Disco

Música que toca o mundo

Saxofonista Leo Gandelman conta com Julio Bittencourt Trio em dez releituras instrumentais dos Beatles

Por Thiago Prata
Publicado em 24 de dezembro de 2018 | 03:00
 
 
 
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O primeiro contato do saxofonista e produtor musical Leo Gandelman, 62, com a obra dos Beatles se deu na infância, por meio da irmã mais velha – uma “beatlemaníaca”, segundo o instrumentista. Mas sem aquela sensação de “amor à primeira vista”.

“Não fui exatamente um ouvinte (dos Beatles) na juventude. Comecei a ouvir com carinho mais recentemente, pesquisando os arranjos, que são belíssimos e muito bem cuidados”, relata o compositor. “Os discos que mais ouvi foram ‘Sgt. Pepper’s’ (1967) e o ‘Álbum Branco’ (1968)”, complementa.

A ideia de confeccionar uma bolacha com músicas do quarteto de Liverpool – intitulado “Yellow Saxmarine” e lançado recentemente – surgiu de um encontro com o grupo Julio Bittencourt Trio, numa pousada em Visconde de Mauá, no interior do Rio, durante o Carnaval de 2016.

“Eu tinha encerrado minha temporada no clube de jazz (na pousada), e aí vieram os shows do Julio Bittencourt Trio no clube. Eles me convidaram para uma canja, e começamos a tocar músicas dos Beatles. Senti ali uma química legal e falei com eles que poderíamos fazer um trabalho com músicas dos Beatles. Tivemos a chance de fazer mais shows espetaculares que fortaleceram essa ideia”, diz.

Essa sinergia resultou em dez temas instrumentais, entre eles “Eleanor Rigby” – do álbum “Revolver” (1966) –, “Drive My Car” – de “Rubber Soul” (1965) – e “Ticket to Ride” – de “Help!” (1965).

“Não houve um critério para a escolha das músicas, além do fato de tocar as que mais gostávamos e, naturalmente, não escolher músicas óbvias. E escolhemos as que mais se integravam com a linguagem que a gente mais trabalha, que é a música improvisada”, conta o saxofonista.

“Yellow Saxmarine” viaja pelos territórios do jazz e do pop, como destaca Gandelman. Nessa transição, o saxofone reproduz as linhas vocais das canções originais em vários momentos. “O negócio de fazer música dos Beatles é que ela toca uma parte do subconsciente das pessoas. Então, nos shows, as pessoas começam a cantar, e fica tudo muito interativo. Acho que tocar os Beatles é tocar o mundo”, enfatiza.

Curiosamente, a faixa “Yellow Submarine” não faz parte do repertório, apesar do trocadilho no título do álbum e na referência na capa. “O nome veio de uma brincadeira, não tínhamos um compromisso com um disco dos Beatles. Eu estava no telefone, enquanto desenhava um sax que parecia um submarino e falei: um ‘yellow saxmarine’ (risos)”, relembra Gandelman.

Televisão. Atuante no mercado musical há mais de quatro décadas, incluindo 31 anos dedicados à carreira solo e a assinaturas como produtor em álbuns de artistas como Marina Lima e Gal Costa, Leo Gandelman acumula ainda a função de apresentador do programa “Vamos Tocar”, do canal Bis.

“‘Vamos Tocar’ é um marco na minha carreira de transição e está entrando na quarta temporada. Vivemos uma era em que as pessoas têm interesse em assistir e não apenas ouvir a música”, ressalta. No programa, o saxofonista recebe artistas para bate-papo e jams.

 

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