O desejo de levar seus versos para um número maior de pessoas uniu as poetas mineiras Andrezza Xavier, de 26 anos, Juliana Tolentino, de 25, e Lara Passos, de 23, que se apresentam nesta quarta-feira (17) pela primeira vez como Coletivo Cajila Laboratória, no Centro Cultural UFMG. A estreia marca o primeiro de nove encontros a serem realizados a partir deste mês. Batizado “Sarau Poesia Temporal: Espelho”, esse primeiro trabalho terá como tema principal o jogo de alteridades que permeia os textos das três escritoras.
“Nós vamos trazer alguns textos que abordam a questão de como olhamos para nós mesmas diante da sociedade e como ela nos enxerga de volta. Nós partimos de uma reflexão sobre nós, a partir dessa metáfora do espelho, mas também vamos estar atentas à perspectiva do outro”, diz Andrezza.
Para ela, em torno dessa temática, poderão ser identificadas outras subjacentes, como a questão do empoderamento feminino. “Nós queremos discutir como nossos corpos são vistos pela sociedade, como ela nos julga. Então, vamos trazer também para o centro de nossas falas algumas considerações sobre o machismo, pensando em como podemos questionar algumas perspectivas dominantes, com o intuito de oferecer outros pontos de vista. Acho que podemos trazer um olhar mais afetuoso para nós mesmas. Queremos que as pessoas possam também refletir sobre o papel que elas exercem na sociedade”, completa a jovem poeta.
Neste primeiro momento, Andrezza observa que elas deverão contemplar apenas textos autorais, mas a ideia é, a partir dos próximos encontros, abrir espaço para autores e outros artistas convidados. “Como esta será nossa primeira apresentação, queremos mostrar nosso trabalho. Mas queremos também convidar outros artistas, tanto da música quanto da dança e do teatro, para dividir isso conosco. A ideia é criar um ‘aquilombamento’ de mulheres negras”, frisa.
Ao comentar as ações do coletivo, Andrezza observa que as três compartilham afinidades, mas cada uma desenvolve uma pesquisa individual.
“Nós somos muito parecidas em alguns aspectos, mas, em outros, somos bastante diferentes. Acho que em comum temos o interesse de tecer reflexões a partir de nossas vivências. A escrita é certamente o que nos une, além dos laços com a percepção de todas nós como mulheres negras e do constante pensamento sobre o lugar da mulher negra na sociedade, de sua luta. Temos uma postura contra o racismo e estamos juntas por uma sociedade mais igualitária”, afirma a poeta.
Projetos
O nome do coletivo, explica a integrante Lara Passos, é uma palavra de origem afro-brasileira que significa “aquilo que traz sorte”. Ela reconhece essa escolha como algo oportuno para pensar as atividades futuras do grupo, que terá a poesia como norte, mas em diálogo com outras linguagens.
“Nós esperamos que o ‘Sarau Poesia Temporal’ represente um respiro para nós, mas também para todas as outras pessoas que queiram fazer parte desse projeto, seja como espectadores dos nossos encontros ou como participantes, somando olhares junto ao nosso trabalho”, pontua Lara.
“Acho que o que mais queremos com o sarau é que ele se constitua como um espaço de liberdade, para que possamos criar e expor as mais diversas formas de arte, que, inclusive, podem transitar pelo audiovisual, pela performance e pelo teatro”, acrescenta ela.
O próximo encontro do Coletivo Cajila Laboratória está agendado para o dia 29 de maio. A previsão é que o evento continue acontecendo às quartas-feiras.
Saiba mais
As poetas Andrezza Xavier, Juliana Tolentino e Lara Passos conheceram-se no sarau Preta Poeta, realizado por alunas da UFMG. De lá para cá, elas passaram a frequentar outros projetos espalhados pela cidade antes de criar o Cajila, que surgiu no ano passado, mas inicia as ações agora em 2019.
Agenda
O quê
Coletivo Cajila Laboratória estreia “Sarau Poesia Temporal: Espelho”.
Quando
Quarta (17), às 19h30.
Onde
Centro Cultural UFMG (Av. Santos Dumont, 174, centro).
Quanto
Entrada gratuita.