Música

Cantora Cida Moreira: 'O Brasil está morto politicamente'

Atualmente, ela está em cartaz com homenagem a Sérgio Sampaio, que morreu há 25 anos

Por Raphael Vidigal
Publicado em 27 de setembro de 2019 | 17:20
 
 
 
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Convidada pelos músicos Lê Coelho e Ivan Gomes, a cantora Cida Moreira, 67, se prepara para voltar ao cartaz em novembro com o espetáculo “Boleros & Outras Delícias: Canções de Sérgio Sampaio”, em homenagem ao compositor capixaba, morto há 25 anos, que ficou conhecido pela contestadora “Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua”, feita no auge da ditadura militar, em 1972. Mas a canção não está no roteiro da apresentação em São Paulo. 

“O Sérgio ficou absolutamente desconhecido, outra vez. Fizemos uma enorme pesquisa e ensaiamos durante um mês, com o intuito de mostrar um pouco da grande música produzida por ele”, exalta Cida, que diz que “com tanta música que as pessoas não conhecem, não há a necessidade de cantar 'Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua'”.

O repertório, com 22 canções, passa por “Cruel”, “Magia Pura”, “Real Beleza”, “Quero Encontrar um Amor”, “Feminino Coração de Deus”, “Tem Que Acontecer”, “Que Loucura”, “Na Captura”, “Só Para o Seu Coração”, “Velho Bode”, “Tolo Fui Eu”, “Quem É do Amor”, “A Luz e a Semente”, “Não Tenha Medo Não” e “Dona Maria de Lourdes”, revelando um compositor sensível que dominava gêneros tão distintos quanto rock, baião, samba, choro, seresta e fox.

Cida conta que conheceu Sampaio pessoalmente “por aí, entre São Paulo e Rio de Janeiro”. “Somos da mesma geração. Ao lado de Raul (Seixas), ele pertence a uma safra maravilhosa de roqueiros. O Raul é o que ficou com mais nome, inclusive por uma questão de personalidade. O Sérgio era escondido, tímido, não ficava fazendo firula, nem tinha a fissura de fazer sucesso que o Raul tinha e conseguiu atingir, por isso a obra dele ficou meio restrita à geração que o conheceu”, lamenta.

Embora tenha a intenção de registrar a homenagem, a intérprete admite que o cenário não é favorável. “Está inviável, a realidade é outra”, constata ela, que percebe uma conotação política em todas as canções de Sampaio. “Mas não nos preocupamos com esse assunto, o nosso trabalho é a música, que fala por si. Esse discursinho político na música está antigo, e não corresponde mais à realidade. O Brasil está morto politicamente, inerte, ninguém faz nada a não ser ficar se masturbando com a política no Facebook. Nós, artistas, estamos tentando continuar vivos”, desabafa a cantora.

Ela aproveita o ensejo para comentar a mais recente entrevista de Milton Nascimento à Folha de São Paulo, quando ele declarou que “a música brasileira está uma merda”. “Ele está certo e não está, é um exemplo claro de tudo o que pode acontecer de bom e o que não pode acontecer. Quem consegue chegar lá, esquece que existem outras pessoas”, encerra.

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