Maria Rita, 42, não força a barra quando diz que passou “muito mal de emoção”. A expressão é literal. “Me escondi no banheiro, porque achei que fosse desmaiar”, conta. O apuro aconteceu na cerimônia de entrega do Prêmio da União Brasileira dos Compositores (UBC) para Milton Nascimento, laureado pelo conjunto da obra na sede da associação, no Rio de Janeiro, em outubro.
Durante a homenagem, Maria Rita cantou “Morro Velho”, lançada no primeiro álbum de Bituca, em 1967. “Essas composições mexem muito comigo. Sou suspeita para falar do Clube da Esquina, tenho um envolvimento próximo, e essa atemporalidade das canções me choca até hoje. É arrebatador”, enaltece. Há cerca de sete anos, a intérprete gravou, com Seu Jorge, uma versão para “Vento de Maio” (Telo e Márcio Borges), eternizada no canto de Elis Regina. O dueto chegou à internet em abril.
“Essa história é muito louca. Gravamos a faixa quando eu estava amamentando a minha filha, e é uma música que a minha mãe gravou, então tem uma alegria quase inexplicável”, destaca Maria Rita, que estende os elogios para Seu Jorge. “Ele tem uma característica muito singular, você percebe no olhar dele, que é a intensidade de uma pessoa que viveu muito”, afirma.
Show. São canções que Maria Rita “gosta de cantar pela casa” que estarão presentes no show “Voz: Piano”, que ela apresenta neste sábado (2) em BH, ao lado de Rannieri Oliveira. O espetáculo nasceu há oito anos. “Tem um pouco de tudo, e acaba trazendo um tom de intimidade que é diferente do que o meu público está acostumado a ver. O repertório já rodou muito. Existem músicas que sobrevivem, aquelas velhas de guerra, mas eu mudo o roteiro o tempo todo”, admite. “Canto coisas que nunca gravei, tem muito do que eu estou sentindo no momento”, completa.
O formato despojado é outro ponto destacado. “Não tem cenário, é um pano preto no fundo. São só os dois músicos com uma iluminação bonita no palco, e eu cuido disso com muito zelo”, garante. Essa atmosfera, para ela, privilegia a reflexão. “É um show muito silencioso, e, no meu entender, é no silêncio que a gente faz os mergulhos mais importantes e tem a possibilidade de acessar sentimentos, histórias e lembranças”, observa.
Irmão mais velho de Maria Rita, João Marcello Bôscoli acaba de lançar “Elis e Eu”, livro de memórias sobre o relacionamento dele com a mãe. Mas a entrevistada não pretende seguir o mesmo caminho. “Tenho zero lembrança da minha mãe, e o pouco de relacionamento que tenho com ela é meu. Já falo bastante dela nas entrevistas e tomei muita porrada de gente ignorante. Quase abandonei a carreira por conta disso”, revela.
Serviço. Show de Maria Rita, neste sábado (2), às 21h, no Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro). De R$ 70 (meia) a R$ 240