
Leitura online de livros, jornais e revistas ganha mais impulso no Brasil
"Acredito na popularização do acesso à cultura, conhecimento e ao entretenimento por meio de canais digitais", diz especialista

Inclusão digital. O tema que vem mobilizando empresas, entidades sem fins lucrativos e poder público já há um bom tempo vem paulatinamente adquirindo mais tônus com fenômenos como o barateamento de alguns modelos de notebooks e de aparelhos celulares inteligentes, o que pode ser detectado também no Brasil, apesar dos diversos obstáculos que a realidade econômica do país impõe.
Dados da Anatel divulgados em novembro do ano passado, por exemplo, indicam que o Brasil terminou aquele mês com 232,1 milhões de celulares, ou seja, mais de um aparelho por habitante, considerando-se uma população de 212 milhões de pessoas. Pensando-se na maioria desses aparelhos como smartphones, conclui-se que um razoável contingente de brasileiros tem hoje, ao acesso de suas mãos, uma ponte rápida para o mundo digital. A questão passa a ser, então, a qualidade do que é acessado e consumido nesta navegação. E as vias que facilitam esse trânsitam.
Se as redes sociais "puxam" a atenção dos internautas, por outro lado há uma tendência de crescimento no interesse pela leitura, facilitado pelos novos modelos de distribuição, combinados à tecnologia, sustenta Renato Marcondes, diretor de novos negócios da Verisoft, empresa que disponibiliza produtos digitais para vários tipos de conteúdo de leitura, como livros, jornais e revistas. "A plataforma nos permite fazer a aferição tanto por título quanto por gênero", sustenta ele, revelando que, atualmente, os segmentos mais procurados ali são os de autoajuda, empreendedorismo, carreira e negócios. Não é, claro, uma notícia de todo a ser comemorada, visto que um dos gêneros considerados mais interessantes para a construção de repertório pessoal, articulação e abertura de canais para reflexão e geração de sentimentos como o da empatia, que vem ser o da literatura, não aparece nesta lista.
Por outro lado, o digital dá novo fôlego à leitura informativa, viabilizada por jornais e revistas. O jornal "O TEMPO", por exemplo, ocupou, segundo Marcondes, a 3ª posição no ranking de 2020 em audiência, ficando atrás somente dos jornais "Folha de S.Paulo" e "Estado de S.Paulo". "Acredito que é um canal de distribuição relevante hoje, que aborda um outro tipo de consumidor, mais dinâmico e que preza pela comodidade de consumir seu conteúdo preferido na palma da mão, com seu smartphone", diz ele, sobre este novo leitor. Confira, a seguir, outros tópicos abordados na entrevista.
Como analisa o avanço da leitura digital no Brasil comparado com outros países do chamado primeiro mundo, ou mesmo com nossos vizinhos da América do Sul, ponderando-se que, aqui, por conta da distribuição econômica absurdamente desigual, que marca o país há décadas, ainda há um contingente grande que sequer tem acesso a equipamentos que permitiriam essa leitura (mesmo smartphones)? Há uma tendência de aumento do acesso? Eu acredito na popularização do acesso à cultura, conhecimento e ao entretenimento por meio de canais digitais. Na minha visão, é preciso pensar em dois fatores quando analisamos a leitura: estímulo e acesso. Historicamente, o brasileiro não é incentivado a ler. Pelo menos, não da maneira correta. Por muitos anos, ler foi uma obrigação curricular nas escolas. Somente nos últimos anos estamos vendo uma tendência de mudança. Isso é uma coisa. O outro fator determinante, sempre foi o acesso. Mesmo com a imunidade tributária conferida aos livros no Brasil, até alguns anos atrás, um livro não era um item com preço atrativo, por isso, não era considerado essencial. E é aí que entra a transformação digital do setor de livros, jornais e revistas. Com aplicações como o AYA Books e o Claro Banca, as pessoas podem ter acesso a milhares de conteúdos, de forma prática e a um preço acessível. Esse é o sentido da inclusão digital, permitir que as pessoas tenham acesso a conteúdos antes inacessíveis e, sobretudo, dar a elas o direito de escolha sobre o que querem consumir.
Isso só é possível porque estamos inseridos em uma cadeia produtiva mais eficiente, com menos custos, o que nos permite alcançar um número maior de pessoas.. Considerando que o Brasil possui hoje mais de 230 milhões de celulares habilitados (mais de um por habitante) e que os preços dos smartphones estão cada vez mais acessíveis, nós acreditamos que há uma tendência de crescimento no interesse pela leitura, facilitado pelos novos modelos de distribuição, combinados à tecnologia.
Outro fator favorável é que em outubro de 2020 o número de celulares pós-pagos ultrapassou o número de pré-pagos, ou seja, as pessoas com celulares pós-pagos não ficam sem internet móvel ao longo do mês, então, quanto mais conexão, mais acesso aos conteúdos digitais. .
No tocante à verificação de leitura dos aplicativos, em que patamar está a literatura propriamente dita? Vocês fazem uma aferição por títulos ou por gênero? Quais os segmentos mais procurados? A Verisoft é a única empresa do Brasil que possui produtos digitais para todos os tipos de conteúdo de leitura: livros, jornais e revistas. Além disso, também trabalhamos com o formato de áudio livros. Nossa plataforma nos permite fazer a aferição tanto por título, quanto por gênero. O patamar de leitura depende do tipo de conteúdo, mas conseguimos medir a quantidade de acessos a cada conteúdo e o percentual lido de cada um. Os segmentos mais procurados em nossa plataforma atualmente são de autoajuda, empreendedorismo, carreira e negócios.
Temos visto que muitas revistas têm saído de circulação nos últimos anos. Mas, pelo que li no material de divulgação de vocês, há uma procura grande por elas. O digital seria uma espécie de tábua de salvação nesse caso? Não diria tábua de salvação. Acredito que é um canal de distribuição relevante hoje, que aborda um outro tipo de consumidor, mais dinâmico e que preza pela comodidade de consumir seu conteúdo preferido na palma da mão, com seu smartphone. Acho que as revistas estão encontrando novas formas de se adaptarem. O que importa para o consumidor de um título é o conteúdo segmentado, o estilo editorial, os jornalistas que colaboram com a publicação, enfim, é um conjunto de fatores, que na minha opinião vão muito além do formato em papel. O que importa é a forma como o conteúdo é “empacotado”, não como ele é lido.
Qual o público já consolidado neste segmento e qual o que pretendem conquistar mais de imediato? (falo de faixa etária, gênero e classe social) Temos uma abordagem que procura ser o mais abrangente possível quando pensamos no público que consome nossos produtos. Por exemplo, no caso dos livros, temos uma família de produtos chamada AYA, que atende alguns públicos diferentes. Temos o AYA Books, com livros para adultos de todas as idades, o AYA Books Kids, focado em crianças e jovens e o AYA Books Business, específico para o segmento corporativo. Nossos produtos abrangem pessoas de todas as classes sociais, gênero e idade, justamente, pensando em preços acessíveis e facilidade de acesso. Para nós, um usuário que acessa o produto com um smartphone Samsung J10 e aquele que o utiliza via um iPhone 12, possuem o mesmo valor e importância
Pode falar em particular da posição do jornal "O TEMPO" nessas plataformas? Há dados mais particulares? Como temos um volume grande de revistas e jornais e uma política de divulgação de todos os conteúdos, nossa audiência nos aplicativos Bancah, Claro Banca e Bancah Jornais é bem distribuída. O jornal "O Tempo", dentre os jornais de nossa plataforma, ocupa a 3ª posição no ranking de 2020 em audiência, ficando atrás somente dos jornais "Folha de São Paulo" e "Estado de São Paulo".
Atualmente, qual a menina dos olhos da plataforma? Com toda certeza é a família AYA. Temos muitos planos para a expansão dessa linha de leitura. Quando pensamos no estímulo à leitura, acreditamos num formato que chamamos de “Leitura Patrocinada”. Ainda que as diferenças sociais possam impedir o acesso de milhares de pessoas aos livros, porque uma empresa não pode oferecer livros como benefício para seus clientes, funcionários e para a comunidade à sua volta? Não posso revelar nada ainda, mas temos muitas parcerias sendo construídas nessa direção.
Li, no material da empresa, sobre a questão da diagramação de conteúdos digitais, que, pelo que aferi, é mais complexa, tendo em vista que ela deve se adaptar a diferentes tamanhos de tela. Pode me falar mais sobre isso? Em que estágio estamos? A adaptação do conteúdo ao tamanho de tela não é uma exclusividade do nosso segmento, mas é extremamente sensível para os nossos produtos. Por isso, nosso time de desenvolvimento está sempre avaliando novas tecnologias para garantirmos a melhor qualidade de leitura para os nossos clientes.
Além disso, cada conteúdo produzido precisa ser testado em inúmeros modelos de celulares e dispositivos de leitura, para garantirmos uma experiência com qualidade em todos eles. Entretanto, apesar de exigir uma diagramação mais complexa, cabe ressaltar que a cadeia produtiva do livro digital é mais barata, com uma distribuição maior, o que nos permite compensar os custos de adaptação do conteúdo para o formato digital.

