Encontro

Lilia Schwarcz lança 'Sobre o Autoritarismo Brasileiro' nesta quarta

A historiadora e antropóloga também vai participar de um bate-papo a ser realizado na Sala Juvenal Dias, no Palácio das Artes

Por Carlos Andrei Siquara
Publicado em 20 de agosto de 2019 | 03:00
 
 
 
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Desde meados de maio, quando “Sobre o Autoritarismo Brasileiro”, da historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, foi publicado, o livro permaneceu na lista dos mais vendidos durante semanas seguidas. A repercussão surpreendeu a autora, que compôs a obra a toque de caixa, tendo o resultado das eleições presidenciais de 2018 e o avanço do conservadorismo na política brasileira como algumas das principiais motivações para concluir o título.

“Eu nunca escrevi um livro tão rápido e tentei me despir muito do linguajar acadêmico sem simplificar demais. Mas havia pressa, porque tudo está acontecendo tão rápido no Brasil, e eu não imaginava que o livro fosse ter esse impacto. Eu queria atingir um público grande, para além da academia, o que para mim era algo muito importante”, diz Lilia, que é professora da Universidade de São Paulo e também em Princeton, nos Estados Unidos.

Em 2018, Lilia também inaugurou um perfil no Instagram e no YouTube, nos quais mantém contato direto com os usuários dessas redes sociais. Nesses espaços, ela compartilha comentários e entrevistas sobre temas em grande parte abordados em “Sobre o Autoritarismo Brasileiro”. A convite do Sempre um Papo, Lilia chegará nesta quarta-feira (21) a Belo Horizonte, onde vai lançar esse trabalho e participar de um bate-papo, a ser realizado na Sala Juvenal Dias, no Palácio das Artes. 

Para ela, a atuação nas redes socais, além de encontros como este na capital, tem sido necessária, especialmente tendo em vista a onda reacionária que invadiu o espaço público. “Eu acho que nós estamos em um momento de disputa das narrativas históricas, então é hora de nos manifestarmos publicamente”, reforça Lilia, que mantém no seu perfil do YouTube a seguinte descrição: “Espaço de descoberta e democratização da história”.

Lilia pondera que o jargão “é preciso entender o passado para compreendermos o presente”, na prática, não tem funcionado muito. Mas ela considera que recordar os acontecimentos passados pode contribuir para uma melhor percepção da responsabilidade requerida de todos nos dias atuais.

“Há um texto de Timoty Snyder, em ‘A Tirania’, que eu gosto muito. Nesse livro, ele chama a atenção que nós não somos nem melhores, nem piores que os homens e mulheres que viveram entre os homens do nazismo e do fascismo. Então, a memória é o que pode nos ajudar muito a não deixar que transformemos uma questão maior num possível bode expiatório. Lembrar o nosso passado é um exercício que pode nos fazer entender um pouco essa eleição de 2018. Ela foi não só uma realidade em si, mas um sintoma de algo mais profundo que existe entre nós”, observa a autora.

Certamente, Lilia toma como referência os direcionamento do governo de Jair Bolsonaro, mas, ao mesmo tempo, evita reduzir suas análises apenas à figura do presidente, não o citando diretamente, inclusive, nas páginas do livro. “A tese desse trabalho é que muitas vezes nós localizamos o autoritarismo no país em uma só pessoa ou um contexto. O que eu proponho é algo contrário disso. A ideia é que nós compartilhemos a responsabilidade de refletir como o Brasil sempre foi um país autoritário. Isso está na base, em suas estruturas. O livro tenta, assim, chamar a atenção para o modo como esse autoritarismo vem se atualizando no país”, diz.

Passado que mantém suas garras no presente

Lilia Moritz Schwarcz argumenta que buscou não conceber em “Sobre o Autoritarismo Brasileiro” um texto cujo mote fosse identificar no passado a origem dos problemas nacionais, pois isso poderia conduzir a uma visão distanciada, por exemplo, das consequências de mais de três séculos de escravidão no país. 

Em vez disso, ela articulou um pensamento que faz enxergar no presente a continuidade dos conflitos iniciados no período da colonização e que têm origem na força autoritária. “É possível vermos isso quando analisamos a escravidão e percebemos que fomos o último país a aboli-la e que vivemos em um racismo estrutural e institucional. É possível ver isso com os dois inimigos da República, que são justamente o patrimonialismo e também a corrupção. Nós herdamos e continuamos a manter muitos mandonismos”, conclui Lilia.

Agenda
O quê. Lilia Moritz Schwarcz participa do Sempre um Papo.
Quando. Nesta quarta (21), às 19h30.
Onde. Sala Juvenal Dias (av. Afonso Pena, 1.537, centro).
Quanto. Entrada gratuita.

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