Entre 2017 e 2018, o jornalista, radialista, letrista e poeta Kiko Ferreira passou várias madrugadas insone. Gritos e xingamentos ecoavam em sua cabeça e o acordavam às 4h da manhã, quando ele pegava um papel e anotava o que lhe parecia urgente e necessário. Boa parte desses poemas está reunida em “Manual de Berros e a Poesia Física” (ed. Impressões de Minas), décimo livro do autor. A obra será lançada nesta terça-feira, no Sempre um Papo, e no sábado, em uma tarde de autógrafos na Savassi.
A coletânea de escritos nasce de um desconforto pessoal em que berros e ruídos se originam da polarização política – e o histérico ano de 2018 foi uma fonte de inspiração importante para o jornalista –, mas também de um flagrante inabilidade de lidar com o outro em uma sociedade digital que globaliza a informação na mesma medida em que desumaniza as relações sociais.
“As pessoas estão gritando umas com as outras o tempo todo, por isso o capítulo final (Poesia Física) é todo em caixa alta”, explica o poeta. “O livro é minha forma de refletir sobre isso com delicadeza”, completa Ferreira.
A poesia que salta em “Manual de Berros”, que traz no título a clara referência a Manoel de Barros, inspiração do jornalista, é musical, debochada, irônica, bem-humorada, cheia de referências pop e extremamente contemporânea, urbana, sem pompa e hermetismo.
Trocadilhos e jogos de palavras à lá Arnaldo Baptista também compõem esse manifesto anti-consumismo vão. “Ela é mental, meu caro Watson. Ela é metal, meu caro Watson”, escreve Kiko Ferreira em um dos poemas. “Me esforço para ser lido pelo maior número de pessoas possível sem perder a qualidade”, comenta o escritor.
O próprio livro é uma peça de autoironia. Embalado como um produto, a sobrecapa se converte em um manual de uso, com advertências e avisos como se uma bula de remédio fosse. “Em caso de dúvidas quanto às rimas”, adverte o texto, “entre em contato com o Atendimento ao Consumidor. Não oferecemos soluções”.
Programe-se
O Sempre um Papo acontece nesta terça, às 19h30, no Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, Centro). A entrada é franca. Neste sábado, “Manual de Berros e a Poesia Física” terá sessão de autógrafos de 14h às 16h, na Livraria Quixote (rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi).
Encontros reúnem escritores e celebram o fazer poético
Nesta terça-feira, no Sempre um Papo, Kiko Ferreira terá a companhia dos poetas Tonico Mercador e Thais Guimarães para falar sobre literatura, a produção em Belo Horizonte e bater papo com o público sobre seus livros. “Kiko trabalhou comigo quando fui diretor de redação da Revista Palavra e tenho uma amizade poética com a Thais”, afirma Mercador.
Segundo o publicitário, colocar a literatura em debate em iniciativas como a de hoje “é algo absolutamente necessário”. “Não fique procurando coerência na poesia, procure revelações”, indica.
Para Thaís, poder dialogar com os escritores será uma oportunidade valiosa, a começar pela crença na potência da poesia. “Não temos um roteiro prévio, o elemento surpresa também é característica do poético e certamente será o eixo da nossa prosa”, afirma.
A escritora diz que espaços que propõem esse diálogo entre as artes são fundamentais “em tempos duros, sombrios, e de grande impotência”. “A cada dia precisamos estar ao lado dos acreditam na democracia, dos antifascistas, antirracistas, anti-homofóbicos. A cada dia, precisamos falar de poesia”, acredita a escritora.
Neste sábado, antes da sessão de autógrafos de “Manual de Berros e a Poesia Físca”, uma performance literária reunirá poetas de BH na loja Acústica CD’s, na Savassi, de 12h às 14h. “São 15 artistas lendo poemas do livro e suas próprias coisas na rua, ao ar livre, de graça. Será uma semana de encontros especiais para mim, oportunidade de retomar esse contato olho no olho e reunir os amigos para ganhar força. Estou muito feliz”, comemora Ferreira. (BM)