Leo Gandelman é incansável quando o assunto é música.
Desdobrando-se entre o estúdio e os programas de televisão “Vamos Tocar” e “Hip Hop Machine”, ele está sempre disposto a assumir novos desafios para trazer o universo instrumental para novas esferas.
"Desde o começo da pandemia, tenho tocado sozinho, em casa, compondo, treinando. Acordo todo dia motivado pela ideia de aprender mais do meu encontro diário com o instrumento. Mas sinto muita falta da troca com outros músicos, da troca com o público", conta o saxofonista carioca, 64, dono de uma vitoriosa carreira na MPB.
Mas a saudade de se apresentar ao vivo está prestes a ser saciada com o novo projeto, "Quadrilátero", que o músico, arranjador e produtor traz, a partir desta quinta-feira (29), para o palco do Centro Cultural Banco do Brasil, na Praça da Liberdade.
Idealizado por Gandelman e o produtor cultural Pablo Castellar, a iniciativa vai reunir, durante quatro semanas, uma série de shows com um quarteto de artistas da música brasileira – todos de quatro famílias de instrumentos musicais e estilos diferentes. A programação contará ainda com uma masterclass sobre saxofone, que será ministrada pelo próprio Gandelman.
Leo conta que o embrião do projeto nasceu de forma insólita há cerca de dez anos.
"Primeiro pensei em um quarteto. Depois em quatro quartetos. Em quatro cidades... Aí convidei meu amigo Pablo Castellar. Era 2011 e fomos contextualizando tudo e desenhando juntos até que chegamos no formato que decolou: quatro músicos que juntos representam uma família de instrumentos. Quatro quartetos que se apresentam em quatro cidades", relembra o saxofonista.
No palco, as apresentações serão dividias em: percussões (com shows de Pretinho da Serrinha, Marcelo Costa, Marcos Suzano e Robertinho Silva), saxofones (que conta com Leo Gandelman, Mauro Senise, Zé Carlos Bigorna e Nivaldo Ornellas), cordas dedilhadas (que traz Rogério Caetano, Luis Barcelos, João Camarero e Henrique Cazes) e cordas de arco (com Janaina Salles, Carla Rincon, Inah Kurrels e Jocelynne Huiliñir Cárdenas).
"São encontros inusitados. E todos os convidados ficam muto felizes com a ideia. Juntar, por exemplo, o Robertinho Silva com o Pretinho da Serrinha, é sensacional", festeja Leo, que revela também que ao fim de cada espetáculo, o público terá a chance de dialogar com os artista e aprender mais sobre cada grupo de instrumentos.
Para ele, o projeto representa não só a volta aos palcos após um exílio forçado de um ano por causa da Covid-19, mas também uma forma de renascimento para os artistas diante do público.
"Muitos dos instrumentistas que fazem parte do 'Quadrilátero' não tocam desde o início do ano passado. É um encontro de confiança e confiança é fundamental para a música fluir. Estamos muito felizes de levar esse encontro para Belo Horizonte, uma cidade fundamental para a história da música brasileira", completa o saxofonista.
Nivaldo Ornelas é um dos destaques do projeto
Entre os convidados de honra do projeto "Quadrilátero" está o compositor, flautista e saxofonista mineiro Nivaldo Ornelas. Com mais de 50 anos de estrada, o renomado músico falou ao Magazine sobre sua participação na série, revelou o repertório que vai mostrar durante os shows e ponderou sobre o futuro da música instrumental no País.
Esse projeto do Leo Gandelman promove o encontro itinerante de quatro artistas de estilos e famílias de instrumentos diferentes. Como recebeu o convite para participar dessa série?
Fiquei muito feliz e honrado com o convite do Leo Gandelman -– que, além de um amigo de muitos anos, é um artista respeitado com quem já trabalhei em outros projetos. Fiquei feliz de poder tocar também com o Bigorna e o Mauro Senise, que completam o quarteto de saxofones do evento. Eles também são amigos queridos de longa data!
Qual a importância desse tipo de iniciativa para o retorno dos músicos à rotina de shows presenciais?
O momento é delicado e ainda exige um esforço de todos neste sentido. Mas, sem dúvida, é um projeto muito relevante para a retomada dos shows presenciais e vale destacar todo o cuidado da produção e do CCBB em atender aos protocolos de segurança.
Qual o repertório que o senhor vai mostrar nesses shows?
Serão músicas do Leo Gandelman, de Ary Barroso e duas autorais (“Canção para Sandra e Isabela" e “Chuva de Agosto”) – então o público vai poder ouvir música instrumental contemporânea.
Recentemente o senhor comemorou 80 anos de vida e 50 de carreira. Como é viver parte de sua história pessoal dedicada à música?
A música para mim é uma missão. É uma forma de comunicação com as pessoas no sentido de levar uma mensagem de paz. Se eu puder tocar o coração do público com as composições que eu crio, então estarei feliz e com meu propósito cumprido.
O senhor é um dos mais respeitados instrumentistas do País. Como vê o futuro da música instrumental?
A música instrumental deve ser mais incentivada e de diferentes formas. Destaco, por exemplo, as músicas nas escolas (não só como disciplina, mas por meio de concertos que envolvam a juventude). Outra medida essencial para a difusão da música instrumental seriam as leis de incentivo à cultura (em âmbito municipal, estadual e federal). Temos que cuidar desse bem precioso da nossa cultura.
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Serviço
O quê: Projeto Quadrilátero 2021
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil, na Praça da Liberdade.
Quando: Shows acontecem nos dias 29, 30 e 1º de agosto, sempre às 20h. Já a masterclass com Leo Gandelman, ocorre no dia 31 de julho, a partir das 15h.
Quanto: Ingressos custam entre R$ 15 e R$ 30 e podem ser adquiridos pelo site Eventim