Em defesa dos mais fracos

Criolo apresenta sua versatilidade politizada em show em Belo Horizonte

Dominando diversos estilos musicais, artista se apresenta neste sábado, a partir das 23h, no KM de Vantagens Hall.

Por João Renato Faria
Publicado em 08 de novembro de 2019 | 03:00
 
 
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Quando lançou “Boca de Lobo”, em outubro do ano passado, o cantor Criolo imaginou que estávamos vivendo o momento mais crítico do país até então. O clipe da música, com estilo cinematográfico, tem diversas referências a tragédias e ao cenário político conturbado daquela conjuntura. Entre as menções estão os incêndios de um prédio ocupado em São Paulo e do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, o rompimento da barragem da Samarco, em Mariana, na região Central de Minas, e a famigerada “farra dos guardanapos”, uma festa nababesca bancada com dinheiro público pelo ex-governador do Rio Sérgio Cabral – que está preso.

Um ano depois, ele está dividido entre a indignação com o atual momento político do país e a esperança de dias melhores. “Estamos muito piores, vivemos hoje um apocalipse total. Mas temos uma resistência que a sociedade vem apresentando, de uma luta por igualdade social”, avalia. 

É embalado pela turnê de divulgação deste trabalho que ele se apresenta amanhã, a partir das 23h, no KM de Vantagens Hall. No palco, ele é acompanhado pelo DJ DanDan, velho parceiro musical, e por um trio de multi-instrumentistas composto por Bruno Buarque, Dudinha e Daniel Ganjaman – que também assina a direção musical do espetáculo. Ao vivo, o resultado é um híbrido entre o som orgânico e o eletrônico.

Mote do show, “Boca de Lobo” marcou o retorno de Criolo ao rap, após uma incursão pelo samba no disco “Espiral de Ilusão”, lançado em 2017. Mas o irrequieto cantor detesta se prender a rótulos musicais. A prova dessa versatilidade é a canção “Etérea”, divulgada em fevereiro e que representa uma incursão, até então inédita no repertório do cantor, na música eletrônica. Com uma letra que fala sobre inclusão do público LGBTQ+ e a violência que essas pessoas sofrem, a faixa foi indicada ao Grammy Latino de melhor canção em língua portuguesa. 

“‘Etérea’ foi colocada em um momento de extrema importância, em que a Justiça ainda estava decidindo se iria categorizar como crime a violência que sofre, de modo cruel, a comunidade LGBTQ+”, pontua Criolo. Ele se refere à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de aprovar a criminalização da homofobia, em junho. “A canção veio ao mundo para realmente questionar a sociedade e tentar, por meio da arte, trazer um acalanto, um abraço, um jeito carinhoso de sugerir que existe um olhar mais sensível em relação a esse tema, que é tão urgente”, completa.

Aprendizados

O tom politizado não é novidade para o público que acompanha a carreira de Criolo. Por outro lado, a sonoridade eletrônica, explica ele, é consequência de suas vivências em bailes de rua no bairro Grajaú, na zona Sul de São Paulo, onde ele cresceu. Nesses eventos, os DJs misturavam, sem preconceitos, estilos variados como samba e rap com subgêneros eletrônicos como house e drum’n’bass. A sequência eclética era interpretada pelo pequeno Kleber Cavalcante Gomes – seu nome de batismo – como uma grande aula.

“Lá na quebrada a gente curtia tudo junto, não tinha preconceito. Esses DJs de rua me deram minha primeira formação musical. Ninguém tinha dinheiro no bolso, mas, por meio da música, eles botavam a gente para viajar para outros países e culturas”, recorda o cantor. “Dividindo esse conhecimento, eles ensinavam para a gente assuntos como geopolítica, economia, história da arte. Isso fez total diferença para mim”, avalia. 

O repertório da noite, aliás, é a prova de que Criolo transita bem por diversos estilos. Além das duas canções já citadas, o set list deverá contar com pedradas como “Não Existe Amor em SP”, “Convoque seu Buda” e “Grajauex”. 

Expectativa

Empolgado com a apresentação na capital, ele relembra que sempre teve uma boa recepção das plateias mineiras. “Quando comecei, cerca de 15 anos, fazia shows para 30 ou 40 pessoas, e o público sempre foi maravilhoso. Tenho certeza de que, dessa vez, não vai ser diferente”, afirma.

Criolo, aliás, pede para o público chegar cedo e prestigiar o grupo que vai fazer o aquecimento do espetáculo. É que cinco cantoras do hip-hop belo-horizontino criaram, especialmente para a abertura, o grupo Fenda. A formação conta com Iza Sabino, May, Paige, Laura Sette e a DJ Kingdom. “São mulheres maravilhosas, que estão preparando uma apresentação espetacular. Estou muito curioso para ver de perto”, conclui.

Serviço

O quê. Show com Criolo.
Quando. Neste sábado, às 23h.
Onde. KM de Vantagens Hall (avenida Nossa Senhora do Carmo, 230, São Pedro). 
Quanto. Ingressos a partir de R$ 40, com meia entrada social mediante doação de 1 kg de alimento não perecível no dia. 

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