da foto”.

Dentro da cabine espelhada, a experiência rápida (quase dois minutos) aqui descrita pode remeter a um episódio da celebrada série “Black Mirror”. Mas estamos nos referindo à proposta da instalação “Museum of Me: Um Mergulho em Sua Alma Digital”, que aterrissou no equipamento integrante do Circuito Cultural Praça da Liberdade (CCBB –BH) ontem. Por meio de inteligência artificial, a instalação proporciona uma imersão na vida digital do visitante em escala arquitetônica e, automaticamente, causa uma espécie de reflexão relacionada ao uso que cada um faz do próprio Instagram. E, principalmente, a contribuição de cada usuário para a construção dessas redes.

O projeto da cabine foi desenvolvido pelo estúdio colaborativo Cactus, que fica no Rio de Janeiro, e que já criou outras experiências artístico-tecnológicas imersivas exibidas em Nova York, Hong Kong e nos Jogos Olímpicos. “Museum of Me” já passou por São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro e Curitiba, e as reações de quem visitou, contadas por Felipe Reif, sócio da Cactus, são no mínimo curiosas. “Cada usuário tem uma experiência distinta. Já vi pessoas saindo de dentro da instalação com algumas conclusões e resolveram parar de falar tanto de política e postagens agressivas, por exemplo. Em São Paulo, uma menina disse que a experiência só mostrou as fotos dela de biquíni na praia, e ela disse que não era essa imagem que queria passar pelo Instagram”, contou.

Reações

Por outro lado, Reif conta que há aqueles que saem emocionados por reviver momentos marcantes da vida também virtual, como o nascimento de um filho, o casamento, uma viagem inesquecível. Ou os que se sentem invadidos, de fato. “Eu me senti invadindo a mim mesmo, e paradoxalmente era um território tão intimo, tão lá no meu eu, que precisei tatear as paredes de vidro para me sentir seguro”, relatou o diretor de conteúdo Rafael Alves assim que saiu do cubo. “Ao mesmo tempo, parecia ser uma descoberta de mim mesmo porque as imagens que iam surgindo me faziam lembrar da minha própria história”, acrescentou.

Quando as projeções vão chegando ao fim, as telas se apagam ao som de uma respiração rápida e ansiosa.

O “criador” justifica todo o processo. “O Instagram é uma plataforma livre, que você alimenta, e o seu comportamento que diz a cara que ela vai ter. Então, o ‘Museum of Me’ permite múltiplas reações ao experimentar. Não fazemos nenhum juízo, trazemos para as pessoas o que elas oferecem para nós”, reflete.  Não se assuste se, após a experiência, você se sentir convidado a apagar alguma foto ou editar alguma legenda.

O espaço permite a entrada de até três pessoas por vez, porém cada experiência será apresentada individualmente – somente uma conta do Instagram pode ser acessada para a imersão, em que é possível fazer fotos e compartilhar a jornada. E, claro, documentar o momento por meio da hashtag #museumofme.

Museum of Me

Onde. Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte (CCBB-BH). Praça da Liberdade, 450, Funcionários).
Quando. Até 29/12, de quarta-feira a segunda-feira, das 10h às 22h.
Quanto. Entrada gratuita.

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