Lançamento

Luiz Fernando Brandão lança romance 'Para o Bem ou Para o Mal'

O jornalista, tradutor e escritor aposta suas fichas no entrecruzamento de três brasileiros na mítica Índia

Por Patrícia Cassese
Publicado em 15 de junho de 2021 | 03:00
 
 
 
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O material de apresentação do livro "Para o Bem ou Para o Mal" (Gryphus, 172 páginas, R$ 44,90), do jornalista, escritor e tradutor Luiz Fernando Brandão, fornece, como de praxe, a condensação do que o leitor encontrará a seguir - no caso, uma narrativa na qual "os destinos e as peripécias de três protagonistas bastante prováveis na vida real se embaralham sutilmente". E complementa: "Por sorte ou azar, cada um com sua história, todos os três acabam fazendo na Índia o acerto de contas com o destino". 

Antes de prosseguir, vale falar um pouco mais sobre o autor. Carioca, Luiz Fernando Brandão construiu sólida carreira como executivo de comunicação empresarial. Mas, paralelamente, tratou de manter contato com a literatura (paixão que vem da infância) em trabalhos instigantes, como o de traduzir para o português obras de autores como Edgar Allan Poe, Jack London, Vladimir Nabokov e Tom Wolfe. Em 2017, resolveu firmar seu nome em um livro: "Triptik, Uma viagem na terra dos gurus e outras bandas". 

Para essa estreia no território da ficção, elaborou personagens como Diego Velásquez Caravaca, o "Flautista", um guru estabelecido em São Paulo que, apesar do sucesso, não passa de um legítimo picareta. Já Robert White Sherman é um alto executivo financeiro, diretor de um grande banco instalado Torres Gêmeas, em Nova York. Conhecido como “Matemático”, ele é flagrado pela narrativa em um momento de desencanto. O terceiro é Cátia Ferrão, jornalista fluminense que vai galgando posições até chegar ao cargo de vice-presidente de assuntos corporativos de uma poderosa multinacional do setor agroquímico, onde é conhecida como "Cigana”. Por motivos diferentes, como dito no início da matéria, os três vão parar na Índia: Flautista, por exemplo, quer fugir das consequências de um episódio envolvendo uma jovem seguidora que tem um desenlace trágico. 

Brandão conta que começou a engendrar o enredo exatamente após o atentado nas Torres Gêmeas - sim, há 20 anos. "À época, fiquei impressionado ao ler sobre a quantidade de casos de fraude enfrentados pelas seguradoras – prejuízos na casa dos bilhões de dólares. Rascunhei uma sinopse da história, que ficou 'amadurecendo' no computador até 2015, quando finalmente comecei a escrevê-la. Nessa época, tinha acabado de escrever 'Triptik' e estava em busca de editora, o que de alguma forma dividia minha atenção. Mesmo assim, escrevi o segundo livro praticamente de um só fôlego, em questão de seis meses: era como se a história estivesse guardada dentro de mim, apenas esperando a sua hora", relembra. 

Esse surto criativo, prossegue ele, o seguiu até quase o findar da trama, mas, de súbito, a inspiração se esvaiu ainda com a história inacabada. "Era como se os personagens, que haviam estado o tempo todo a meu lado, me ditando as palavras, não tivessem mais nada a dizer", rememora.

Passaram-se alguns meses antes de ele retomar o trabalho e concluir a história, mas, ao fim, o autor entende ter sido um processo bem fluido. "Espontâneo. Brinco que arrisca ter sido tudo psicografado", diverte-se.
Brandão entende que a obra propõe uma reflexão sobre a relativa fragilidade dos juízos humanos, "de nossas convicções". "Em cada um de meus anti-heróis tentei corporificar um arquétipo – no Flautista, o poder do carisma e da malversação da fé; em Cátia, a força da vontade e da ambição sem limites; no Matemático, a leviandade dos gênios  das altas finanças e sua absurda influência. Em certo sentido, a história gira em torno do poder e dos poderosos, na forma como é exercido na vida de todos nós e como influencia nosso destino. Para o bem ou para o mal".

O jornalista e escritor adianta que está rascunhando um terceiro livro, uma história que se passa em 2091 e que é narrada por um sujeito de 143 anos. Além disso, pretende publicar uma coletânea de artigos sobre comunicação empresarial publicados nos meados dos 2000, assim como um glossário de termos em sânscrito". Em tempo: ele é graduado instrutor no The Yoga Institute, em Mumbai, na Índia.

Confira, a seguir, outros trechos da entrevista

Você atuou três décadas no mundo corporativo. O que te fez dar essa parada, agora, se sentar e colocar suas ideias no papel? 
Quando executivo, sempre que me perguntavam sobre meus planos para o futuro, minha resposta invariável era de que seria escritor – desde bem cedo, quando descobri a leitura, já sonhava com isso. Ainda jovem, na cama, antes de dormir, gostava de ficar construindo e reconstruindo longos períodos, com as mesmas palavras. Coisa de doido... Ao encerrar a fase de executivo, reconquistei o tempo – esse bem precioso ao qual, com a idade, a gente dá cada vez mais valor – para retomar a atividade literária, a que já me havia dedicado, nos meados dos 1980, como tradutor e revisor.

O escritor é, antes de tudo, um leitor voraz (acredito). Quais são as suas leituras – digo, não agora, mas de formação? 
Desde menino tive em casa o exemplo de meu "velho", esse sim, um leitor voraz. Ele trabalhava como executivo numa multinacional e toda noite, após se recolher, dedicava horas à leitura – traçava um livro a cada três, quatro noites! Depois, quando se afastou da vida executiva, dedicou-se à tradução técnica, e era um bamba, o decano da profissão. Meus primeiros livros foram presenteados por ele, quase todos do Jules Verne, o genial precursor da ficção científica. Como meus pais tinham uma vida social bastante modesta e saíam muito pouco, por opção, me restava ler. Lembro bem das tantas vezes em que, entediado, chegava no velho e perguntava “Pai, que eu que posso fazer?” – e a resposta invariável: “Pegue um livro e leia.” E assim fiz... Sinceramente, foram tantos e tão diversos autores que fica impossível dizer os que ficaram mais gravados. Em cada fase da adolescência e depois, como adulto, eles foram se sucedendo. De uns dez anos para cá, tenho curtido muito a história da filosofia, os escritores clássicos (os russos e os franceses, sobretudo) e, mais recentemente, as narrativas que cobrem as décadas de 1920 em diante, aqui no Brasil – na minha época de estudante, pouco tratadas nas aulas de história.

Por último, como está sendo a pandemia para você, em termos de sentimentos e expectativas? 
Os últimos tempos têm sido de muito sofrimento para muitas famílias, mas também de aprendizados importantes para todos. Creio que só teremos uma visão mais clara e abrangente disso tudo daqui a um bom tempo; todas essas certezas, julgamentos críticos e disputas que hoje vemos esbanjados nas redes sociais me parecem prematuros, quando não descabidos por serem desprovidos de verdade científica. Tenho dúvidas sobre se em função da pandemia haverá ou não o tão falado reset, ou reinício, da trajetória da humanidade. Até porque o conceito de humanidade não deixa de ser bastante impreciso e, em muitos aspectos, inadequado – o fato é que somos, todos, espécimes de Homo sapiens compartilhando o mesmo hábitat planetário, e qualquer pretensão a algo mais sublime já envolve boa parcela de pensamento religioso.
Mas, de todo modo, essa pandemia trouxe à tona, de forma brutal, a “mãe” de todos os medos - o medo inconsciente da morte, que nos acompanha, nas sombras, desde o nascimento até o último alento. A filosofia Yoga ensina que o apego à vida (no sânscrito, abhinivesa), ou instinto de sobrevivência, é uma das cinco causas-raízes de todo nosso sofrimento. Aprender a conviver de forma mais amigável com esse medo e mesmo a superá-lo, por meio do discernimento correto e pela valorização do que realmente é importante em nossas vidas, não deixa de ser uma lição sempre oportuna que essa pandemia traz para todos nós.

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