Difícil expressar no papel a energia que emana da coreógrafa Deborah Colker. Sua fala apressada deixa transparecer o fato de que as palavras não acompanham o ritmo do seu pensamento. A carioca começa um assunto, emenda numa lembrança, volta ao início e, por vezes, se perde no tema, tal a intensidade de suas ideias.

O sucesso de Deborah, que assina espetáculos de dança aclamados no Brasil e no exterior, apenas reflete a paixão que ela sente pelo trabalho que realiza. Justamente por isso, ela foi convidada para criar e dirigir um espetáculo na maior companhia circense do mundo, o Cirque Du Soleil. É a primeira mulher à frente de um show do grupo.

“Ovo” é um espetáculo que está percorrendo o mundo desde 2009 e já foi visto em diversos países de cinco continentes. Apesar de ter alma brasileira, somente em março de 2019 ele chegará ao Brasil. A turnê começará no dia 7, em BH, e passará ainda por São Paulo, Rio e Brasília. “O brasileiro vai achar que o espetáculo é dele. Vai se apropriar de algo que é dele”, fala Deborah a O TEMPO. “O show é nosso!”, complementa.

A coreógrafa afirma que o público vai ter essa sensação de posse do show, porque é perceptível que ela criou, estudou e experimentou o universo de “Ovo” aqui no Brasil. “Fui muito honesta em trazer essa energia brasileira”, diz Deborah, que convocou os já parceiros Berna Ceppas, compositor, e Gringo Cardia, cenógrafo, para ajudarem na concepção do espetáculo. Por “honestidade”, Deborah quer dizer “sem estereótipos”. A brasilidade em “Ovo” não fica restrita à trilha sonora. Ela está inserida no tema, que foca a ecologia e a natureza.

No palco, Deborah transforma os artistas em insetos. São aranhas contorcionistas, pulgas acrobatas, formigas malabaristas, grilos dançarinos… Para integrar os movimentos dos insetos aos do corpo e às técnicas circenses, Deborah trabalhou por três anos e condicionou a equipe toda – que reúne profissionais de todo o mundo – a seu ritmo de trabalho, conquistando o respeito e compartilhando sua paixão.

“Levei para o Cirque o meu dia a dia, a minha maneira de trabalhar, o meu rigor, a minha disciplina, a minha experimentação e a minha paixão”, afirma. “É o meu processo de oito horas diárias de trabalho, estudando o corpo, construindo o corpo, construindo os gestos, construindo os pensamentos neste corpo. Quando isso tudo cresce, se transforma em um espetáculo, não importa se é para minha companhia de dança ou para o Cirque Du Soleil. Se é para uma equipe de poucos bailarinos ou para um grupo de mais de cem artistas”, explica.

A única diferença que Deborah vê no trabalho que realizou no Cirque é a questão operacional. Enquanto o espetáculo de dança acontece em cima do palco, o show do Cirque tem outra dimensão. “Tem de coordenar o que acontece em cima do palco, embaixo dele e também o que voa sobre ele”, brinca.

Coreógrafa cria espetáculos para o mundo todo ver

Além do Cirque Du Soleil, Deborah recebeu convites de outras companhias internacionais para realizar trabalhos grandiosos. Em 2006, ela uniu bailarinos brasileiros e alemães no espetáculo “Maracanã”, que fez parte da mostra cultural da Copa do Mundo da Fifa de 2006, na Alemanha. No palco, 16 dançarinos se movimentavam como se estivessem em uma partida de futebol.

Em 2014, ela remontou seu famoso espetáculo “Nó”, a convite do Ballet de L’Opera Nacional Du Rhin, num teatro francês. Já em 2016, Deborah foi a responsável pelas coreografias dos shows das cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos, realizados no Rio e transmitidos mundialmente.

Sertão. O poema “Cão Sem Plumas”, de João Cabral de Melo Neto (1920-1999), publicado em 1950, é a base do espetáculo homônimo que a Companhia Deborah Colker estreou neste ano. A coreógrafa percorre o curso do rio Capibaribe, em Pernambuco, para mostrar a pobreza e a força da população ribeirinha, que sobrevive ao descaso dos governantes e das elites. Em “Cão Sem Plumas”, ela repete a parceria com o compositor Berna Ceppas e o cenógrafo Gringo Cardia, com quem trabalhou no espetáculo “Ovo”.

Agenda

O quê. “Ovo”, do Cirque Du Soleil

Quando. De 7 a 17 de março

Onde. Mineirinho (av. Antônio Abraão Caram, 1.000, São Luís)

Quanto. De R$ 130 a R$ 550